12/06/08

Uma questão de raça

O termo raça veio no momento certo. A situação do meu país não está para graças e se não temos a certeza de que raça somos, pode-nos sair caro. Primeiro foram os médicos, a seguir os professores, logo depois os reformados e agora os camionistas. A questão é que a malta da pesada não deixa a coisa por mãos alheias e muito burburinho se adivinha por aí. Desta vez, nem o futebol nos vale para fazer esquecer a pergunta que nos fazemos diariamente: "Isto bateu mesmo no fundo, não acham?"
Daí que ao apelar aos emigrantes de sucesso para que invistam ou regressem ao seu país faça todo o sentido e seja uma questão de raça. É que convém não esquecer que no passado eram as receitas dos emigrantes que nos ajudavam a equilibrar a balança de pagamentos e era essa raça de gente que ao trabalhar nos países que lhe davam melhores oportunidades, enviava regularmente as suas poupanças para os bancos portugueses fazendo engordar os cofres de uns e ajudando a bolsa de outros.
Os emigrantes foram sempre vistos como solução de recurso para os governos em desequilíbrio. Só que nessa época os portugueses conheciam o conceito de pátria. Hoje, somos cidadãos do mundo e somos membros de uma comunidade de vários estados. No momento em que ensinamos aos portugueses o ideal da Comunidade Europeia, criamos um conjunto de pessoas que não sente obrigação ou dever em regressar a Portugal, a investir ou a enviar poupanças.
O emigrante deixou de o ser quando passou a poder trabalhar, entrar e sair livremente em qualquer país da comunidade. A abolição de fronteiras na Europa e a globalização fizeram o resto. Claro que mantemos o sentimento do que é ser português, mas não temos de ficar por cá quando podemos entrar e sair livremente. No passado só emigrava quem não tinha condições no seu país. Hoje já assim não é.
Só em Portugal é que se pensa que os emigrantes ainda continuam a querer voltar, construir a sua casa ou o seu negócio. Só em Portugal é que se pensa que os portugueses que vivem no exterior, são emigrantes que continuam a querer programas de televisão com fado, futebol e telenovelas. Só em Portugal é que se pensa que tudo o que os emigrantes querem é clubes recreativos, procissões e sardinha assada. Só em Portugal é que se pensa que os portugueses apenas se divertem com os concursos de misses e com os shows dos artistas populares. Esse tempo já foi!
Portanto, se queremos apelar ao investimento de portugueses com sucesso no estrangeiro, que aliás só agora descobrimos que existiam, temos de incentivar em primeiro lugar os que cá estão para que havendo expectativas de negócio outros, portugueses ou estrangeiros cá queiram investir. E aí sim, podemos redefinir o conceito de raça.

1 comentário:

osátiro disse...

Se atendermos às condições de vida dos emigrantes nos primeiros tempos no estrangeiro-bidonvilles-, então são portugueses de raça!