Celestino, anda ali para os lados da Boavista. No início era apenas uma pessoa que ajudava a estacionar. Braço para um lado, aceno de mão e de cabeça para o outro, dava os bons dias. Era como se estivesse a passar o tempo, ocupando-se com tarefas úteis e ligeiras.
Homem de estatura pequena, rosto marcado pela vida mas afável mantinha a barba feita, tinha um aspecto cuidado, falava com quem ali parava. Foi estabelecendo conversa de ocasião. Até que, numa dessas manhãs, ganhou coragem e apresentou o que verdadeiramente o aflligia. A família, a doença, o preço dos medicamentos. A saúde a bem dizer.
Foi o primeiro pedido de ajuda. Medicamentos com a justificação familiar, porque uma ajuda é sempre valiosa, disse Celestino. Mais tarde, vieram outras queixas. Uma vez a coluna que estava assim assim ou a perna fruto duma cirurgia azarenta. E Celestino,homem de cara rude, cabelo escuro e roupa emprestada foi passando a acompanhar outros arrumadores que nada tendo para arrumar, se voltaram para os estacionamentos.
E a pouco e pouco, a tosse e o cigarro passou a acompanhar o aceno de braço de Celestino, enquanto imitava os colegas recém chegados.
Hoje, Celestino chegou mais perto, na lapela do casaco pousava o crachá - Celestino B. arrumador autorizado, fotografia e identificação oficial. Olhei-o com curiosidade, o rosto já não vê uma lâmina há muito, bem como os seus olhos que perderam luz. O rosto duro e enrugado já não tem família à espera e Celestino também já não estaciona carros. Celestino espera apenas, arrumar uma moeda.