31/01/09

Alternativas possíveis


Um bailinho português com fado à mistura e a Ilha da Madeira à vista pode ser uma alternativa a considerar, nos dias em que a chuva e o mau tempos se fazem sentir no Continente. Curiosamente os céus dos Açores estão limpos.

O primo Hugo

Eu sei que o tema está a ficar cansativo, mas esta história do Zézito e do tio pai do primo que foi estudar para a China e que só regressa daqui a um ano não podia ficar em branco. Tanto mais Zézito, porque ao pé do seu tio ninguém lhe faz mal! Não é Manela?
Das fotografias publicadas sobre o assunto, a que gostei mais foi a do primo emigrado à pressa, em tronco nú. Em que Universidade da China é que dizem que o rapaz está?

30/01/09

Guga, menino amado!

O Guga faz hoje um ano e já começa a querer jogar com a bola que o pai, ferrenho portista do "fêcêpê" lhe comprou no dia em que ele nasceu. Eu até penso que o pai tendo a certeza que o filho iria gostar de futebol, há muito que já tinha guardada aquela bola assinada pelos jogadores da sua equipa. No dia em que o Guga nasceu, o pai refeito da proeza e do susto, fez duas coisas: registou-o na conservatória e inscreveu-o como sócio do FCP. Hoje deve receber as chuteiras porque o fato ele já tem. O Guga tem por outro lado uma mãe que tenta que o filho goste de flores e música e cheiro de hortelã. A música não tem problema porque o pai também é conhecedor nessas artes, agora as flores e o cheiro a hortelã deve ser mais difícil de aceitar. Ainda se fosse o cheiro da SuperBock... vá que não vá!
O Guga é um menino muito amado, faz as delícias dos pais quando ri e o desespero dos mesmos quando chora. Tem umas belas bochechas e as mãos sapudinhas da mãe. Ao pai foi buscar os caracóis o que é uma injustiça para a mãe que gostaria de os ter, mas parece que é olho vivo para a justiça, o que é ainda pior sendo essa uma tragédia de família.
O Guga pertence ao grupo dos meninos que só nascem porque há mulheres que sabem esperar e contrariar as forças da natureza, mesmo com riscos de vida e também homens que as acompanham nessa jornada desgastante, mas com final feliz. O que ficou pelo caminho entre o melhor e pior já não interessa, porque essas são as variáveis que fazem parte do desejo de ser mãe e constituem os tais sacrifícios que os filhos nunca sabem. Uma mãe nunca conta tudo e costuma ser parca na informação sobre si mesma, e ainda bem que assim é, mesmo que eu própria, nunca tenha perguntado à minha coisas que hoje gostaria de saber. Também é verdade, que só nos vem este desejo um dia fora de horas. Talvez por isso, eu aconselho todos os filhos e filhas a pedirem às mães que lhes contem coisas da vida delas, enquanto é tempo. Porque tal como todas as pessoas, as mães não nasceram mães, elas foram meninas e adolescentes, elas foram pessoas com vida própria, mas isso foi há muito muito tempo. Parabéns ao Guga e aos pais!

Rapariga esperta!

Claro que a Angelina Jolie não se enganou a vestir o vestido. O decote ficou muito mais interessante, a tatuagem pode ser vista e imagino que as partes traseiras estão melhores que as dianteiras nesta fase a seguir ao parto. Rapariga esperta!

