07/08/09

Kungokhala

... é só ficar! Filipe Condado e as imagens do que foram os dois anos de trabalho como voluntário numa Missão no norte de Moçambique. Com a permissão do autor escolhi três fotografias e o texto de apresentação de um evento cheio de calor humano, talento e generosidade. Há pessoas e momentos assim, que nos faz bem recordar!
Luciano
"Embora, não fosse esse o objectivo do meu trabalho, tive a graça de poder ir retratando a vida das aldeias que rodeavam a Missão. Quando regressei, ao olhar para todas essas fotografias senti que não podia deixar de as mostrar. Foi assim que nasceu este livro. Era preciso agora dar-lhe um título… Como encontrar a palavra que abarque tudo aquilo que eu não consigo dizer sobre estas imagens? "
"As crianças “à solta” quase desde os primeiros dias, sempre com um sorriso tão espontâneo, frágeis e desprotegidas muitas vezes por indolência dos seus; o trabalho na terra sempre tão duro e dependente do céu; as estradas serpenteando por entre as aldeias, rompendo o capim e as terras cultivadas; a vida que se enaltece de uma forma tão particular nas cerimónias religiosas; a música e o seu ritmo que provoca um gozo enigmático…
Tudo isto guardo em mim, em imagens, e poucas palavras. "

"Um dia, durante as férias escolares, encontrava-me no pequeno jardim junto à casa da Missão. Os alunos tinham partido para casa onde iriam ajudar as suas famílias no trabalho do campo. Vejo aparecer o Luciano, um dos alunos com quem mais conversava, vestido a rigor de casaco e gravata, com um saco de batatas às costas. Tinha feito três horas a pé só para me visitar e para me oferecer aquele presente.
Quis saber o porquê da sua “viagem”, e o Luciano respondeu-me:- “Aphunzitsi!… kungokhala!”, que quer dizer: -”Professor!… Só ficar!”.
Foi em Moçambique, onde eu também aprendi a “só ficar”; a saborear o tempo."

(Filipe Condado Lisboa, Junho 2004)

8 comentários:

Si disse...

E fiquei.
E saboreei os textos e as fotos, sempre com aquele misto de encanto e tristeza, pela filosofia de vida e pela miséria que delas exalam.
Fantástico, e no entanto tão arrasador.

fugidia disse...

As palavras a mais estão, definitivamente, a mais.

Boas férias, GJ :-)

mfc disse...

Magníficas fotografias.

Anónimo disse...

Fotografias fablosas ( conhecia já a primeira). Tão expresivas, que quase nem precisavam de palavras. apenas uma legenda

Luísa A. disse...

A «civilização» é uma coisa muito bonita e com muitas virtudes, GJ, mas «polui-nos» a cabeça; faz-nos perder essa candura e essa generosidade que encontramos nas pessoas simples e nos lugarejos remotos, onde ela ainda não chegou.

Lina Arroja (GJ) disse...

As palavras estão sempre a mais. Neste caso, sendo o texto do autor tem um sabor acrescido à lente que o mesmo fotografou.
As imagens são belíssimas. E a candura daquele sorriso ou o rigor da pose têm um efeito magnético difícil de esquecer.
Como diz a Luísa, há bens que quase ficam mal, mesmo sabendo que são necessários.

ana v. disse...

Comovente.

Boas férias, GJ.

Lina Arroja (GJ) disse...

Boas férias, Ana:)
Boas férias, Fugidia:)
Boas férias, Si :)
Boas férias, Luísa:)
Boas férias, Carlos:)
Boas férias, mfc:)