15/03/18

Histórias do quotidiano

Ainda não era o tempo dos alternativos e o táxi era lento, continuava devagar pelas ruas que amanheciam rápido. os vidros embaciados reflectiam que tinha estado parado algumas horas e que o dia de trabalho havia começado cedo, por volta das 5 da manhã.
O carro está frio, disse ela. Eu tenho aquecimento, disse ele, vou abrir um bocadinho para lhe dar calor nos pés. O vidro está embaciado porque  não o limpei por dentro. Não conhece o truque? continuou o homem, é fácil. Limpa os vidros por fora com shampoo e passa o pano do lado de dentro. Vai ver que nunca mais tem problemas, não fica turvo, não embacia, pode chover o dia todo! Já o aquecimento interior não é necessário, só um bocadinho para as clientes aquecerem os pés.
A senhora tem pressa? Vai fazer o exame  lá no hospital? temos tempo.
Olhe outra vez a atravessarem na passadeira. Se fosse um particular, quem sabe desses que um dia hão-de vir para cá dar cabo do nosso trabalho, paravam. Como é táxi atravessam. Eu já os conheço, ando nisto há 48 anos, sabe, já tenho 72 anos. Está a ver, conheço-os todos!
Vai fazer o exame? temos tempo.
eles ainda nem abriram, gente dos hospitais. O Costa é que sabia, andei com ele na tropa.Um dia, o meu médico disse-me eh pá, vai ao Costa que ele sabe daquilo. Depois, mostrei-lhe o exame, sabe o que ele disse? Isto é que é um exame bem feito, vê-se tudo. O Costa sabia daquilo, sim senhor!
Olhe já chegamos, prontinho, já posso desligar o aquecimento, tem tempo.
(encontrada nos cantos da memória de uma mala esquecida no tempo)

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