11/08/08

Entre o vidro e os espelhos

A blogosfera é uma pequena cidade virtual com bairros, jardins, lojas, teatros e cinemas, bibliotecas e livrarias, pessoas, coisas e loisas. Tal como acontece com outras cidades, gostamos mais de umas, detestamos outras. Visitamos certos locais, uns por rotina ou por gosto, outros porque sabemos que ali encontraremos sempre alguma coisa que nos sirva, passamos por outros só por curiosidade. Recomendamos aos amigos, recordamos os aniversários, contamos histórias que ouvimos, lemos os livros que nos recomendam, entramos e tomamos um café, pomos a conversa em dia.
Há dias em que nos vestimos melhor e gostamos mais do que vemos, outros em que se não fosse a superstição partíamos os espelhos que dão valor à imagem. Uma coisa sabemos, uma vez dentro, sair é difícil porque os amigos ou a comunidade não deixa, porque nos sentimos obrigados a cumprir uma missão, porque temos gozo no que fazemos. E, sempre no mesmo lugar, vamos dizendo olá, refazemos as histórias e a história, criamos amores e desamores, levamos e trazemos pequenos ódios e raivas de estimação, voltando no dia seguinte, para fazer as pazes com o dono da loja ou com a vizinha que, por um instante, nos estragou o estaminé com um anúncio publicitário. Respondemos com um teaser com o objectivo de manter a clientela e angariar novos curiosos.
Como os espaços e as cidades não vivem sem a alma das gentes, temos de agradecer a todos os que nos visitam e nos ajudam a manter as lojas com artigos interessantes, as galerias com exposições para visitar e pessoas para encontrar. Entre vidros e espelhos, entram visitantes de muitas cores que deixam e levam lembranças pertencentes a muitos lugares.
A minha loja não teria passado de anteprojecto, se a minha amiga Miss Pearls não a tivesse visitado logo no dia da pré-inauguração. É que ainda os preparativos estavam no ar e já a ela se afirmava adepta do espaço, confiante na dona da loja e desejosa de a recomendar aos amigos. Sabendo-me pessoa curiosa, pouco dada a reconhecimentos públicos e com pouco a acrescentar a algo que já outros tivessem dito, achou por bem "obrigar-me a continuar". Longe dos olhares e dos ouvidos dos mais próximos, por serem eles os nossos maiores críticos, mas também por ser deles que esperamos o reconhecimento e a apreciação do que fazemos, o anteprojecto passou a projecto, a inauguração foi feita, até porque no fim de contas, os vidros partem-se, segredos leva-os o vento e os espelhos não roubam a alma.

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