26/05/10

Bárbara

Tem 23 anos e esvoaça pelos corredores com os seus lenços a condizer com as roupas. É tão jovem e engraçada que chama imediatamente a atenção. E tem graça, tem estilo e é diferente na sua juventude. Reparei nela um dia no bar do hospital, vestia em tons de lilás. O lenço e as sapatilhas a condizer. Estava com os pais, eles também gente com idade para ter filhos pequenos e faziam parte dum grupo que se distinguia pela forma como a mais nova se comportava. Via-se que os três estavam unidos de uma forma especial. Hoje soube que a Bárbara é filha única, terminou o curso de Gestão no ano passado e quando se preparava para iniciar o mestrado surgiu a dor no ouvido que se veio a verificar ser um linfoma. "Coisas que ninguém conta", diz-me a mãe, "a minha filha foi sempre uma criança saudável. Uma pessoa fica sem chão quando nos dão a notícia, a Bárbara nunca deitou uma lágrima, ouviu tudo com muita calma, o pai esteve três dias sem se chegar a ela, cada vez que tentava desatava a chorar. Se eu pudesse, passava a doença para mim".
Bárbara é um nome de luta e esta menina de olhar determinado é mais um dos exemplos que vamos conhecendo no dia-a-dia dos corredores de hospital. "Vai entrar agora? perguntou-me, "é que eu podia ensinar-lhe outras formas de colocar os lenços". Lenços entrançados, feitos de tecido a metro e encomendados na costureira, tal e qual os vestidos. Uma graça que só a juventude consegue, ela que podia ser minha filha e que naquele momento era, também, uma divertida companheira de luta. "Então fica para outro dia, agora vou matar o bicho!" finalizou, enquanto se dirigia para a sala das poltronas com o sorriso e a juventude espalhados no rosto.

9 comentários:

fugidia disse...

:-)

(no words, ok?)

Mike disse...

Mais uma valente, a Bárbara! :-)

Teresa Santos disse...

Só quem nunca viveu/viu/sentiu um Hospital, a forma como reajem às maiores adversidades e dores e sofrimento, crianças e jovens, é que não sabe a Força que os caracteriza.
Abraço grande. Outro para todas as "Bárbaras".

Dreamer disse...

Sem palavras.

ana v. disse...

Tinha deixado um longo comentário num destes seus fantásticos posts sobre a doença, mas pelos vistos não entrou. Não vou reescrevê-lo, até porque a minha experiência não acrescentaria nada de novo, que aqui não encontre em doses de luxo.
Fica só um beijo e um largo sorriso. Continue a escrever sobre o assunto... faz tão bem. A si e, tenho a certeza, a quem a ler.

(Não resisto a um comentário só, um bocadinho "ao lado": se eu tivesse tido um Sr. Jóia desse quilate, tenho a certeza de que ainda estaria casada. Os meus parabéns para ele, pelo amor e pela valentia.)
:-)

Lina Arroja (GJ) disse...

Os comentários que aqui me deixam são muito importantes para quem nos lê. Quero, no entanto, agradecer à Ana Vidal todos os que tem feito, sobre este tema.

Ana, a sua experiência é vital e acrescenta muito às minhas palavras. Eu ainda vou no início da luta.

Obrigada a todos pelo carinho que me têm dedicado.
Abraço. :-)

fugidia disse...

Abraço é bom mas não chega;
Beijo, ternurento, envolvido nesse abraço forte :-)

(enfim, abraço respeitoso ao Sr. Jóia)


Ass: fugidia-rezingona-vírgula-às-vezes
:-)

Lina Arroja (GJ) disse...

Ok, ok...
beijocas.:D

ana v. disse...

Querida GJ, o contrário também é verdade: os seus posts são muito importantes para mim. Tanto, que ganhei coragem para postar um texto pessoalíssimo sobre o assunto no Delito de Opinião, coisa que nunca tinha feito. O grau de exposição ali é altíssimo e o risco de ser mal interpretada é igualmente alto. Fi-lo - e ainda bem - inspirada por si e por estas suas crónicas do dia-a-dia de luta, porque me parece que a minha experiência feliz pode encorajar quem precise de forças. E todas as forças são poucas, nestas alturas. Obrigada por me ter lembrado disso.
Um beijo