22/07/13

Livros e leitores

Numa entrevista recente, Miguel Sousa Tavares(MST) dizia, que o escritor tem de ter respeito pelo leitor e escrever livros que não sejam difíceis de ler ou se tornem chatos. Estou de acordo e pergunto-me o que torna um livro aborrecido aos olhos do leitor que o escolheu ou iniciou. O estilo, a narrativa, o tempo, o lugar, o enredo, o quê? Detesto deixar um livro a meio, considero mesmo, que é minha obrigação ler atentamente o que o autor me quis transmitir. Posso discordar ou não, gostar mais ou menos mas ao ler um livro preocupo-me em analisar diferentes aspectos e raramente me fico apenas com o enredo. Considero que o livro me deve transmitir algo e que uma historieta qualquer não serve os meus planos. Talvez seja por isso, que poucos escritores há nos dias de hoje, e tanta gente se permita escrever. Assinalo com prazer o prémio atribuído a José Luís Peixoto pelo "Livro" que na, minha opinião, já o era em excelência.
Hoje em dia com o marketing a funcionar, "O Delfim" de José Cardoso Pires seria um sucesso extraordinário, um bestseller, diz MST. Por acaso estou a reler esse livro e considero tarefa árdua ultrapassar o "nevoeiro" que ali se encontra. José Cardoso Pires é um escritor subtil e de prosa envolvente com o leitor, entende-se ou não conforme o espírito de quem o lê, a sintonia com o Portugal da época é igualmente importante para se continuar a leitura. Na minha opinião, os romances dele, são peças chave para a análise do nosso passado recente. Não quer isto dizer que sejam fáceis de ler, têm é de se tornar afectivos, têm de ter alma e devem ser fortes no respirar. Os livros são mais ou menos apetecíveis conforme o afecto e a empatia que têm com o leitor. Claro, que o marketing e a divulgação só vence se estiver adaptada ao conteúdo. É verdade, também, que os livreiros têm de ser trabalhados para colocarem o livro em destaque, mas o que leva o leitor a comprar é, em primeiro lugar o nome de quem o escreve, depois a capa e o título. Talvez estes dois últimos vectores se possam inverter, no entanto, o que me parece mais importante no todo, é sem dúvida o nome do autor, pelo menos para a primeira ligação entre quem escreve e quem lê. No caso do autor que lança o seu primeiro livro, tenho de reconhecer que o namoro é mais longo e pode não ser visto à primeira.

9 comentários:

Dreamer disse...

Também eu leio o livro até ao fim mesmo que não esteja a gostar. Tem de haver sempre qualquer coisa quanto mais não seja o empenho do autor. Neste momento estou a ler o "Inferno" de Dan Brown mas tenho alguma dificuldade porque a letra é muito pequena. No entanto, e ao contrário dos anteriores, não está a entusiasmar-me muito...
O Cardoso Pires era amigo do meu marido, mas confesso que não gosto muito do estilo!
Boas leituras. Bjs.

fugidia disse...

Com tanto para ler, se não me entusiasmo, interrompo a leitura. Já tenho muita leitura obrigatória; que a outra seja um prazer! :-)

Lina Arroja (GJ) disse...

Reconheço que é um pouco masoquista:D

Lina Arroja (GJ) disse...

Dreamer, aqui há 5 ou 6 anos comprei numa feira de rua em NY um livro do Wilhelm Reich. É-lhe familiar, verdade?
Bj

Dreamer disse...

Claro! Traduzi dois livros dele para a D. Quixote. :)
Bj.

Lina Arroja (GJ) disse...

Na realidade comprei dois. também traduziu o "Character Analysis"?
Nada fácil;)

Dreamer disse...

Traduzi "A Função do Orgasmo" e "A Análise do Carácter". O primeiro foi mais difícil... Bjs

Lina Arroja (GJ) disse...

Tenho os dois."A Função do Orgasmo" ed.1971, da World Publishing
e "A análise do Carácter" 3ºed.1972 da Simon and Schuster.

vbm disse...

Também li os dois Wilhelm Reich, incluindo o Zé Ninguém, traduzidos. Mas confesso, Herbert Marcuse impressionou-me mais no final dos anos 60.

Sinto que as livrarias hoje em dia não passam de stands de exposição e venda de artigos tipográficos, valendo a pena não ler mais de 97% do que aparece nos escaparates.É tudo literaura falsa, apenas manipulação psicológica sem interesse nenhum. Um dos últimos livros que reli a adorei foi o "D.Quixote de la Mancha" na tradução de José Bento. Muito interessante: é o poder da palavra a comandar a narrativa sempre tão cheia de surpresas e imprevistos. animou-me a abalançar-me ao "orlando Furioso" na tradução de Fernanda Periquito. Impressiona o poder descritivo dos curtos versos em rima!

abraço à GJ.
Já tinha saudades de a visitar.