16/05/10

Antes assim que pior

Para saber quem somos temos de reconhecer a nossa identidade e essa vai-se construindo com o decorrer dos anos. É assim com as pessoas e é assim com as nações e é talvez por isso que Portugal nunca se sentiu completamente dentro da Europa. Temos passado os anos com um pé dentro e outro fora, tentando a possibilidade de saltar se não gostássemos e de permanecer se as vantagens nos parecessem crescentes. Acontece que quem não se dedica de corpo e alma, quem não acredita com devoção nunca está completamente empenhado e por isso, não pode beneficiar das vantagens que lhe parecem antecipadamente suas. Portugal tem olhado para a União Europeia com um olho nos fundos comunitários e outro na malandrice e o resultado aparece agora da pior forma. O dono dos fundos fartou-se de aturar o puto reguila e como a criança nada lhe diz, não é filha nem enteada, não tem consideração na hora de punir. Afinal nem a criança se identifica com o parente distante nem o parente conhece a criança. Ao longo dos anos andaram os dois a tentar iludir o resto dos parentes, sabendo muito bem que um dia alguém haveria de descobrir o mais farsante. Agora que o mais vulnerável está nas mãos do outro tem de pagar pelos anos que andou à conta de quem tinha a faca e o queijo na mão. Portugal tem de pagar e calar se quer continuar a comer a sopa mesmo que os ingredientes lhe causem indigestão, mal estar e muitas idas à urgência. Neste momento em que o mal é melhor que a cura, resta-nos ser capazes de através de meios paliativos irmos andando, não bem, mas assim-assim. O que aliás, não deve ser difícil para um povo, que passa o tempo a sentir-se antes assim-assim que pior, graças a Deus.

2 comentários:

Luísa A. disse...

Tudo isto é um bocadinho humilhante, GJ, para quem se identifica com o brio e a disciplina que parecem caracterizar os povos europeus não latinos – também cheios de gravíssimos defeitos, mas, geralmente, com essas duas virtudes perante o trabalho e a imagem internacional do seu país. Este nosso diletantismo tem graça mas, nos momentos da verdade, é uma vergonha. Nem sei bem como me apresente da próxima vez que puser o pé extra-fronteiras. :-S

Lina Arroja (GJ) disse...

Nos últimos tempos tenho tido alguma dificuldade em explicar aos mais novos este género de comportamento lusitano.:-)