29/01/09

A passagem do tempo

Um dia destes fui avó! Pensava eu, que tinha esquecido muita coisa, o que é verdade, a primeira fralda mudada ficou de pernas para o ar, mas a memória rapidamente devolveu um conjunto de lembranças diferentes. Imagino que os sentimentos vêm depois, à medida que netos e avós se revelam mutuamente.
Recebi o meu primeiro livro que uma querida amiga me enviou e que eu gostarei de retribuir um dia, se possível. Dizem-me que uma nova mãe nascerá em mim, e não sei se será assim, se um neto é a extensão de um filho. De qualquer forma os filhos nunca permitem que deixemos de ser mães em permanência. As mães não têm tempo, as mães não renascem porque não morrem, elas são eternas. E esta constatação é muito boa mas também perigosa, porque nos responsabiliza, mesmo que à distância e por via indirecta, pelos actos ou acções que os nossos filhos e filhas, possam ter ou fazer, durante uma vida. E é também por isso, que a responsabilidade da educação, da protecção, ou da punição nunca termina. E para uma mãe, mesmo quando eles são adultos, a tarefa nunca está acabada, vai-se completando conforme as fases da vida dos seus rebentos. Uma mãe vive, mesmo que não queira, os desaires e as vitórias dos filhos, uma mãe perdoa para além de esquecer, e esquece o que não devia ter perdoado.
Diz-se que a relação entre mães e filhas é mais conflituosa do que a relação entre mães e filhos. Tal apenas significa um conjunto de exigências e condescendências diferentes.
Para uma mãe é mais fácil educar rapazes. Se eles nos parecem mais brutos ou agressivos, mais não são que gente directa, se eles se manifestam básicos e por isso mais fáceis de antecipar, também resultam mais simples de por na ordem e de encaminhar. Pensamos nós, porque aquilo que nos facilita a vida na infância destes pequenos, é também o que menos deles gostamos enquanto homens em geral.
Já as raparigas são todo um conjunto de anseios, um turbilhão de questões e indecisões, fugidias, sempre a pensar uma coisa e a dizer outra, sempre a medir a causa - efeito. É por isso que as mães conhecendo melhor o que lhes vai na cabeça são mais duras e exigentes com as filhas e mais benevolentes com os seus "meninos". E as sogras, a quem se atribuíram as culpas ao longo dos anos, são simplesmente mães que adocicaram a vida ao rapaz e a azedaram à rapariga. A conclusão é que um homem raramente tem uma sogra e uma nora raramente tem um sogro. Uns e outros têm amigos que se compreendem.
Hoje em dia, estas relações tendem a ter um final diferente porque as mulheres aprenderam a ser mais básicas e os homens mais ansiosos. As sogras deixaram de ter o conceito de "malfeitoras" porque as mulheres se tornaram mais inteligentes e muitas vezes são elas as primeiras aliadas das mães dos seus netos. As mães têm filhas directas e de adopção, bem como amigas e amigos por opção. É que nos tempos que correm, a única certeza de continuarmos a ser avós o tempo todo é termos uma boa amizade com os filhos e as filhas dos dois lados. Já agora, a Francisca faz hoje um mês!

27/01/09

O ano do chimpanzé

Ouvi há dias num canal de televisão que 2009 é o ano do chimpanzé, e esta notícia vinha a propósito do falecimento do nosso português e da chegada do novo habitante vindo da Suécia. Eu pensava que já tínhamos macacos que chegassem, mas também é verdade que um "chimpan- zé" sueco sempre é uma atracção no Jardim Zoológico da capital portuguesa.

26/01/09

A propósito de estatísticas

"Eu sou de uma geração em que não havia estatísticas porque essa era a melhor forma de esconder o estado do país. Eu sou de uma geração que exige a medição!"(José Sócrates)
Yes, Prime Minister, eu, nós e os outros, estaremos atentos!

A dança do caldo entornado

E aí estamos nós outra vez com a dança do caldo entornado. Iniciamos o tormento que os canais de televisão adoram. Independentemente de ser verdade ou mentira,vamos ter os noticiários a abrir com entrevistas a ingleses e portugueses supostamente ligados ao caso Freeport. A contrapor as justificações do primeiro ministro Sócrates ou a entrevista no Expresso do tio do sobrinho do primo da tia que ninguém quer saber, aparece um tal senhor inglês a viver no Algarve e que apanhado a sair ou a entrar em casa não tinha nada para dizer apesar dos noticiários terem antecipado a verdade das verdades contada em directo nas televisões nacionais. E como nós gostamos de fantasiar aparece um sujeito a falar um português idêntico ao nosso inglês e que com a cabeça protegida da chuva por um pano que depois percebi ser um cachecol, dizia com ar patético vão embora que vocês vão ficar constipadas. E continuando o ridículo que nós tanto gostamos de mostrar e fazer parecer mal um estrangeiro qualquer, continuamos a perguntar se o tal engenheiro inglês parece que se chama Charles tinha falado com o Ministério do Ambiente e a resposta do senhor, primeiro sem entender e logo a seguir, a dizer que tinha estado no edifício que era muito grande, mostrando com os braços a dimensão do mesmo. E claro, que ele não tinha falado com ninguém de relevante e que nunca tinha falado com quem os jornalistas inquiriam ou queriam.
Perante esta palhaçada só me lembrei da outra que dá pelo nome de Maddie e que também no Algarve nós fazíamos figura de parvos e infelizmente os ingleses conseguiam ser vitimas e heróis e nós nem uma coisa nem outra conseguimos ainda ser.
E o que me encanita é que não vamos ao que interessa e que até pode ser apurar a verdade. A questão termina sempre em teorias de conspiração entre políticos, só que ultimamente para dar mais cor ao espectáculo incluímos estrangeiros ou estrangeirados no processos internos que só nos envergonham. A globalização das notícias fazem o espectáculo brilhar de outra forma e feitio, mas duvido que no final saia alguma coisa que preste a não ser ganharem aqueles que supostamente se quer crucificar.

