25/07/16

O homem e o cão: two of a kind




Todas as manhãs, o homem moreno, alto, esguio e o seu cão preto magro e sério passeiam. Ele  corre e o cão acompanha. Não se desligam do seu percurso. Não olham para ninguém, correm, fixam o ponto de chegada e deixam o ponto de partida. É um homem bonito, enigmático, conhecido daqueles trilhos. Quem é? Ninguém sabe. Durante meses, o homem desapareceu. Onde estará, quem será?
Apareceu há dias, diferente! O cabelo está comprido, veio menos moreno e não corre, caminha, brinca e fica sentado num daqueles bancos de descanso. Contempla. O cão está mais gordo Perdeu parte da graça que tinha, porventura está mais simpático, os caracóis negros caem-lhe sobre os olhos. Perde-se em conversas com uma jovem dona de um cão. Está mais vulgar e normal, menos interessante, sem mistério. Deixou de ser o mais belo, é apenas mais um homem perdido de amores, deixou que a transformação se fizesse. Enquanto o sol nasce e desaparece vejo-os estender as mãos e deixar que os  cães corram. Partilham o que a natureza oferece, seguem caminho e desaparecem nos trilhos da vegetação. Quem são? o que fazem? Ninguém sabe! E os cães? Ah, esses correm atrás um do outro.