25/03/10

Filhos irritados

Com a entrada das noras redobra-se o aconchego das filhas. Com a chegada dos netos apertam-se os laços entre mãe e filha, enquanto os filhos homens ficam no lugar de sempre e não há parceira ou rebento que os substitua. Por muito que se faça, os lugares estão ocupados desde o dia em que nasceram. Para uma mãe os lugares de todos os seus filhos ficam marcados para a vida. A casa da mãe é o lugar onde todos deveriam sentir um porto de abrigo. Infelizmente alguns sentem que têm de ocupar cedo demais o que não lhes pertence. São famílias cujos filhos entendem o poder parental como um alvo a destruir e utilizam muitas vezes o bullying para o conseguir. Nos últimos tempos, tenho assistido a esta barbaridade. Pais que obedecem aos filhos com medo de serem abandonados. Nas fileiras dos hospitais, com os mais velhos debilitados e frágeis é vulgar ver a irritação dos filhos face ao familiar doente. A forma como falam e se dirigem a quem está doente e acima de tudo é pai ou mãe, é um verdadeiro murro no estômago para quem observa. Pena que não o seja, também, para quem o dá. A situação socioeconómica provoca muitos estragos, mas nada que se compare à falta de amor e de amizade entre pais e filhos.

22/03/10

Good Madness à segunda-feira!


B.B. King - Blues Boys Tune

Starwars - just one more time!

Pertence ao imaginário do meu filho mais velho em primeiro lugar e logo a seguir do segundo. Por inerência familiar passou a fazer parte dos meus espectáculos preferidos. Há muitos anos no país distante chamado Canadá, chegava uma família com um rapazinho de oito meses. O miúdo cresceu com acesso aos primeiros aparelhos de vídeo. No edifício onde morava esta família havia uma loja "convenient store" que entre outras coisas úteis, pão, leite, congelados, alugava vídeos. Foi o início. Diariamente o rapazinho, agora já mais crescido queria ver o mesmo filme, vezes sem conta. De tal forma que deu lugar a proibição total da entidade materna e paterna. O irmãozinho, mais novo três anos, para além de não ter igualmente idade para ver aquela saga, servia de protagonista ao mais velho. Depois do episódio em que a casa ia ardendo com as torradas queimadas, o miúdo, então com cinco anos, escreveu a seguinte nota " I won't see Starwars anymore. Just one more time!" Para a história ficou a anedota e a saga familiar que foi cedendo à medida que eles cresceram. Os rapazes, hoje gente casada, conseguem fazer os diálogos de cor para quem os quer ver numa cena parva, a mim aquilo ainda me irrita mas não deixo de rir com a patetice. De alguma forma, este é um momento que ficará, igualmente, associado à minha carreira de mãe e para eles serve de exemplo em matéria de educação e gestão familiar.

21/03/10

Primavera

20/03/10

Só faltou o afinador de cabelos

Nas salas de espera da quimioterapia também há situações cómicas. Há dias num desses dias mais ligeiros e que acontecem oito dias após a sessão, chegou uma senhora apressada, peruca à banda e que se dirigiu à funcionária da seguinte forma: "Olhe, estou atrasada, vim de eléctrico e tive de mudar de linha". Não foi intencional mas sim impulso que me levou a olhar para o relógio de parede. Indicava 11:45. Do outro lado do guichet ouvi a seguinte observação : " Ó dona tal e tal, a senhora tinha de estar aqui às 8:30! " Soltei uma gargalhada, é que mesmo doentes as pessoas continuam iguais nas suas desculpas esfarrapadas, quando faltam aos seus compromissos ou a eles chegam atrasadas. Mais tarde, observei discretamente, espero eu, a senhora em causa. Impecavelmente vestida, maquilhada em excesso, unhas bem tratadas e peruca à banda. Um exemplo perfeito dum dia a dia sem pressas onde só faltou o afinador de cabelos para dar um jeito ao penteado.