24/01/09

O mar do meu Porto

Depois de uma semana ventosa, com os barcos parados ao largo, antecipando a tormenta e deixando a esperança dum fim de semana caseiro, eis que amanhece um dia com raios de sol e acima de tudo com um mar de ondas lindas brancas e a acalmar. Assim, do alto da minha janela, o sol e mar brilham num cinza prata que só a bonança conhece. E mais uma vez o meu Porto não me deixou ficar mal! Afinal vou ter um fim de semana com sol e passeios à beira mar.

22/01/09

O Jaime que eu conheci

O Jaime que eu conheci era tudo o que dele a história reza e as crónicas dizem. O Jaime que eu relembro era o artista que nunca perdeu a dignidade mesmo nos momentos mais difíceis da sua vida. Sempre acompanhado pela sua Mimi, numa relação de toda a vida, ela própria uma comédia de opereta. O Jaime ainda foi capaz de me dizer na última vez que estivemos juntos "Estás cada vez mais linda, filha! Deixa-me ficar aqui ao pé de ti!"
O Jaime queria apenas a atenção do seu público, como tantos artistas que ao envelhecerem nunca deixam de querer ficar iguais a si mesmos. O Jaime homem bondoso e de uma generosidade tremenda, que nunca deixava de aparecer e contava histórias e os olhos riam. Podia não dizer coisa com coisa, mas uma coisa ele dizia: "gostas dos meus quadros ? qual é que queres? leva, escolhe e depois logo se vê!"
É isso Jaime, até depois, que logo se vê!

Jaime Isidoro

"A carreira de pintor de Jaime Isidoro, nascido no Porto em 1924, situa-se em dois momentos afastados no tempo que demarcam duas fases diferenciadas: uma primeira situada entre os meados dos anos 40 e os meados dos anos 50 do séc. XX e uma segunda desenvolvida a partir da segunda metade da década de 80 até à actualidade. Naquela primeira fase, Jaime Isidoro foi largamente premiado, tendo recebido praticamente todos os prémios institucionais então atribuídos ma sua área. O artista sempre manteve, paralelamente à actividade pictórica, uma vasta acção de animador cultural, galerista, professor, estando ligado a momentos fundamentais da história das artes plásticas na cidade do Porto e no país. Em 1954, funda a Galeria Alvarez, por onde passaram também nomes interessantes da arte portuguesa. Evidenciando um interesse especial pela concretização de projectos culturais inovadores, promoveu os Encontros Internacionais de Arte nos anos 70 e editou, na mesma época, a Revista de Artes Plásticas, que teve colaboração dos principais críticos e artistas portugueses daquele período. Foi ainda responsável pela criação da Bienal de Vila Nova de Cerveira no início da década de 80. Em 1999, no âmbito da X Bienal, foi-lhe prestada uma grande homenagem.
Essencialmente reconhecido pela prática exímia da aguarela, Jaime Isidoro é um pintor versátil que conjuga uma delicada aprendizagem académica com um claro sentido inovador. As suas obras sobre o Porto encontram-se entre as que melhor souberam dar expressão iconográfica à cidade. Sem nunca sair de uma matriz considerada tradicional, permitiu-se, em diferentes momentos da sua carreira, e com certa contenção, assinar obras onde a ousadia deixa uma marca importante. "

21/01/09

Blog de Ouro

A Ana V. da Porta do Vento teve a gentileza de me incluir na cadeia do Blog de Ouro o que para mim constitui uma honra. Pede-me para continuar e indicar outros seis blogues femininos. O problema está na palavra outros, é que alguns já estão aqui mesmo e foram nomeados. Vou tentar sair desta ingrata tarefa nomeando a Isabel, a Carlota, a Rita, a Luísa, a Mariana e volto a nomear a Ana. E agradeço mais uma vez a amizade blogosférica e também daqueles e daquelas que contribuíram para que o meu "bom nome" fosse lido e visitado.

