A empresa em que eu trabalho faz tempo que tem um display electrónico. O dispositivo para além de chamativo tem o poder de divulgar produtos e outros elementos que se considerem estratégicos. É um mobiliário publicitário da estratégia de comunicação. Como está exposto às intempéries tem uma taxa de avarias elevada. Desde o inicio da sua existência que a empresa fornecedora é chamada para reparar os males que, de tanto acontecerem, eles, os fornecedores já conhecem e o cliente, impacientado com as reparações constantes, chama a contragosto e desconfiança. Assim, apesar de durante anos todos os intervenientes andarem neste banho-maria, o dito display ia sendo reparado e reiniciado quase sem se dar conta do seu problema, ou seja, mantendo a informação no ar de forma constante e continuada. Até ao dia, em que exautos de confiar nos mesmos, decidimos desconfiar de vez do fornecedor e ditar regras diferentes. Outra empresa, que uma vez chamada, disse logo o que os ouvidos cansados queriam ouvir: "isto resolve-se já e se tivéssemos sido nós a vender, nada disto acontecia!". A empresa milagrosa, em quem se depositou nova confiança e que passou a reparar o dito, apareceu em Novembro do ano passado. Estamos, em Abril e o display continua parado e não conseguiu manter-se no ar 24 horas seguidas desde então.
Nós, portugueses, temos a mania de desconfiar de todos e de achar que o próximo é sempre melhor que o anterior. Os portugueses gostam de pensar que são mais espertos que o anterior pensador ou que pelo menos somos bafejados por luminárias com poderes para alvejar o mal instalado fornecendo soluções que pelo facto de serem iguais mas apresentadas por gente diferente nos tirará da miséria e do marasmo. Existe a convicção de que pelo menos mudar faz bem e trará ventos melhores, e acima de tudo gente mais honesta. Os portugueses como desconfiam de tudo e de todos pensam que o próximo é sempre mais honesto e menos mentiroso que o anterior. Poucos dias passaram sobre a demissão de Sócrates, sobre o aparecimento de Passos Coelho com ar de primeiro-ministro e já verificamos que as trapalhadas e as afirmações que têm de ser desmentidas ou esclarecidas são e serão mais que muitas. Poucas horas tem o FMI em terras lusitanas, mas também já deu para entender que afinal os PEC's não eram o pior que nos podia acontecer. Os portugueses deviam ter sido capazes de acreditar em quem já conhecia o mal e que dando um jeito aqui e outro acolá mantinha o aparelho a funcionar. Pena que tivessem pensado que os que vinham a seguir eram mais honestos que os anteriores. Pena que tivéssemos deixado cair a democracia nas ruas da amargura e que já ninguém soubesse onde andavam os honestos e desonestos. Paga o justo pelo pecador!