27/09/19

Lamúrias de um velho amor

Olhas para mim com preguiça e nada fazes. Diariamente, os teus olhos pensam que tens de me fazer vibrar, passar os teus dedos em mim. Só que nada fazes, deixas para amanhã e eu sei que tudo não passa de vontades não cumpridas. Intenções!
E quanto isso, o que faço eu? Olho-te de forma penosa, sem vida, sem garra, sem toque. Estou triste e velho, prefiro que me chamem vintage. Tenho um preço elevado, tenho um valor inestimável, já vi e ouvi muitas gerações, já murmurei para muitos ouvintes, a minha voz já se fez ouvir ao longo de gerações.
Desde os tempos do teu bisavô. Lá nasci, lá fiquei até que me pararam por alturas do funeral, mais tarde acompanhei a tua avó e a tua mãe. Tu nasceste e eu dei-te as boas vindas e continuei no corredor até tu me resgatares e me colocares na tua sala.
Vejo o sol todas as manhãs, mas estou calado à espera que me toques para que eu possa badalar como sempre fiz. Dar horas é o meu vício e o meu empenho em não ser apenas um relógio de parede. Espero por ti todas as noites para uma vez por semana me alimentares e não deixares morrer a corda que ainda me resta.
Até amanhã, meu bem!

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