20/01/09

Remaking America


Precedido por uma apoteótica Aretha Franklin, o novo Presidente dos EUA iniciou o seu discurso de tomada de posse. Como sempre Barack Obama primou pela forma como se apresenta perante uma multidão. Obama transmite o que sente e se o vai conseguir ou não, neste momento já não interessa. O importante é que este 44º Presidente é um homem de fé e um homem com sorte. Teve a sorte de ter nascido num país de oportunidades, teve a sorte de ter crescido numa família branca da classe média americana e ser filho de um africano estudante universitário do Quénia, que também teve a sorte de ganhar uma bolsa de estudo e vir para o país da esperança.
(Tribune photo by Terrence Antonio James / January 20, 2009)
Barack Obama teve a sorte de ter tido uma mãe branca, filha única, que podia estudar e que fruto da liberdade e condescendência de uma família pouco convencional, seguiu o seu caminho e até estudou antropologia. Teve ainda a sorte de ter avós que puderam tomar conta duma criança que podia ter levado o caminho incerto de outras crianças filhas de pais divorciados cujos pais desapareceram e as mães esqueceram. Obama teve a sorte de poder conhecer as suas origens africanas, de visitar África e de estudar e frequentar escolas.
O novo Presidente num dos seus discursos de campanha apontou para a incidência de mães solteiras e de pais ausentes, em especial, nas famílias afro americanas. Ele sabia do que falava!
Hoje, no seu discurso inaugural Obama falou em igualdade e liberdade, em oportunidade e grandeza, em estatísticas e competência, em economia e trabalho, em fé e capacidade, em emprego e desafio, em curiosidade e escolaridade, em prosperidade e excelência, em crise e violência, em justiça e política interna, em militares e política externa, em paz e dignidade, em alianças e segurança.
Barack Hussein Obama relembrou o patchwork do qual a América é feita. Das diferentes culturas, de diferentes raças, de diferentes etnias, dos emigrantes que fizeram aquilo que é a sociedade americana, das pessoas que arriscaram para ter uma vida melhor mas que também deram uma nova vida à América e que continuam a dar a vida pelos Estados Unidos da América.
..."People judge you on what you build and not on what you destroy...by what a free man and woman can achieve... we do not apologize for our way of life"...
E é por palavras como estas que nós observadores portugueses, europeus, asiáticos, africanos, americanos e tais, olhamos para os EUA e sabemos que eles são capazes e ficamos alegremente à espera de também o sermos. Parabéns América!

A day to remember, Mr. President!

The 44th President of the USA, Mr. Barack Hussein Obama
Mr. President and the First Lady Michelle Obama
Congratulations Dad
Fonte: Chicago Tribune. com;
Fotografias: AP (January 20, 2009)

Obama's musical mania


*NEW* 2008 Aretha Franklin - Stand Up For Yourself

Shakira, Stevie Wonder, and Usher

Bruce @ Obama

U2 at Obama inauguration concert

Obama Inauguration Tribute

Enquanto aguardamos a cerimónia do século...

19/01/09

As unhas ou a vida!

Imagino que alguns já conhecem esta nova ideia mas para mim que me sentia triste porque pensava que já tínhamos todas as soluções para unhas, esta é uma autêntica jóia da coroa. E, na verdade, a minha alma está mais sossegada. O homem inventa aquilo que o homem não tem! A pergunta que deixo é se o produto terá muita procura, se será fácil de usar ou se haverá ainda mais espaço neste mundo dos absurdos?
"Forget a manicure—try jewelry on your nails"in style.com

16/01/09

Vou de frosques até domingo!


Julie London - I'm Coming Back To You

15/01/09

Ricardo Montalban

Quem não se lembra de Ricardo Montalban, Mr. Roarke em "Fantasy Island" . Morreu, esta quarta-feira em Los Angeles. Tinha 88 anos.