18/03/10

Voando em terra


Los Van Van - Permiso que llego van van

Um luxo do passado

A TAP iniciou há umas semanas uma campanha sobre promoções e destinos. A ideia é incentivar a compra de viagens com antecedência, favorecendo o cliente e abrangendo aqueles que fazem compras online. Para além disso, conta com a participação dos seus fiéis utilizadores incentivando a utilização de milhas acumuladas e outros benefícios a elas associados. Na rádio oferece até meia hora de música. Tirando um ou outro ponto, a campanha publicitária parecia correr bem e até poderia desviar alguns das companhias low-cost. Quem viaja com frequência sabe que entre uma companhia low-cost e a nossa empresa nacional, a escolha dos portugueses recairá sobre a segunda se a diferença de preço não for significativa. A ideia de poder usar o porão de bagagens sem preço acrescido, do espaço entre os assentos ser mais confortável, do jornal e da revista juntamente com o café ou laranjada serem elementos de conforto, para não falar do orgulho que todo o português tem, e com razão, na sua companhia aérea, favorecem a escolha.
Acontece que a campanha não poderia ter saído na pior altura para o orgulho nacional. Não que os clientes tenham alguma coisa a ver com isso, mas porque a companhia há muito que deixou de ter quem vista a camisola. Há muito que a Air Portugal deixou de ser a TAP e de pertencer apenas a quem lá trabalha para pertencer ao país. Há muito que deixou de ter a marca da companhia, apesar de continuar a ser portuguesa. Há muito que deixou de ser o bom nome da pátria. Há muito que deixou de ser apenas Portugal.
Hoje a TAP é uma empresa portuguesa, sim, estatal também, paga pelos contribuintes que nela viajam incluindo quem nela trabalha, mas falida. Por isso, os luxos são outros. No passado, quem nela trabalhava passava uma imagem, de orgulho, de exclusividade, de saber estar, de profissionalismo, de competência. E não seriam os salários o único vector que determinava a escolha da empresa para trabalhar, mas sim e também o glamour associado à escolha daquela empresa para trabalhar. Isto fazia a diferença. As jovens da minha geração teriam todas optado pela carreira de hospedeira, caso tivessem altura, falassem os idiomas e a família estivesse desatenta. Para além do mundo e das viagens era também a farda da companhia e a admiração que provocava. E os jovens, quem não admirava aquele pessoal de bordo alinhado com a seus galões? Com o tempo, passou a ser sinal de arrogância também.
Na época em que andar de avião era um luxo, o pessoal de bordo ou de terra também eram a condizer. Os passageiros eram privilegiados. Podiam não ter ainda o estatuto de clientes mas eram tidos como tal. Hoje, a TAP - Air Portugal membro da Star Alliance é mais uma companhia que voa e os seus pilotos vêem-se não como trabalhadores a servir os desejos dos seus clientes, mas como meninos bonitos que, pela sua suposta diferença de estatuto, gostam de andar up in the air. Para bem de todos, deve ser exactamente isso que vai acontecer um dia destes, ou voam sozinhos ou ficam em terra a encher as fileiras do desemprego.
A empresa, será gerida por capitais privados alheios, levanta se tiver lucro e aí, serão os vencimentos que puderem ser pagos e os aumentos que a administração ditar que vigorarão. Em relação às campanhas, essas serão feitas conforme o que ditar a casa-mãe, que poderá estar em qualquer ponto do globo. E os clientes, aqueles que online consideraram apenas o custo e o benefício da viagem. Não serão de luxo, mas passarão a ser um luxo para uma companhia endividada e a necessitar de reforma urgente.

15/03/10

Good Madness à segunda-feira!


Miles Davis "Summertime" (1958)

14/03/10

Atacando a pobreza

A ATACA é um projecto de gente boa que gosta de Moçambique e que acima de tudo está empenhada em atacar a pobreza. As voluntárias estão de volta a Quelimane, cheias de juventude, vontade e sonhos. Para que o projecto continue é necessário que outros voluntários deste lado do planeta continuem a ajudar e a pensar nos que lá estão. É preciso continuar a querer ajudar. No próximo dia 1 de Abril, vamos ajudar a atacar a pobreza.

A dormitar


(Cartoon Elias o sem abrigo, de R. Reimão e Aníbal F)
Depois de ter passado o santo dia de ontem a dormitar, eis que acordo já de madrugada com a seguinte notícia. Pelos vistos vamos ter o tal emprego responsável. Fiquei sem saber se os ministros tinham estado a trabalhar todo o dia ou se tinham chegado depois do jantar. Eu estava desde manhã a tentar acompanhar o Congresso do PSD, sem êxito. Na pausa do jantar ainda tentei recuperar daquele estado de indolência que me tinha atingido o cérebro o dia todo. Fiquei sobressaltada com os carros dos ministros a chegarem apressados para rever o PEC. O que se trabalha para reduzir o que quer que seja e sem resultado! Teixeira dos Santos estava cansado mas parecia feliz. Tinha conseguido mais uns cortes orçamentais. Eu fiquei com a sensação que o exercício tinha sido igual ao que nos meus tempos de estudante fazíamos. "Olha pá, corta aí em qualquer lado que o prof. nem repara. A malta tem é de apresentar uma coisa arranjadinha que pareça bem e que dê nas vistas". Mas como estive a dormitar todo o santo dia, deve ser engano meu.

12/03/10

Do fantástico ao real



Crumb to Ghostworld


The Making Of Ghost World PT1


The Making Of Ghost World PT2

08/03/10

Dia Internacional da Mulher

"Queixa das almas jovens censuradas", Natália Correia

Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.

(in Poesia Completa, 1999)

Good Madness à segunda-feira!


