04/08/08

Domingo à tarde II

Numa época em as pessoas se habituaram a lidar com o trabalho e o lazer de forma planificada, ninguém se lembra de como era o dia a dia há uns anos não muito longínquos. As horas de trabalho semanais eram bem mais longas e até muito próximo do 25 de Abril -referência para muitos- as empresas e escritórios funcionavam ao sábado e as pessoas trabalhavam todo o dia. Com a chegada da "semana americana"alguns passaram a ter o sábado à tarde e o domingo, enquanto os restantes continuavam trabalhar durante todo o dia de sábado, descansando ou folgando ao domingo.
O domingo representava o dia de paragem, e era ao domingo à tarde que a generalidade das pessoas podia usufruir de descanso. O lazer do domingo à tarde dependia das possibilidades de cada um, e possibilidades naquela época significava classe social. O domingo de manhã começava para a maioria com a ida à missa, seguida do almoço. Para os da "semana americana", a missa era seguida do almoço que as criadas tinham cozinhado, enquanto que para os outros era seguido da refeição que um deles tinha feito depois da missa. Elas, as criadas, também já tinham ido à missa mas tinha sido às 6 ou 7 da manhã. Os patrões iam à missa do meio dia. Os jovens mesmo que se tivessem deitado às quatro da manhã - não pela discoteca que isso não havia, mas por terem estado a falar com os amigos noite fora, discutindo filosofia e mudando o mundo, a troco de uns cigarros roubados e umas músicas mais modernas - tinham de se levantar para assistir religiosamente à cerimónia com a família.
Lembro-me que quando começaram as missas dos sábados à tarde, e que "contava" para substituição da de domingo ter sido um contentamento lá em casa. No início a minha mãe achava que aquilo não tinha o mesmo significado, além do mais, já não estávamos em jejum para a comunhão. Mas a partir de certa altura, ela própria dizia "vamos à missa das 7 no sábado à tarde, que já ficamos despachados". Eu sempre achei esta característica da minha mãe muito divertida. Se era para despachar alguma coisa, fazia-se. E nós apreciávamos e incentivávamos esta generosidade materna, apesar dos acólitos do meio dia serem muito mais giros!
Com a "missa para despachar", passamos a ter outros programas que vieram substituir o almoço seguido de passeio pela marginal até ao Guincho ou a Sintra com paragem no "Preto das queijadas", ou apenas a Belém porque já era tarde. De vez em quando o meu pai achava que podíamos ir lanchar mais longe, para desassossego da minha mãe porque íamos regressar muito tarde para o jantar, para além dela achar que o meu pai se punha ao volante para nunca mais parar. Chegamos a ir lanchar a Évora.
Por outro lado, as nossas criadas, pertenciam à casa e tinham 2 ou 3 horas para passear com o seu magála e ouvir Nelson Ned, enquanto faziam horas para regressar e fazer o jantar. Mas também para elas os tempos iam sendo melhores, com mais lazer, tinham melhorado! Até aí, acabadas de chegar da aldeia iam passear connosco, levando-nos ao jardim e continuando o trabalho da semana no jardim com "os meninos". É claro, que tendo chegado da aldeia, era um mundo diferente que elas consideravam luxuoso. No fundo todos se divertiam de forma muito ingénua e simples, sem grandes exigências ou extravagâncias e agradecendo o que havia.
Os tempos eram bem diferentes e hoje, que nos queixamos que o tempo não chega para nada e que reivindicamos lazer com qualidade, deveríamos pensar que todos, incluindo patrões e criadas passámos a utilizar as nossas horas à medida dos nossos desejos e de forma bem diversa. Umas vezes com coisas que nos dão mais prazer, outras com menos. Podemos ter perdido coisas importantes da estrutura familiar, mas temos obrigação de saber escolher ou reeducar a relação trabalho/lazer e depois trabalhamos porque também nos diverte o que fazemos, mesmo com as dores de cabeça e um blogue pelo meio.

3 comentários:

Anónimo disse...

Hum... faltam os bailes dos bombeiros e os "slows" dançados com os pares favoritos... :) :) :)
(Bolas, só me dá para rir... deve ser da silly season... peço desculpa, Grande Jóia)

Lina Arroja (GJ) disse...

Esse é o espírito rir :):):)
Bailes dos bombeiros:) boa ideia

Anónimo disse...

... uff... estou desculpado. (risada)