Fantasy Island (1978)

"People are strange"



The Doors - People are Strange

14/01/09

Haiti (IV)

Arte e pintura de rua, Haiti

Haiti (III)


As pessoas, os cheiros e os sons de um país é o que melhor guardo na memória já que as cores fazem parte do colorido natural dos meus olhos. Calculo que é o que nos faz mais falta quando estamos longe dos lugares de que gostamos. Circular ou andar a pé no mês de Agosto não era fácil. Miúdos e graúdos procuravam esconder-se do sol e os estrangeiros encontrar um local com ar condicionado. A imaginação e a boa fé dos habitantes ensinava e ajudava a encontrar alternativas.
A Catedral de Port-au-Prince era um dos locais mais frequentados entre as 14 e as 16 horas. Era calmo, fresco e privilegiado para o momento da meditação, vulgarmente conhecida por sesta.

Se durante o dia era sol e calor respirado e misturado em recantos onde as galinhas corriam, as crianças brincavam e as mulheres se lavavam em água macilenta, com o cair da noite fogareiros à porta das casas, traziam os cheiros que antecipavam petiscos e temperos que me lembravam carqueja e outras coisas desconhecidas. Bem perto, a música, os risos e a algazarra à volta do alumínio dos pratos fazia-se ouvir. Ao longe e de tempos a tempos, alguns tiros também. Sons perdidos numa cidade que no dia seguinte nada tinha a contar, apenas pequenos desacatos que os jornais relatavam e os dissidentes políticos reclamavam.

A cidade transformava-se com o cair da noite. Os morcegos rondavam as palmeiras e as águas duma piscina que não chegava a arrefecer, os mini lagartos e lagartixas gigantes, os mosquitos e as baratas voadoras faziam parte daquelas noites quentes e húmidas com trovoadas que me assustavam mas que divertiam e animavam os meus novos amigos. A chuva depois da seca é uma autêntica festa crioula. A esse propósito, um dia estava num restaurante quando desatou a chover e um homem entrou correndo e esbracejando. Falava o que eu não entendia, chamava os outros para irem ver qualquer coisa que eu não sabia, e foi nesse momento que me dei conta que era a única pessoa branca naquele local. Por momentos senti receio, e pensei nos que me tinham avisado sobre a tontaria da minha visita ao Haiti, para logo todos nos rirmos porque afinal era a chuva o motivo do estardalhaço!
Recordo o dia, em que estando no quarto, vi "uma simples e pobre barata voadora" e telefonei para a recepção dizendo o que me veio à cabeça "J'ai un animal dans ma chambre!" passados uns minutos apareceu um empregado com caçadeira... a partir daí passei a ser motivo de divertimento "la dame qui avait un animal dans sa chambre..." diziam e riam com benevolência.

Não era difícil ser conhecida num hotel que tinha como hóspedes os três professores da Universidade Canadiana e os próprios donos, família de longínqua origem alemã, mas há muito radicada no país, que lá vivia com os seus filhos e que rapidamente me convidou para o seu recanto. Fiquei a saber que borboletas gigantes no cimo da porta tem significado de bom ou mau agoiro, e conheci uma das maiores colecções de pintura que um particular pode possuir em casa. Tive a sorte de me oferecerem uma peça que guardo aqui ao meu lado.

Não havia também dificuldade em arranjar pessoas para tomar conta da minha filha, a dificuldade era saber quem é que o tinha feito, porque todos levantavam o braço quando questionados sobre o trabalho de babysitter. Aprendi também que era escusado perguntar quem é que tinha feito isto ou aquilo, porque a resposta era óbvia. No caso do tomar conta, é claro, que eram todos. E foi aí que deixei a maior parte dos dólares que levava. Mas também foi durante essas alturas, em que à noite, limitada pela minha acompanhante de três meses, passava muito tempo no hotel e conversava com os empregados. E se eles tinham histórias!

Preocupavam-se com as doenças como a cólera que matava um filho, mas que também deixava mais comida para as outras bocas que havia em casa para alimentar. Esta racionalidade não é compreensível para um europeu ou para alguém que viva em abundância. Tal como não é compreensível que para comprar tabaco o táxi nos leve à gare marítima, buzine e do nada apareçam magotes de crianças que nos atiram para dentro do carro pacotes de Marlboro, e que sem percebermos o carro fica cercado e o dinheiro é disputado por mãos que já ninguém sabe de quem são. E enquanto o carro desaparece, aquelas crianças lutam e gritam e o taxista ri e nós choramos por dentro.

