16/09/09

Reposição de stocks estruturais

Um país pequeno cheio de contradições. Temos e não temos, queremos e odiamos, agarramos e afastamos, é nosso e deitamos fora, compramos e devolvemos. Aquilo que não teria qualquer importância noutro lugar, transforma-se num alvoroço em terras lusitanas mesmo que os juros sejam elevados. Fazemos contas de merceeiro, olhamos para o custo do açúcar em vez de olharmos para o preço do bolo. Depois, esta falta de humor só pode ser reflexo do nosso complexo de "piqueno". Já vai longe o tempo da baixela de prata, da criada de crista e luvas brancas, do menino que não entra na cozinha e da menina que aprendeu todos os bordados, cerzidos e sabe chulear bainhas. Também já lá vai o tempo em que nos perguntavam se falávamos espanhol. Por muito que custe, o país vai pertencendo ao mundo moderno, vai perdendo graça numas coisas e ganhando noutras. Por muito que se desconfie da vizinha Espanha e se diga mal de Bruxelas as coisas são assim mesmo, o território não pode continuar de costas viradas para o desenvolvimento e perder mais uma vez não só comboio mas a estação. O tempo dos apeadeiros, embora bucólico e enternecedor, deve ficar no tempo a que pertence, ou seja no passado e junto ao tempo em que não havia pressa e as meninas corriam e saltavam, os meninos aprendiam a correr atrás delas, as criadas ajudavam a esconder uns e perseguiam outros, as senhoras bebiam chá e jogavam canasta e os cavalheiros fumavam charutos na sala de fumo. Hoje, por muito que se suspire, os homens e as mulheres são cada vez mais iguais, os países cada vez menos desiguais e as culturas mais globais. E quanto mais não fosse, a globalização começa logo pela atribuição dos fundos estruturais que nos tira todas as peneiras e altivez. Façamos, então, o que é necessário sem falsas modéstias e argumentos fora de moda, mesmo que este ajustamento à globalização venha tarde e a más horas.

8 comentários:

mike disse...

Ó GJ eu não gosto muito da globalização. Só me tenho entalado à conta dela, carago. ;)

Anónimo disse...

O problema,GJ, é que o discurso bacoco apelando a valores bafientos ainda rende votos...

Lina Arroja (GJ) disse...

Ó colega, já que ela está aí o melhor é aproveitar quem a quer e paga bem...;)

Lina Arroja (GJ) disse...

Carlos, o país tem de vencer esta onda de pessimismo mesmo que a globalização nos possa ter trazido algumas mágoas. Estamos outra vez na era da internacionalização e esta já é mais à nossa medida. E a hora tem de ser das PME's que é a única coisa que nos pode salvar nos postos de trabalho e no desenvolvimento do nosso meio empresarial.

Lina Arroja (GJ) disse...

E com isto tanto um como outro deram boas dicas para post e reflexão.:)

mike disse...

GJ, porventura pagará bem a sectores como o industrial, mas quando é de serviços que se trata...
Vou dar um exemplo e considere-o como pura ficção. ;)
Uma agência de publicidade multinacional ganha um cliente multinacional. O número que figura no canto inferior direito da última página do contrato fez com que o presidente da agência não hesitasse nem por um momento. Abrem-se as garrafas de champanhe em New York, um e-mail faz com que se abram garrafas de champanhe em Londres, Paris e Munique. Levantam-se os flutes à globalização. O lucro da operação adivinha-se... em 5 ou 6 países. Os outros, como por exemplo Portugal (não se esqueça que este exemplo é ficção) têm que fazer o handling do novo cliente com um serviço ao nível do standard do país em que o contrato foi assinado, mas a remuneração... olha ficou lá. ;)

Lina Arroja (GJ) disse...

Eu sei, Mike. Nos serviços não é fácil, as margens nem se fala e o trabalho que dá e o tempo que se gasta, não chega a ver-se.São as políticas da deslocalização. E há quem lhe chame parcerias. As multinacionais não são aquele paraíso que por aí se conta. Nem nunca foram. O meu pai foi administrador duma empresa industrial multinacional. Tudo feito de raiz em Portugal, reportando inicialmente a Suécia, depois a Inglaterra e finalmente(a seguir ao 25 de abril) à Peninsula Iberica, um sofisma para designar Espanha. Eu sei o que ele tinha de fazer para fazer passar alguma coisa e conseguir reinvestir o que aqui se tinha feito.
As PME's têm hoje mais vantagens nos mercados internacionais, desde que fiquem no segmento certo.

mike disse...

Sabia que a colega me entenderia. :)
(E com o exemplo do seu pai, então...)