12/05/09

Jogamos às Europeias

Portugal, foi sempre muito esperto e conseguiu fintar todos até um dia. Não foi à II Guerra Mundial, não abriu fronteiras, não participou na Grande Depressão, alinhou com a Inglaterra na paridade do escudo, criou barreiras à importação e produziu internamente o que necessitava mesmo que fosse à custa da economia rural e do desemprego oculto, as exportações também eram vedadas porque não importava mas, Portugal tinha as Colónias. E foi vivendo enquanto pode, afastado, sozinho e orgulhoso. Mas chegou o dia em que a esperteza estava a banhos e Portugal muito esperto a fintar, não conseguiu fazê-lo com a Comunidade Europeia. Todos os malabarismos tinham sido possíveis por termos a nossa própria moeda que alguns ainda se devem lembrar e que se chamava "Escudo".
Escudo é também sinónimo de protecção e por alguma razão a Grã-Bretanha sempre esperta e com quem devíamos ter continuado a aprender, achou que se devia escudar e escusar de aceitar essa parte que não lhe convinha. E ficou com a sua libra e continua a ser Europa e os seus cidadãos europeus.
Agora que vamos a votos para as eleições europeias, queremos voltar a ser espertos e tentar confundir o que por aqui se passa com o que por lá se passa, mas temos as mãos e os pés atados.
Isto faz-me lembrar a anedota do preso que dizia "aqui na prisão as portas estão todas abertas excepto a última que está fechada". É, connosco é igual! É tudo nosso excepto o Euro que é de todos e que não nos permite fintar ninguém, a legislação que impõe regras para todos, o conceito de cidadania que continua a ser um ponto aqui outro ali, um tratado que é de Lisboa mas que dele ficou o "porreiro"e outras pequenas histórias. Portanto como dizia Daniel Bessa no Expresso, o que interessa é votar nas europeias e ter lá bons representantes, porque tudo o resto é devaneio primaveril.

5 comentários:

Luísa A. disse...

Lembro-me tão bem do Escudo, GJ, que ainda, com o Euro em grandes números, tenho de fazer a conversão para compreender o valor. A minha resistência não tem qualquer fundo ideológico, mas resulta do simples facto de não fazer muitos gastos e, consequentemente, lidar pouco com o Euro. Mas também não estou segura de que a sua adopção tenha sido um benefício. É um assunto sobre que conheço as várias posições mas não tenho bases para formar uma opinião. De resto, a Europa (UE) irrita-me ligeiramente, na medida em que tudo parece acontecer à margem da vontade dos europeus.

Lina Arroja (GJ) disse...

Luísa, muitas pessoas se lembram e muitas falam e emitem diferentes opiniões sobre as vantagens e os custos da nossa adesão comunitária. Eu compreendo a sua irritação de tudo nos passar ao lado. Nós levamos tanto tempo a compreender alguma coisa e não é que sejamos burros. Deve haver quem não quer explicar e quem não lhe faça sentido ouvir o que ouve.

Mike disse...

"E foi vivendo enquanto pôde, afastado, sozinho e orgulhoso"... sabe o que eu acho GJ? Que logo aí pensámos que estávamos a fintar todos, mas começámos a fintarmo-nos a nós próprios. Em linguagem de futebol, parece que somos aqueles jogadores que se acham muito espertos e que fitam todos até não saberem mais onde está bola. Gostei de ler. :)

Anónimo disse...

Não tenho saudades do escudo, confesso, mas gostraia de ter bons deputados a representar o meu país em Estrasburgo

Lina Arroja (GJ) disse...

Esse é o ponto, Carlos. Mas o outro ponto é conseguirmos levar as pessoas às urnas. A qualidade dos debates televisivos deixam tanto a desejar e as pessoas necessitam tanto de perceber do que se fala, da importância que tem.
É aqui que se vê a falta de "europês" que os países têm e que é transversal. A sociedade portuguesa continua a pensar que aqui é que está o poder.

O poder, Mike, está em recuperar a bola mas para isso temos de a encontrar primeiro.:-)