E com a noite chegam às portas dos hotéis, mães que acompanham e oferecem filhas, algumas ainda crianças, mas que são a recompensa de mais um pão no dia seguinte. E a naturalidade do acto torna difícil o nosso julgamento reprovador.
E todos têm histórias e experiências de voodoo e conhecem gente que virou zombie. E têm medo! E se à noite a conversa no hotel era uma, durante o dia a conversa à volta da piscina era feita pelos familiares do pessoal diplomático ali estacionado, por um ou outro conhecido dos donos que utilizavam a piscina para lazer e também alimentavam algum favorecimento local. E as conversas que falavam da pobreza alheia, com desdém, também ensinavam os locais de compra geridos por marcas francesas e estrategicamente, localizados junto das casas dos brancos, para não parecer mal. Quem chega de cor branca a um país de pele maioritariamente escura, tem vergonha de mostrar riqueza. Com o tempo imagino que tudo se resolve e o branco e o preto entram apenas na noção de opostos mas iguais, desde que possam comprar nos mesmos sítios e lugares, o que no Haiti não era, nem é o caso.
O Haiti que eu conheci, já vivia abaixo do limiar de pobreza mas ainda não era o lugar de hoje. Era, apesar de tudo um país de gente corajosa, que não pedia esmolas, que tinha orgulho nos seus, que acolhia o visitante o melhor que sabia e que me deixou uma enorme saudade e também o sentimento de impotência perante aqueles que me continuaram a escrever cartas de duas linhas a pedir ajuda e auxílio para saírem dum país sem futuro.

Gente, que um dia na sua simplicidade me explicava como comer o seu fruto preferido: "Tu prends le mango, tu cherches le couteaux, tu coupes le mango et tu manges en petits morceaux, comme çá! Tu vois? C'est très simple!"

Enquanto dou corda ao relógio ...

Para o Mike,


Rua do Padrão, 103 - Foz do Porto
Com decoração em tons terra, ao lado do mar, classificado one CoolPlace, o Terra tem homónimo em Lisboa mas heterónimo no Porto, com as especialidades que se seguem:

Entradas: Raviolis de sapateira com molho de açafrão; Rotolo de ricota e espinafres com manteiga de salvia; Carpaccio de polvo com molho verde; Salmão fumado.
Sopas: Sopa de peixe aromatizada com pernod; Capuccino de cogumelos porcini.
Pastas: Taglioline verde com gorgonzola, nozes e alho francês; Tagliatelle al pesto renforzado; Spaghetti salteado em azeite e alho com amêijoas frescas.
Peixe: Salmão tostado com pancetta e espargos salteados; Espetada de vieiras e tamboril com molho de rosmaninho; Lulas e gambas grelhadas com tomate e coentros; Lombo de bacalhau fresco com molho de tomate e pesto.
Carne: Escalope de vitela com molho de limão e alcaparras; Filet mignon; Frango recheado com mozarella e espinafres; Carré de borrego com crosta de ervas aromáticas e limão; Saltimbanca de porco preto.
Doces: Sopa de melancia com gelado de menta; Tiramisú; Fondant de chocolate com creme inglês e morangos; Tarte merendada de limão; Vários gelados.


E importante, aceita cartões de crédito, não fecha à semana e não tem nada que enganar!

06/01/09

Dia de Reis

E uns dias depois do nascimento, chegaram por volta do dia 6 do mês seguinte, os convidados que faltavam. Vinham cansados e já ninguém contava com eles, traziam luz, brilho, conhecimento e vinham de longe. As suas vestes indicavam distinção, magia e encanto de outros continentes. E os Reis Magos, nome pelo qual ficaram conhecidos, traziam mirra, incenso, ouro e mais alguma coisa para o menino Jesus. E todos os anos eles aparecem, sempre atrasados e cansados. Este ano os Reis não quebraram a regra e trouxeram bem aconchegada a pedra mais bela e com ela as cores da ametista para dar energia e as da granada para dar alguma preguiça à vida e outras para dar sorte, saúde e alegria durante os próximos quartos de século. De avô para neto que a tradição entre as gerações se cumpra e que a passagem se faça no nosso tempo. Parabéns, meu terno parceiro e amigo, meu eterno companheiro!

