21/10/08

Pôr em comum

Quando os meus filhos andavam na primária, agora o 1º ciclo, havia um dia por semana para falarem sobre diversos temas. Era um momento de grande importância para os pequenitos que sentiam a responsabilidade de perante os colegas e a professora, responderem a perguntas, questionarem os outros, serem questionados e acima de tudo aprenderem a ser tolerantes uns com os outros. Este espaço era de tal forma levado a sério que um dos meus filhos - hoje um jovem e responsável médico - ficava com "tonturas" até eu perceber que eram sempre na véspera dum determinado dia da semana. Foi assim que entendi a raiz do problema, e o que era afinal o "pôr em comum". Quero eu dizer, que "é de pequenino que se torce o pepino", ou seja que é no berço que se passam as ideias fundamentais de liberdade, de respeito, de compreensão, de tolerância, e também se ensina a dizer não a sistemas totalitários e a ideias impostas pela prática da repressão. E a propósito destes princípios escolhi hoje no Público, os textos de:
"Filosofemos" de Desidério Murcho ("...mas os filósofos são os primeiros a não aceitar as ideias uns dos outros e a criticá-las cuidadosamente. Pensar que não podemos fazer o mesmo é pensar que somos inferiores, não podemos ser filósofos, só podemos ser comentadores, historiadores... Que se dane tudo isso. Filosofemos - mal, sim, a principio. Mais vale filosofar mal do que não filosofar de todo em todo").
"Volta companheiro Vasco, que estás perdoado" de Helena Matos ("...acima de tudo paira a nomenklatura... com o socialismo a tornar-se cada vez mais pesado, o sonho de cada português é tornar-se mais um protegido...o socialista que ...(Vasco Gonçalves) foi fazia de nós opositores. Os actuais transformaram-nos em contribuintes faltosos ou caso tenhamos conseguido o milagre de ter tudo pago, licenciado e devidamente aprovado, em cidadãos pouco solidários).
"A maioria ilusória" de Miguel Gaspar (" percebi que havia qualquer coisa de esquisito - e de interessante - nas eleições açorianas...o líder falou precisamente oito minutos....oito minutos foi o tempo concedido a César perante a multidão irrequieta que esperava pelo comício de ...Tony Carreira....E a eleição ficou marcada por uma brutal e preocupante abstenção....E face ao avanço da abstenção, as maiorias não são ilegítimas, mas tornam-se de algum modo, ilusórias").
Três peças de autores tão diversos e complementares como aqueles que à partida fazem parte de uma sala de aula da instrução primária. Todos eles são gente com voz, uns saberão mais do que outros, terão cores diferentes e roupas melhores ou piores. Mas têm um a coisa em comum: debatem assuntos, pensam sobre eles e partilham com os outros. E neste caso, rejeitam totalitarismos e ilusão de princípios.

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem, Grande Jóia.

Lina Arroja (GJ) disse...

Obrigada,RA. Já agora, sabia que Rá é um deus egípicio com corpo de homem e cabeça de falcão?
Bem interessante :))

Anónimo disse...

Bem dito, melhor escrito, Grande Jóia.

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Grande Jóia
e há um grande paralelo da amostra destes três trechos com a experiência da Pequenada que nos trouxe - parece terem todos um certo sabor à auto-exigência e responsabilidade de que falou, ao contrário de tanto adulto habituado a escrever que não se joga no que verte, antes brinca com o Poder que lhe é dado sobre os Outros, logo com a dignidade e os sentimentos deles.
Beijinho

Lina Arroja (GJ) disse...

Mike, temos dito ...(risos)

Paulo, é isso mesmo, o paralelismo
entre o mundo da pequenada e o dos "grandes" onde a exigência de valores é esquecida.