17/12/10

Por uma grama de açúcar

Quando o pânico se instala por um grão de açúcar é caso para nos preocuparmos. Acredito que na época natalícia a preocupação com a feitura das rabanadas se manifeste de forma aguerrida a ponto de alguns se levantarem bem cedo a um domingo de manhã e se dirigirem ao supermercado mais próximo. Mas ao ponto de numa manhã terem tido necessidade, só no meu bairro que ainda por cima é numa zona in da cidade em que as pessoas andam sempre em dieta, de comprar 850kg de tal ingrediente? Fiquei preocupada, especialmente por me ter lembrado daqueles anos em que o bacalhau se vendia às escondidas, as mercearias passavam a farinha, o arroz, o açúcar, as conservas, o azeite, enfim o cabaz de alimentos básicos por debaixo do balcão aos clientes, que verdes de medo da revolução de Abril, açambarcavam para a seguir jogar no lixo, o que em situação e comportamentos normais chegaria para todos os que pudessem comprar. Aliás, nessa época foram exactamente os que podiam comprar, que com medo de terem de ficar fechados em casa o fizeram. Igualmente, me lembro dos depósitos sempre cheios para a eventualidade da fuga de alguns o que em contrapartida não permitia que os outros se abastecessem para motivos normais de circulação. Como mais tarde se viu e hoje sabemos, não havia necessidade para tal. As notícias recentes da subida de preço dos bens essenciais, seja pela subida do iva a partir de Janeiro ou pela escassez daqueles que face à subida dos preços no mercado internacional chegarão mais caros, ou ainda, pelas dificuldades de cumprimento dos prazos de pagamento por parte dos importadores nacionais, tem levado a que por um lado se deseje a entrada do FMI e por outro se encham as prateleiras da despensa. Situações que parecem contraditórias por um lado e representativas deste povo que continua à espera que outros o governem e lhe digam o que fazer, continuando a fazer à sucapa aquilo que a economia paralela o aconselha. Compra e enche a prateleira não vá uma oportunidade de venda com lucro surgir ou um ganho não previsto ajudar. Um bolso açucarado substitui uma prateleira vazia e uma chupeta molhada em açúcar adormece a insónia, mas por uma grama de açúcar será que vale a pena?

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