19/04/11

Ser boa gente

Há homens, que não podem ser vulgares sob pena de passarem despercebidos. Há homens, que têm de ser excêntricos para, ao serem amados ou odiados, serem ouvidos. Há homens que só servem a pátria se souberem ouvir e gostar dos outros. Há homens, que gostam mais de si próprios durante a maioria do seu tempo. Há homens, que não conseguem remediar o passado apesar de serem ricos. Há homens, que desperdiçam os seus talentos na busca de uma crença. Por outro lado, há pessoas que, apesar de menos interessantes, conseguem ser grandes homens. Uns e outros não deixam, porém, de poder ser boa gente.

13/04/11

Paga o justo pelo pecador

A empresa em que eu trabalho faz tempo que tem um display electrónico. O dispositivo para além de chamativo tem o poder de divulgar produtos e outros elementos que se considerem estratégicos. É um mobiliário publicitário da estratégia de comunicação. Como está exposto às intempéries tem uma taxa de avarias elevada. Desde o inicio da sua existência que a empresa fornecedora é chamada para reparar os males que, de tanto acontecerem, eles, os fornecedores já conhecem e o cliente, impacientado com as reparações constantes, chama a contragosto e desconfiança. Assim, apesar de durante anos todos os intervenientes andarem neste banho-maria, o dito display ia sendo reparado e reiniciado quase sem se dar conta do seu problema, ou seja, mantendo a informação no ar de forma constante e continuada. Até ao dia, em que exautos de confiar nos mesmos,  decidimos desconfiar de vez do fornecedor e ditar regras diferentes. Outra empresa, que uma vez chamada, disse logo o que os ouvidos cansados queriam ouvir: "isto resolve-se já e se tivéssemos sido nós a vender, nada disto acontecia!". A empresa milagrosa, em quem se depositou nova confiança e que passou a reparar o dito, apareceu em Novembro do ano passado. Estamos, em Abril e o display continua parado e não conseguiu manter-se no ar 24 horas seguidas desde então.
Nós, portugueses, temos a mania de desconfiar de todos e de achar que o próximo é sempre melhor que o anterior. Os portugueses gostam de pensar que são mais espertos que o anterior pensador ou que pelo menos somos bafejados por luminárias com poderes para alvejar o mal instalado fornecendo soluções que pelo facto de serem iguais mas apresentadas por gente diferente nos tirará da miséria e do marasmo. Existe a convicção de que pelo menos mudar faz bem e trará ventos melhores, e acima de tudo gente mais honesta. Os portugueses como desconfiam de tudo e de todos pensam que o próximo é sempre mais honesto e menos mentiroso que o anterior. Poucos dias passaram sobre a demissão de Sócrates, sobre o aparecimento de Passos Coelho com ar de primeiro-ministro e já verificamos que as trapalhadas e as afirmações que têm de ser desmentidas ou esclarecidas são e serão mais que muitas. Poucas horas tem o FMI em terras lusitanas, mas também já deu para entender que afinal os PEC's não eram o pior que nos podia acontecer. Os portugueses deviam ter sido capazes de acreditar em quem já conhecia o mal e que dando um jeito aqui e outro acolá mantinha o aparelho a funcionar. Pena que tivessem pensado que os que vinham a seguir eram mais honestos que os anteriores.  Pena que tivéssemos deixado cair a democracia nas ruas da amargura e que já ninguém soubesse onde andavam os honestos e desonestos. Paga o justo pelo pecador!