Com o final da tarde veio o vento e mais tarde a trovoada e a chuva. Esta manhã em Maresias o tempo estava sombrio e a chuva fininha não convidava a praia nem antecipava sol. Da minha varanda vejo o céu a querer abrir, dizem -me que amanhã ou depois teremos outra vez sol. Nessa altura estarei a meio caminho do regresso a Portugal. Terei passado Santos, chegado a São Paulo e passado pela última conferência. E logo logo, o avião que me entregará aos céus do oceano e me levará de regresso a casa. A minha aldeia estará à espera e a chuva miudinha alternada por uns raios de sol e frio será o meu porto de abrigo durante os próximos meses.
Esta manhã, ao olhar pela minha janela sem surfistas e com as ondas a crescerem rumo à areia, pensei que terrível seria podermos tomar conta do mundo, do céu e dos mares e termos a capacidade de controlar o tempo físico, misturando o temporal com o intemporal. E debrucei o meu pensamento sobre o conceito de liberdade e desse bem precioso e escasso. Um bem que não sabemos usar e reutilizar sem querer captar o que não nos pertence. O mesmo bem que é nosso e deixa de o ser e as barreiras que nos limitam o passo e a perna. E a divagação num lugar onde o local tem de se sentir e os pertences pertencem aos locais confundindo poder público com poder político, com utilização dos bens públicos com bens privados, um direito que é e já não é, enquanto houver gente que não sabe. Um bem escasso num país que, frequentemente esquece a escassez dos bens públicos, não os cuidando, não lhes atribuindo valor e onde o poder local é uma usurpação do que é de todos e com direitos e deveres iguais a outros bens económicos. Palavras que são elas próprias escassas para passar palavras de democratização e logo a seguir não confundir economia social com lamechices. Lugares onde a emoção não poderia tomar conta da razão mas onde por vezes não deixamos de o fazer. O menino que vende o que a mãe produz e que, mesmo sabendo, que estamos a alimentar um ciclo de economia paralela é muito difícil dizer não. O homem que partilha sentimentos de compaixão e que com a idade parece ficar mais brando e a querer esquecer a economia de mercado. Pessoas que nunca tiveram opção de escolha e outras que nem sabem do que estamos a falar. Economia e política em paralelo, numa tradição de anos de um e de outro sozinhos, em conjunto num só e onde é difícil explicar as leis de mercado que funcionam com ditadura e não funcionam em democracia e vice-versa. Economia que hoje está em alta tornando um país às avessas do resto do mundo, em expansão em momento de crise, para logo aparecer a pergunta do porquê do país em queda com o mundo em expansão. E as respostas da Europa e da América e da crise financeira e logo a seguir a falta de compreensão das perguntas sem resposta da corrupção. Foi há vinte anos e a Europa fez o que tinha de ser feito, reunificando aquilo que o Muro tinha separado. Para mim, é tempo de voltar ao meu tempo e pensar o meu país, a nossa liberdade, os bens do pensamento, a escrita e o que ainda é necessário para celebrar.
17 anos
Há 3 meses
4 comentários:
Para nós, seus fiéis leitores, GJ, também é tempo de a ter de volta e menos entretida com coisas de que NÃO NOS DÁ A DEVIDA CONTA!!! :-S
:-)))))
Pois é ASSIM MESMO COMO A LUÍSA DIZ, GJ. (risos)
Mas enquanto está entretida com coisas de que não nos dá a devida conta, devo dizer-lhe que gostei deste post. Por várias razões, uma delas por me ter feito recordar Maresias, onde passei bons momentos e era o meu pouso de fim-de-semana. Creio que a foto é do Beach Hotel. :)
Lamento o mau tempo, mas o litoral-norte de São Paulo é pródigo em algumas surpresinhas menos agradáveis. :(
Luísa, quase de volta mas trocando as voltas a essas contas :)))
É o Beach Hotel, claro! Eu segui as recomendações :)
O tempo esteve bom, excepto num dia. O colega podia era ter dito que a Mata Atlântica tinha mosquitos gigantes e "benenosos" que nem o anti repelente afasta...(risos amarelos)
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