Numa entrevista recente, Miguel Sousa Tavares(MST) dizia, que o escritor tem de ter respeito pelo leitor e escrever livros que não sejam difíceis de ler ou se tornem chatos. Estou de acordo e pergunto-me o que torna um livro aborrecido aos olhos do leitor que o escolheu ou iniciou. O estilo, a narrativa, o tempo, o lugar, o enredo, o quê? Detesto deixar um livro a meio, considero mesmo, que é minha obrigação ler atentamente o que o autor me quis transmitir. Posso discordar ou não, gostar mais ou menos mas ao ler um livro preocupo-me em analisar diferentes aspectos e raramente me fico apenas com o enredo. Considero que o livro me deve transmitir algo e que uma historieta qualquer não serve os meus planos. Talvez seja por isso, que poucos escritores há nos dias de hoje, e tanta gente se permita escrever. Assinalo com prazer o
prémio atribuído a José Luís Peixoto pelo "Livro" que na, minha opinião, já o era em excelência.
Hoje em dia com o marketing a funcionar, "O Delfim" de José Cardoso Pires seria um sucesso extraordinário, um bestseller, diz MST. Por acaso estou a reler esse livro e considero tarefa árdua ultrapassar o "nevoeiro" que ali se encontra. José Cardoso Pires é um escritor subtil e de prosa envolvente com o leitor, entende-se ou não conforme o espírito de quem o lê, a sintonia com o Portugal da época é igualmente importante para se continuar a leitura. Na minha opinião, os romances dele, são peças chave para a análise do nosso passado recente. Não quer isto dizer que sejam fáceis de ler, têm é de se tornar afectivos, têm de ter alma e devem ser fortes no respirar. Os livros são mais ou menos apetecíveis conforme o afecto e a empatia que têm com o leitor. Claro, que o marketing e a divulgação só vence se estiver adaptada ao conteúdo. É verdade, também, que os livreiros têm de ser trabalhados para colocarem o livro em destaque, mas o que leva o leitor a comprar é, em primeiro lugar o nome de quem o escreve, depois a capa e o título. Talvez estes dois últimos vectores se possam inverter, no entanto, o que me parece mais importante no todo, é sem dúvida o nome do autor, pelo menos para a primeira ligação entre quem escreve e quem lê. No caso do autor que lança o seu primeiro livro, tenho de reconhecer que o namoro é mais longo e pode não ser visto à primeira.