05/01/09

Haiti (II)

A chegada ao Aeroporto Internacional de Port-au-Prince teve o impacto do calor, do caos e da transpiração que eu iria viver durante os próximos tempos. Parte das malas não chegaram e até aqui nada de novo para quem viaja, a novidade estava reservada para dois ou três dias depois quando feita a viagem de ida e volta com a mala em meu poder, o militar de serviço me sugeriu que o dinheiro lhe daria jeito... Nestas coisas temos o visitante e a mala dum lado, o oficial e a arma do outro, vence o segundo! Esta foi a primeira lição do que percebi ser um nível de corrupção que eu não conhecia. Na época, o Haiti tinha no poder Jean- Pierre Duvalier "Baby Doc", filho de "Papa Doc" anterior Presidente.

O Palácio Presidencial branco e imponente estava munido de arcas frigoríficas para conservar os casacos de pele da primeira dama. A visita ao Palácio era feita de forma a mostrar a grandiosidade dos seus governantes e o luxo das desigualdades. Durante todo o período tive ao meu dispor um segurança que hoje sei que foi fundamental e que na altura me parecia uma extravagância da entidade universitária. Chamava-se Dernier BonHomme e tinha este nome por ter sido o último filho daquele pai. Ele próprio tinha vários filhos e transportava a minha como se fosse um objecto de ouro. Todas as manhãs estava à porta do Hotel para me acompanhar ou apenas, para ficar à minha disposição para o que desse e viesse. Como ainda não estava habituada aos rituais africanos eu achava que era uma imposição tola, mas a seu tempo voltei a conhecer a gentileza e a subtileza do meu acompanhante, ele nunca se intrometia.

No mercado ia à frente abrindo fileiras, olhava à distância com aquele olhar africano que, sem darmos conta, nos observa e protege. Certificava-se que o preço era correcto, se não me aborreciam os vendedores, se as duas estávamos em segurança.
O preço correcto é um eufemismo que não tem significado num país onde gastei mais dinheiro em gorjetas do que em compras ou serviços. Um país que vivia do turismo e que estava "às moscas" porque deles corria o boato que eram os responsáveis pela Sida.
As condições de trabalho eram razoáveis e até havia ao fundo da sala uns "senhores de fato" que de facto apenas ouviam e observavam o que ali se dizia. Duvido que fosse para aprender conceitos de gestão ou economia!

(continua)

Intermezzo

"No século XVIII, o Haiti, então chamado de Saint-Domingue, e governado pelos franceses, era a mais próspera colônia no Novo Mundo. Seu solo enormemente fértil produzia uma grande abundância de colheitas e atraiu milhares de colonizadores franceses." (in wikipédia)

Haiti (I)

As fotografias podem ou não fazer justiça a quem lá fica, mas a lente do fotógrafo tem sempre um objectivo. Neste caso, a fotografia de Alice Smeets teve o Prémio Unicef, atribuído à melhor Fotografia Internacional do Ano de 2008.
"People live unprotected in stinking and burning waste, without work, without reliable sources of energy, without drinkable water, without clean air to breath, without money for their next meal. In the hovels the poorest of the poor resort to eating dirt simply to fill their stomachs. In a setting like this, a little girl in a white dress seems to be a frightened angel that finds itself in the underworld and nevertheless determined to fight for a little bit of beauty."
Photo: Alice Smeets, Belgium, Out of Focus

Esta não foi a prémio, é apenas uma fotografia tirada do quotidiano de um mesmo país, de uma mesma sobrevivência, de mais um dia de trabalho e de negócio!

Foto: Subúrbios de Port-au-Prince

E agora, quem limpa a lágrima duma cara bonita e de olhar intenso e que protegida pela face semi-oculta da mãe, irá seguir o caminho de tantas outras a menos que a linha da vida lhe tenha designado outra sorte?

Foto: Chorando em Port-au-Prince, Haiti

Em Julho de 1984, cheguei a Port-au-Prince, com uma das minhas filhas, que na altura tinha três meses. Contrariando amigos e conhecidos, poderíamos ter uma espécie de semi-férias ao abrigo de um Protocolo entre uma Universidade do Canadá e a Universidade de Port-au-Prince, no Haiti. Seria possível acumular aulas, praia e recompensa financeira durante um periodo de dois meses. Quem parte para um país, numa época em que o vírus da Sida se manifesta em toda a sua pujança e em que o mal da doença é atribuído aos emigrantes haitianos residentes na América do Norte, não esquece a experiência, o povo e o país, a fotografia e a realidade das imagens.

