17/05/10

Comunicação

Como trazer colorido aos documentos que à priori nada têm de divertido é uma das tarefas dos criativos. Esta é a altura da apresentação de "Relatórios e Contas" empresariais e nem tudo tem de ser enfadonho. A capa pode ser divertida e colorida. A arte e o grafismo devem seguir a perspectiva do miolo, e não têm de ter a rigidez do sisudo argumento que com coisas sérias não se brinca, ou que a imagem transmitida deve ser sóbria, o que entre nós é sinónimo de coisa cinzenta. Durante muito tempo, as empresas não entenderam que os documentos apelativos podem chamar a atenção dos investidores, e que é muito mais agradável abrir um relatório com bom aspecto do que ler a performance da empresa publicada num jornal. A relutância em gastar verbas nos relatórios e contas, seja em versão digital ou em papel, está relacionada com a ideia antiquada de que os números só interessam a pessoas muito específicas que não têm sensibilidade para a arte da publicidade e da comunicação. E também que o que interessa é ter bons resultados apenas mostrados publicamente nos órgãos que a lei obriga. Acontece que os resultados empresariais são o espelho da empresa e toda a fotografia deve espelhar a cultura e o interior daquela unidade. Numa época de cortes orçamentais as empresas começam por aquilo que consideram ser desperdício, mas estão erradas quando decidem tornar cinzenta toda a informação e comunicação com os seus clientes, funcionários, accionistas e potenciais interessados. Não é fácil comunicar em altura de crise, mas é bem pior manter a política de luto permanente mesmo que a dor ainda não tenha passado.
A forma de comunicar reflecte também a cultura de um povo. Mesmo em momentos de cultura global nunca o glocal foi descurado pelas empresas que souberam entender os mercados locais. No Brasil, por exemplo, independentemente das áreas de negócio, os olhos são alimentados com o colorido do design que é um reflexo de quem o produz mas também da arte que faz parte do dia a dia. Uma simples edição revisada não tem de ser incipiente. Assim, mesmo em crise, até a crise passa mais rápido e ao som da música. O lado bom da crise tem ética, imaginação e minoria que convida a descobrir novos rumos e estratégias. É só necessário ser capaz de olhar com graça e com colorido para a vida e ultrapassar a nosso fado de que tudo é um caso sério. Noutros países os casos são apenas sérios.

6 comentários:

Luísa A. disse...

Inteiramente de acordo, GL. Aliás, com imaginação, a boa apresentação não tem de ser cara, e é, quase invariavelmente, rentável. :-)

Lina Arroja (GJ) disse...

É verdade, Luísa. Às vezes é necessário tão pouco para um trabalho de qualidade reluzir.:-)

Dreamer disse...

Totalmente de acordo. Sempre que fiz apresentações em congressos, procurei captar, em primeiro lugar, a atenção pela imagem. A filhota sempre ajudou a fazer as coisas e foi por isso que fui muito aplaudida, embora dissesse que o mérito era dela.

Bacouca disse...

GJ
É verdade! Achamos que só porque o tempo ou a época não é propícia não se deve dar azo à imaginação para se obter uma apresentação descontraída, agradável. Pergunto se no fundo, lá mesmo nas entranhas, não será somente o medo que o português em geral tem de uma palavra: inveja. Sabe que foi uma palavra que só tomei conhecimento dela com perto de 37 anos?!
Beijo

Lina Arroja (GJ) disse...

Dreamer,
A apresentação é muito importante e o primeiro passo para que nos ouçam. Por isso é que nunca entendi essa dificuldade de fazer bem. Mas melhorámos muito.:-)

Lina Arroja (GJ) disse...

Bacouca,
Lia há dias no blog do Seth Godin sobre o tema da arrogância. E ele dizia que o que entrava muitas vezes certas decisões é o medo de parecer arrogante. E concluia que essa é exactamente uma das características agregadas ao espirito de inovação. Eu estou de acordo.
Muitas vezes a arrogância é a resposta à inveja, outras vezes não. Digamos que pode haver uma inveja negativa e outra positiva.

E, Bacouca, se estivesse aqui o Mike, diria que isto dava pano para mangas.;D