31/08/09

O caroço nacional

Somos, duma forma geral um povo sisudo e sempre a olhar para o lado com medo do que os outros pensam. Por isso, criticamos os sempre em festa, detestamos os que andam nas revistas cor de rosa porque só podem ser fúteis e colocamos os estrangeirados de lado porque fogem à tradição dos costumes. Nada pior que um povo mal humorado, sem auto estima, sempre a lamentar o passado, o presente e o futuro. Somos assim! Eu não fujo à regra, ultimamente mais vezes do que gostaria. Ter sentido de humor em Portugal é também saber viver com pouco e ter de aturar muita safadeza. Daí, que nas poucas oportunidades em que se nos apresenta um grupo animado e nos deixamos levar, saímos contentes, satisfeitos e a pensar que devíamos fazer festa mais vezes. Por isso gostamos dos brasileiros que são barulhentos e divertidos e logo a seguir desconfiamos porque "muito riso pouco siso" já dizia a nossa avó e "o pobre desconfia de muita fartura". E nós pequeninos, encolhidos aqui no cantinho da Europa, sempre a olhar para o mar, sempre a imaginar conquistas e travessias, corridas e além-mar desejados, de costas viradas para o inimigo que antigamente nos ensinaram ser a Espanha em primeiro lugar e logo a seguir o resto da Europa, olhamos e voltamos a olhar e sonhamos e não fazemos. Propomos programas de intenções mas as reformas fazem-se por acções. E acções dão trabalho e requerem liderança e nós gostamos de pensar o que poderia ser se, se , se! Infelizmente as novas gerações crescem sem eira nem beira, os velhos estão mais velhos e os novos caminham para velhos. Somos no fim de contas um país da meia idade. E a meia idade tem muitas crises de menopausa e de andropausa escondida que nem mesmo as cirurgias plásticas e as depilações definitivas conseguem esconder.
Há dias, numa festa animada em que o aniversariante fazia uns belos e dinâmicos 80 anos perguntei como mantinha a jovialidade. Com 16 adjuntos, duas empresas para gerir, vários clientes por semana para visitar e um número razoável de quilómetros por ano ao volante, era a receita. E nas férias para não ficar estúpido, para além dos jornais e revistas para ler junta os seus clássicos. Está lá tudo, não precisa de ler outras coisas, diz este homem que até podia ter mordomias na fruteira. Ter oitenta anos e conseguir juntar quatro gerações à sua volta, ter uma assembleia de gente de várias idades a cantar e dançar pela noite fora é obra das pessoas alegres que matam os dissabores juntando gente divertida à sua roda. Por outro lado, anda por aí uma rapariga a atirar caroços a muita gente, já que aparece em tudo o que é sítio. Mas, senhores tenhamos dó da moça, ela tem apenas 22 anos, está a acabar um mestrado e tem dois programas de televisão, faz campanha por partido e é um bom partido para a publicidade. É jovem, morena e ingénua no faz de conta. Oxalá tenha mais juízo e saiba escolher frases mais normais daqui para a frente. De qualquer forma, ela está apenas ao nível da outra senhora que disse um dia que o contrário de estar vivo era estar morto, e essa que tem idade para ser avó da descaroçada continua desmiolada e esvoaçante. Desde que a coisa não contagie, esta é diversão nacional com a qual podemos bem. O preocupante é a parte da retoma e o fim da recessão técnica anunciada pela jovem cabeça de vento aos colegas com a mesma idade e que vão votar no próximo dia 27. É a crise no ramalhete e na cesta!

8 comentários:

Luísa A. disse...

Querida GJ, também me queria parecer, do fundo da minha pequena crise «cinquentenária», que a alegria, a actividade e um pouco de paixão pelo que se faz são as receitas para uma vida longa e/ou, pelo menos, feliz.
Quanto à pequena dos caroços, que vejo alegre, activa e apaixonada q.b., penso que a compreensível euforia do sucesso é mais do que suficiente para lhe desculpar uns errozitos de discurso e percurso. Mas espero que se apresse a ganhar consciência de que o mundo não começou, nem vai acabar nela. Um pouco de humildade caía ali que nem ginjas. ;-D

Si disse...

Que grande reflexão, GJ, a tocar nos pontos essenciais das características deste nosso povo, que ainda vive hoje com tão pouca humildade, ou pelo menos a necessária para aplicar um mínimo de seriedade na sua conduta!
À rapariga até se poderão perdoar as frases infelizes, o pior mesmo é reconhecer nelas a futilidade de grande parte da juventude, que à custa de demasiada diversão e pouca ou nenhuma responsabilização, vai comprometendo, cada vez mais, o futuro deste país.
(Ai, credo, até pareço o Velho do Restelo!!!)

P.S. - E ó Luísa, as ginjas também têm caroço!! :D

Luísa A. disse...

Ups!
P.S.: Si, pois não é que não me ocorre uma única fruta sem caroço... (salvo a banana)!!! ;-D

Anónimo disse...

Somos uns tristes, coitados.
Quando li pela primeira vez a frase ad Carolina, ri-me à gargalhada e pensei que ela tinha sentido de humor. Afinal, estavaa falar a sério. Fiquei descoroçoado, ou seja, sem caroço!

Lina Arroja (GJ) disse...

Luísa, há caroços que nos engasgam toda a vida...mas é aos cinquenta que temos de os engolir e seguir em frente. Uma das receitas é fazermos o que gostamos com paixão e sem compaixão.
Estou de acordo que à pequena dos caroços caía bem menos presunção. As gingas eram solução, mas como diz a Si têm caroço e sujam muito as mãos.;)

Lina Arroja (GJ) disse...

Si, os jovens são o que nós deixamos que sejam. Infelizmente muita gente pensa que não os deve por na ordem ou não se quer aborrecer. O facilitismo com que alguns vivem o dia a dia, presta-se a que passem a mensagem errada aos que ainda muito necessitavam de ser direccionados.

Lina Arroja (GJ) disse...

Carlos, eu até penso que a Carolina tem este discurso encenado para provocar. Conseguiu que meio mundo falasse nela, a bem ou mal ela quer-se fazer notar e sabe como. Não é por acaso que tem um discurso a armar aos cágados, como se diz em bom português.

Si disse...

Luísa,

O morango, o kiwi, até o ananás, pois então! ;D

GJ - Plenamente de acordo consigo, assino de cruz! E era isso que eu pretendia ressaltar quando disse 'deste nosso povo, que ainda vive hoje com tão pouca humildade, ou pelo menos a necessária para aplicar um mínimo de seriedade na sua conduta'
Laisser faire, laisser passer é infinitamente mais cómodo!!