19/06/10

José Saramago (1922-2010)

A RTP2 passou ontem em repetição, uma entrevista de José Saramago a José Rodrigues dos Santos, parte de um programa intitulado "Conversas de escritores" que foi transmitido há cerca de um ano e que é importante rever. A conversa orientada para a obra a maior parte do tempo, revelou Saramago de forma simples, afável como não o terá sido noutras épocas da sua vida, condescendente com os seus erros e sem nada mais a provar num tempo que ele próprio terá reconhecido como próximo do fim. Saramago, soube no final da sua vida, criar o impacto que levará muitos a querer conhecer a sua obra. No final vi aquilo que ele quereria que eu tivesse compreendido - uma certa forma de ser- em formato de travessão gramatical. Saramago, tal como Borges, que ele admirava, vai ficar na história da literatura não apenas pelo prémio Nobel que todos querem reclamar, mas pelo estilo que soube criar com muitas ou poucas virgulas, com ou sem minúsculas nos nomes próprios, com ou sem memória para contar. O próprio deixou claro que os livros mais representativos da sua obra são o "Caderno de Pintura e Caligrafia" e "Levantado do Chão". Que reste em paz, quem tão polémico foi!

2 comentários:

Prof.Ms. João Paulo de Oliveira disse...

EPÍSTOLAS PAULIANAS
CONVERSANDO COM O NOBILÍSSIMO ESCRITOR JOSÉ SARAMAGO
Diadema, minha amada cidade, 19 de junho de 2010.
Nobilíssimo José Saramago!
Não consigo externar, através da linguagem escrita, com precisão o sentimento de desalento , de desamparo, que tomou conta da minha insulsa existência, desde ontem cedo, quando soube por intermédio da minha querida amiga, a jornalista Nívia Andres, que Vossa Senhoria deixou de existir...
Não é possível ficar indiferente ao se debruçar sobre seus imperdíveis e inquietantes livros, como por exemplo: “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, “Ensaio sobre a cegueira” e “Ensaio sobre a lucidez”, porque estas preciosas obras literárias desvelam, sem vaselina, seu argutíssimo e erudito viés de mundo, tornando-nos propensos a rever nossos conceitos e modos de vida, bem como nos possibilitam a pensar, pensar, pensar, pensar,pensar...
Quando cheguei à luz, neste maltratado e fascinante mundo, que ainda habito, Vossa Senhoria estava para completar 31 anos... Fico a divagar o deleite inefável que seria manter colóquios intermináveis com um pensador supimpa, como o caríssimo amigo, que nos legou além das suas preciosas obras literárias, um preceito irrefutável, que é estar sempre atento a ler nas entrelinhas, além de sempre especular, especular, especular, o que é estabelecido como dogma ou norma!!!
Sua existência foi um refrigério, um porto seguro, um oásis, num deserto de velamento e alienação!!! É evidente que seu viés de mundo causava comoção, porque não interessa aos poderes instituídos o questionamento ao que está estabelecido e é claro cidadãos inquiridores, que tem como escopo o desvelamento.
O seu desaparecimento ocorreu no período que está nas “luzes da ribalta” a disputa pelo almejadíssimo título de Campeão Mundial de Futebol. Se fosse um jogador de futebol renomado a deixar de existir, a comoção tomaria conta deste Reino digo República, que ainda vivo, que tem uma candidata ao cargo de Timoneiro Mor com perfil totalitário...
Como é aniquilante a dura realidade de saber que nunca, jamais, em tempo algum, teremos a prerrogativa de esperar sair do prelo mais uma imperdível obra de sua autoria...
Como será a não existência? O que é o nada? Como uma mente brilhante com a sua simplesmente desaparece para sempre? Que tristeza profunda saber que logo mais seus despojos mortais serão incinerados... Pensando racionalmente é melhor do que ficar imaginando a decomposição do seu corpo numa fria lápide, onde o silêncio sepulcral impera...
ATÉ NUNCA MAIS, CARÍSSIMO AMIGO JOSÉ SARAMAGO!!!!
NUNCA O VI, SEMPRE O AMEI!!!!
Até breve...
Compungidamente...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP - Brasil

Bacouca disse...

GJ
Para mim resumo assim a vida de Saramago (como me transmitiu um amigo meu):
O homem que nunca soube colocar uma vírgula teve direito ao seu ponto final.
Beijo