Dee Dee Bridgewater

05/03/10

Os vinte anos do Público

Os vinte anos do Jornal Público são iguais aos últimos vinte anos de quem o lê. Naquela época Portugal vivia um período de estabilidade política, económica e financeira, o impossível não existia, a juventude dos projectos iniciados na década de oitenta estavam no ar e começavam a ter vida, as empresas tinham lucros e as equipas tinham dinâmica de trabalho, o país estava num estado de graça que o Cavaquismo, quer se goste ou não, tinha trazido. Quando o jornal saiu, cheio de vigor, de compromisso com a nova comunicação, com a viragem de página e novos jornalistas, com o primeiros jornalistas especialistas em assuntos, coisa até aí rara, com colunistas desejosos de expor a sua opinião e de alterar mentalidades, os mais cépticos não lhe atribuíam mais de um ano e são os mesmos que, tal como hoje, não atribuem mais de um ano à democracia nacional. Aqueles que não acreditam no projecto são os mesmos que hoje andam em jornais, que querem ajudar a derrubar não o status quo mas a edificar uma lei da selva em que a mentira, a provocação e a maldicência são o pão nosso de cada dia. A sociedade portuguesa vive momentos difíceis, mas a lei da liberdade de imprensa é o motor para que a confiança continue a vigorar junto da opinião pública. Informar e esclarecer continua a ser o mote da liberdade e deixar que quem lê forme opinião e julgue, caso se justifique, também. O público precisa do jornal Público e de todos aqueles que têm por principio a honestidade e o serviço mesmo que o projecto seja propriedade de privados. E é por isso, que apesar das línguas no passado terem invocado a falta de experiência do empresário de marcas para gerir jornais como um dos factores para o insucesso do mesmo, não têm tido razão. Um empresário com visão espera que o projecto se rentabilize acreditando que dele consegue fazer uma marca diferenciada. Neste caso, o jornal Público tem ao longo destes vinte anos conseguido transformar-se exactamente nisso - uma marca. Para ser rentável ela ainda tem de continuar caminho para se diferenciar. E este é provavelmente o momento certo. E tal como o jornal também o público que o lê tem a sua oportunidade para expressar o que quer fazer deste país, em quem acredita, no que acredita e deixar que a maturidade ande lado a lado com a democracia, com a liberdade e com a visão estratégica. Já não basta fazer diferente, o que é preciso é fazer com tenacidade, frescura e vontade renovada mesmo que a idade nos diga que já não vale a pena.

04/03/10

Newseum


Não conhecia e fiquei encantada. O que os tempos mudaram num quarto de século mais coisa menos coisa. A maravilha que teria sido quando vivi fora do país entre 1978 e 1986, poder ler os jornais portugueses sem ter de esperar pelo avião semanal ou poder visitar um museu qualquer online. Uma época em que as comunicações eram dificeis e caras por telefone, os jornais levavam tempo a chegar e a televisão raramente se lembrava de Portugal. Curiosamente, estivesse eu fora do país neste momento, acho que não me sentiria atraída pelas notícias da minha terra. Sabe-se lá porquê? "Come here and be there" é um slogan que eu gostaria de ter criado. Vá-se lá saber porquê?

Parabéns, CarBac

Por sua vez, a minha amiga CarBac que não é nada embrulhada, adora enrolar na cozinha. Assim, como ela faz hoje anos e à laia de presente temos para almoço um dos pratos da cozinha tradicional portuguesa. Umas boas salsichas enroladas em couve lombarda, acompanhadas por um vinho (que tem de ser branco para aligeirar o almoço) do Ribatejo e como sobremesa o clássico Miss Daisy do Alcides. Como ela não dispensa as enguias da sua terra, encomendei num restaurante local um pratinho para a entrada. Parabéns, Amiga. Todos à mesa, Hip hip hurra, à nossa!

Diferenças de berço



Este meu país não tem remédio. Depois do pequeno interregno dedicado às tragédias naturais de ventos e ribeiras, voltámos à tragédia da Rua de São Bento. A novela continua assim à procura de castings mais apropriados para voltar a defender no écran aquilo que se diz por aqui e por ali. O pior é que a malta que aparece não tem qualidade para se manter no ar a não ser com muita maquilhagem e paciência de quem os ouve. O paleio não cola e é uma perda de tempo comparar os discursos que não podem ser comparados. Esta foi a forma encontrada por Manuela Moura Guedes, para a continuarmos a ouvir à força, durante horas, entre esgares e sorrisos. Uma palhaçada que não merece palavras e muito menos tempo de antena dedicado à Comissão de Ética. Por sua vez, ouve quem lidasse com o tema desta forma. Diferenças de berço, presumo eu. O senhor e a senhora que se seguem podem ficar em casa. Please!

01/03/10

Good Madness à segunda-feira!


Aretha Franklin - Bridge Over Troubled Water