"This glimpse of how hell could look, overwhelmed the young Belgian photographer, Alice Smeets, on her first trip to Haiti. The more time she spent in the country, however, the more this feeling eased, to be replaced by compassion and a strong desire to use her photography to raise awareness for the oppressed and humiliated. " (Unicef, Photo of the Year International Award, 2008)

(continua)

04/01/09

Para a Miss Pearls: colegas de profissão!

"...Afinal, que têm em comum a Senhora Bush, Golda Meir, Nadezda Krupskaia (mulher de Lenine) e Hilda Guevara? E Mao Tse-Tung, Hume, Lewis Carroll, Benjamin Franklin e Marcel Duchamp? Pois bem: foram todos colegas de profissão e logo, meus colegas também..." (Miss Pearls)


Tetes à Claques - La Bibliothèque
Canada

02/01/09

Monthy Python - Spam

Nós, os parodiantes!

Somos um país de parodiantes. A diferença entre um parodiante e um comediante é que o primeiro não tem escola, a piada vem-lhe ao sabor da ocasião e o mote da piada é que consegue ser piadético do nada. As rábulas não têm história e tentam ser nonsense. Por outro lado, um comediante sabe pegar num texto e interpretar o autor ou dar-lhe uma interpretação com estilo e figura. Enquanto os parodiantes são uns "faz figuras" os comediantes têm figura. O comediante fica para a história do humor e da comédia, enquanto o parodiante fica para a história do esquecimento passado o tempo da paródia.
Nós, portugueses, gostamos de paródia e por isso, dá que pensar como é que um povo que gosta tanto de rir, ri tão mal. E ri sem saber do que ri e chora em vez de rir e tem o fado na alma sem ter a alma do fado. De todos os temas sabemos fazer graças, mas não temos a graça de ter um país de actores conhecidos e reconhecidos nos lugares certos. No nosso tempo e num século de graça não há graça que nos deixe ficar na memória uma comédia de comediantes. Não há escolas de teatro e de comédia que consigam vingar num país que tanta graça tem, mas que não sabe rir de si próprio. A comédia é difícil e a graça está na subtileza do actor e do guionista. Nos últimos anos têm aparecido jovens que tentam e, alguns até podiam, ter sucesso se fossem ensinados a fazer e a ter graça. Como em tudo na vida a comédia tem de ser estudada, o actor ensinado, o escritor aprender a escrever, o ensaísta saber ensaiar e o teatro aprender a captar plateias de gente mais fina no conhecimento e na degustação.
Os países que sempre tiveram gosto pelo ensino das artes e fomentam o seu desempenho, têm actores e continuam a interpretar de forma passada ou presente coisas de todas as épocas e de todos os tempos. Um bom trabalho com conceito, como se diz hoje, não passa de moda porque tem passado, ao contrário da paródia de um trabalho que tem a moda do tempo. Por isso, não é de admirar que canais como a SIC Radical ou Antena 3 tenham orçamentos reduzidos e façam o que podem para chegar a um pequeno público.
Fernando Alvim é uma das pessoas, que num sítio e noutro tenta fazer diferente, mas ele enferma do mesmo problema: é apenas um parodiante que gosta de trazer outros parodiantes à tona. E o Alvim, que na minha opinião, tem um enorme talento, devia procurar a Escola antes de querer fazer escola. É que vai acabar como o outro ídolo do humor português, que está a fazer o que a roda da sorte lhe deu e que esgotada a febre não o deixou nem actor, nem cantor, nem produtor, nem provavelmente rico.
O caso mais recente do Bruno Aleixo é disso exemplo. São jovens que fizeram outras coisas, licenciaram-se noutros assuntos e a "ocasião fez o ladrão". Deu-lhes para fazer uns sketches, colocar uns trechos na net, conhecer o Alvim e ter direito a entrevista no Público. Apesar de tudo, o sucesso vai aparecer mais alargado mas a sorte terá memória curta. É que eles estão a fazer, por acaso, o que pensam ser nonsense, mas isso já o Herman tentou olhando para alguns exemplos, como os Monty Python que construíram "a escola" de nível internacional.
Um país que não sabe rir de si próprio não pode fazer nonsense por acaso, e é pena que os mais novos não procurem ser ensinados por profissionais da comédia.

01/01/09

Happy new year, Francisca!

London Fireworks 2009


London Fireworks on New Year's Day 2009