Acabei de ler o "
Sabor de Maboque" da
Dulce Braga. A "cria" como ela lhe chama é o resultado de um tempo fora do tempo e da época em que tudo estava de pernas para o ar. Havia vários graus de pernas para o ar, mas o que é certo, é que no dia seguinte apesar da reordem estava tudo outra vez de pernas para o ar. Os dias passam a ser vividos um a um e este é o relato duma vida que a guerra amadureceu antes do tempo. O maboqueiro tem um fruto que eu desconheço, mas que este livro me ensina no seu cheiro. O detalhe da escrita da Dulce é um dos seus pontos fortes, bem como a urgência que transmite ao leitores. O ritmo do livro, também, por ser vivido hora após hora, permite interiorizar os sentimentos da adolescente, dos seus sonhos e até de alguma infantilidade posterior. A autora inicia o seu relato, recuando no passado até onde podia lembrar-se. A necessidade de passar ao leitor factos assinalados e reconhecidos contribui para uma melhor compreensão da narrativa. Transmite, no entanto, rapidamente para o visitante que entra na sua alma uma sensação de reconforto e irmandade. As experiências vividas naquele período da história de Portugal e suas ex-colónias, tem de ser compreendida e reposta aos olhos de todos nós.
"Sabor de Maboque" consegue criar um sentimento de insegurança e desespero em que a rapidez do anoitecer é igual à necessidade de ter o amanhã de volta para outro dia ultrapassar. Se no início dos capítulos encontramos uma autora completamente brasileira, com o decorrer do tempo memorizado, o português assume a sua forma tradicional em frases e estilos da escrita. Voltando a ser sabiamente intercalado com o presente, este é um livro que só podia ser escrito pela Dulce Braga e nunca pela Dulce Tavares. A primeira vive hoje em paz e foi nos Braga que encontrou os momentos de tranquilidade para pegar no passado. A pequena Dulce que se preocupava com o Pedro Dias não tinha maturidade para o fazer. A pessoa transformada pela alegria de uma sociedade aberta e cheia de luz, fez dela uma mulher a par do seu tempo e refeita dos seus males escondidos. Esta é a autobiografia de um tempo não perdido mas achado. Parabéns Dulce!
8 comentários:
Excelente crítica, GJ.
Já vi que tem que fazer com a reforma (risos abafados)
:-)
Fugidia, estará a meter-se comigo?:)
Já tenho o livro, mas ainda não arranjei tempo para o ler. Esta sua análise, redobrou-me a vontade de o ler rapidamente. Talvez em breve, na próxima semana, num avião rumo ao Sul
Carlos, espero que além da leitura nos delicie com as suas crónicas do Sul.
Um grande diamante a mim doado por uma Grandejóia!
NDAPANDULA GJ :)
Fez minha segunda feira que foi tão intensamente nervosa, em meio a uma série de compromissos com horários marcados, num transito paulistano caótico e estressante, terminar de forma doce e suave
Dulce, ainda bem que gostou.:)
E eu sei o que é esse transito paulistano...Sabe que cheguei a estar em Atibaia no Bourbon e bem pensei em si. Dali a Campinas era uns minutos, mas foi tudo muito a correr.
Nops, GJ, estou a dizer que gostei de ler a sua crítica, que corresponde ao que senti ao ler o livro e que a GJ, em tempo de reforma, não tem mãos a medir se decidir dedicar-se à crítica literária!
:-)))
A viagem vai ser tão rápida, que nem vai dar tempo para saborear, GJ
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