27/11/09

Emigrantes por defeito ou opção?

Quanto mais tempo estamos no nosso cubículo mais chatos nos tornamos. Seja em casa junto da família, no emprego junto dos colegas, na paragem do autocarro junto dos outros utentes, na carruagem do metro, na pastelaria da esquina que frequentamos diariamente e onde esboçamos um sorriso forçado. Todos nos parecem uns aborrecidos idiotas e nós uns ilustres sábios continuamos a massacrar quem temos por perto. Os políticos e os programas de televisão não fogem à regra e até já nem nos blogues nos livramos de aborrecer quem nos lê. Olhamos para o nosso umbigo, dentro do cubículo que se tornou o nosso dia a dia e a porta do nosso país continua fechada a pessoas com outras características e talvez, quem sabe, capazes de trazer outra cor, outros motivos e outras histórias mais alegres, soltas, e de maior dimensão e está cada vez mais ampla e aberta a todos os que decidem encontrar lugar , emprego ou alegria noutro espaço. Tudo nos parece pequeno, tudo é grande aos olhos de quem é pequeno e tudo vai continuando conforme o nosso pedaço de humor. Sei que não é fácil ultrapassar esta tarefa, que à portuguesa herdamos e onde sempre tropeçamos. A saudade do que já foi, o que é e podia ter sido, que não nos larga e consome por tudo e por nada. Pergunto, para que servem as entrevistas a pessoas que não nos esclarecem, as reportagens de assuntos já ressequidos e que tresandam a esturro, mesmo que pelo meio esteja a senhora que perdeu o dinheiro numa instituição e que agora se senta ao relento numa avenida da cidade, greve de fome, diz ela, Quimonda fala ela, enganada e desempregada, expectativas frustradas acrescenta. Mas pergunto eu, ainda alguém liga a estas acções de voluntarismo sem jeito? E o resto que continua, agora é face oculta , amanhã cara alegre, e todos continuam à procura do "ninguém" que tem razão. Pobre país o meu que continua à procura de quem lhe diga onde se encontra o paraíso e só procura emigrar!

13 comentários:

ana v. disse...

Pobre país de facto, GJ. Estamos constantemente com pena de nós próprios e somos incapazes de dar o passo em frente, simplesmente porque já não acreditamos que possa hever caminho pela frente. Quando se chega a isto, é gravíssimo.

mike disse...

Ó GJ, nem sei o que lhe diga. Ou melhor, sei. Escrevesse eu como a colega e não lhe alterava uma vírgula sequer. Mas sabe? é que eu sou supeito...

vbm disse...

Há uma 'bio-lógica' no comportamento passivo, resignado, desanimado, que notas entre nós: - a não percepção de um embuste, a ausência de um sobressalto. Mas, francamente, acho impossível que um despertar brutal não esteja próximo: há demasiada desgraça no país, o desassossego pode alastrar como um fogo. Mas não vislumbro que 'messias-ditador' se perfile no horizonte e que 'medicina' adminstrará...

Dulce Braga disse...

E o que pensa a juventude portuguesa sobre isso?

Luísa A. disse...

Os povos costumam reagir com alguma energia às subidas de impostos, GJ, sobretudo quando se vêem forçados a cortar nas despesas essenciais e não vêem o Estado cortar nas mordomias supérfluas. A ver vamos...

Anónimo disse...

Coo gostaria de poder dizer que não concordo consigo! mas não posso, porque subscrevo este posta palavra a palavra.

Si disse...

Já tinha lido este post com atenção , mas não tive oportunidade de comentar.
Até posso estar a dizer uma barbaridade, mas eu tenho cá para mim que a triste realidade que nos rodeia, e que a GJ tão bem descreve, será mais antiga e mais perene do que a maioria pensa. Não que eu esteja a falar da 'má fortuna' nem do espírito fatalista e dramático que fielmente nos caracteriza, mas sim de um eterno jogo em que desde há muito nos tornámos especialistas: o Jogo do Empurra, no qual todos exigimos responsabilidades, mas poucos se submetem a assumi-las. É uma mentalidade tacanha e transversal a toda a sociedade portuguesa, independentemente do papel nela desempenhado por cada um. Todos criticam tudo, mas ninguém está disposto a mudar nem a sacrificar nada em prol da comunidade. Ficamos sempre à espera que outros o façam.
E como episódios destes recheiam 900 anos de história, não vejo grande volta a dar-lhe. Por mais que se tente (o que também não é o caso, como tão bem ilustram os exemplos vindos de quem devia dar o exemplo).

P.S 1. E penso que aqui também se explica o sucesso dos portugueses fora do país. São obrigados e impelidos a agir por outras mentalidades.... digo, eu....

P.S. 2. A não acreditar nisto, só posso ter fé naquilo que o povo também diz: é fugir dos mansos, que um dia vai haver bronca da grossa...

Lina Arroja (GJ) disse...

Ninguém está disposto a mudar ou a sacrificar em prol da comunidade, diz a Sí. É verdade, porque aquilo que é de todos não é de ninguém, assume-se que é do Estado. Sendo o Estado uma entidade abstracta não tem quem nele mande. Aquilo que deveria ser um bem comum não tem valor jurídico, não tem valor económico, não tem valor social.

Lina Arroja (GJ) disse...

Por outro lado,os povos costumam reagir com as subidas de impostos, diz a Luísa. É verdade, mas nesse caso deu sempre lugar a lutas armadas.

Lina Arroja (GJ) disse...

O Vasco menciona uma não percepção de embuste e ausência de sobressalto. O desassossego pode alastrar como um fogo, diz. Estamos de acordo, é verdade. Do passado, penso que não se vislumbram bons exemplos.

Lina Arroja (GJ) disse...

Não acreditamos que haja caminho, diz a Ana. É verdade, também. Por isso, os jovens procuram outros lugares. Vão-se os nossos valores e os nossos recursos humanos.

Lina Arroja (GJ) disse...

Estamos de acordo, diz o Carlos e diz o Mike, com mais ou menos vírgula, está tudo aqui. E agora o que fazemos?
Pergunta inevitável:avançamos?

Lina Arroja (GJ) disse...

O que pensa a juventude, pergunta a Dulce. A que tem recursos financeiros e abertura de horizontes, procura outros países. A que tem horizontes e falta de recursos, emigra. A que não tem capacidade de sobrevivência fica à espera do subsídio que há-de vir. Os outros vão andando com as mãos nos bolsos e os olhos nos bolsos do alheio...