14/07/09

Óvulos e Embriões

A polémica que tem andado em redor da mãe americana, que tem neste momento catorze filhos fruto do avanço da medicina, é um dos tais casos que julgamos só existir nos EUA, mas que rapidamente pode passar ao resto do mundo.
O ponto fundamental não está na medicina e na possibilidade de proporcionar às mulheres fertéis, o que significa que tem ovulações normais, mas que não conseguem engravidar, por questões às quais vamos chamar "técnicas", uma fecundação pela forma comum. Assim, guardado o óvulo, técnica já de si questionável em relação ao número de vezes que uma mulher o deve fazer e depois de encontrado um dador masculino para fazer o resto, haverá agora um médico que dentro da sua capacidade e em plena consciência do que está a praticar, faça a inseminação in vitreo e implante o óvulo num útero para aí se desenvolver em normalidade. Milhares de mulheres e de casais o têm feito, nada a assinalar não fossem os actos doentios e falta de ética de alguns profissionais e este caso não teria acontecido.
Como é possível que uma mulher decida para preencher um vazio, sabe-se lá de quê, engravidar vez após vez e acima de tudo possa indicar a um médico, que os oito óvulos que ainda se encontravam congelados deveriam ser implantados duma só vez? E como é que alguém no seu perfeito juízo, tendo esta mulher já seis filhos e estrutura familiar precária o possa fazer é coisa que não lembra a gente de bem. A probabilidade de serem fecundados e de todos nascerem vivos era grande dados os 34 anos da mãe e a de serem todos saudáveis um risco elevado.
Neste momento, o médico está a ser investigado, o avô das crianças diz que vai trabalhar até poder para ajudar esta óptima mãe, os contribuintes americanos dividem-se entre pagar os custos de manter estes recém-nascidos no hospital e ter de subsidiar esta família e os pedidos dos que pensam que não se deve julgar esta mãe.
Claro, que se deve julgar esta mãe e este é o primeiro ponto da polémica. Só o egoísmo de uma mente descontrolada pode querer preencher vazios interiores ou casamentos mal sucedidos com um batalhão de seres que têm de ser alimentados com comida, e que têm de ter cuidados básicos de sobrevivência para além do amor. O segundo ponto, é a família mais próxima que essa sim andava no vazio, caso contrário teria tomado providências para tratar da saúde mental desta mulher. E o terceiro é a saúde ética de um profissional, que no final ainda vamos saber que afinal não era médico credenciado, porque eu não acredito que um técnico da saúde seja tão inconsciente e imbecil.
Por isso, não condenemos a ciência e os profissionais que tanto têm lutado pela utilização das novas técnicas, questionemos o estado da saúde social dos que mais necessitam. Nos Estados Unidos existem bancos de óvulos que não são destruídos porque pertencem a pessoas que os consideram filhos. Imagino que os custos que isto representa para o orçamento da saúde poderia ser utilizado noutras áreas de investigação que também é questionável a começar pela ética e pelas convicções religiosas. E é, por ser um tema de tal forma sensível que não deve ser sancionada a reflexão e impedido o julgamento de todos. Deixou de ser um acto privado e se assim é, a comunidade deve pronunciar-se. Oxalá este caso, não traga já ao de cima as opiniões desfavoráveis à utilização das células estaminais e que constituem uma vitória da presidência Obama em prol do desenvolvimento e da investigação.

7 comentários:

Mike disse...

Muito bom post, GJ. Subscrevo o último parágrafo em prol do desenvolvimento e da investigação.

Rita Roquette de Vasconcellos disse...

saudades do tempo em que ter um filho incluia, antes de tudo, um projecto de vida a dois

(suspiro)

Lina Arroja (GJ) disse...

Especialmente,Mike num momento em que a ciência está a dar grandes passos na investigação.

Rita, é verdade o que diz. Também me pergunto se antigamente quem não podia ter filhos era assim tão infeliz como se pinta. Hoje tudo tem de ser perfeito. Mas é um avanço extraordinário da investigação médica e farmacêutica.

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

posso falar, porque sou uma dessas mulheres a quem Deus não quis premiar com a suprema benção da maternidad.
chorei muito quando me disseram que colocaria em perigo a minha vida se engravidasse. tentei mesmo assim, fiz tratamentos caríssimos,(sabia que os mesmos eram grátis nos Estados Unidos), enfim, sofri horrores. Depois, aceitei e acabei por preencher a minha vida com outros propósitos. Penso que um filho sem projecto - familia, não tem muito sentido e acaba por ser egoismo.
bom post, concordo com o que escreve!

Luísa A. disse...

GJ, estou plenamente de acordo consigo. Este é, seguramente, um caso de absoluta inconsciência e de falta de ética profissional, pelos riscos presentes e futuros para a vida da mãe e dos filhos. O problema do desenvolvimento, especialmente científico e médico, há-de ser sempre a ganância dos que verão em cada novo passo a oportunidade do lucro fácil. E porque se trata, precisamente, de um desenvolvimento altamente especializado, o comum dos mortais estará cada vez mais vulnerável ao engano e à ilusão.

Lina Arroja (GJ) disse...

Júlia, concordo plenamente consigo. Sem um projecto de família um filho é um acto de puro egoísmo. Mesmo que a família que se imaginou termine, um filho tem de sentir que é parte daquele casal.

Lina Arroja (GJ) disse...

Luísa, o evoluir da ciência vai caminhar igualmente para contradições, ilegalidades, faltas de ética, enfim os vários desastres que vêm sempre depois das boas intenções. Acredito que mais uma vez, seja o Homem que no seu bom senso e na sua necessidade de auto-regulamentar a sua própria sobrevivência decida aceitar uns e rejeitar outros.
A minha questão, e já cá não estarei para ver, é como irão reagir todas estas pessoas hoje cuidadas pelo bem e amanhã se sentirem com o demónio da não aceitação.