Gostava tanto de S. Martinho do Porto que escolheu o lugar para sua última morada. Todos os anos aí nos encontrávamos, "olá, mais um ano", dizia ele, naquele nosso cumprimento à beira-mar. Gostava de fazer uma caminhada até à duna de Salir, umas vezes caminhava sozinho, outras com a Isabel. Gostava de usar uma túnica branca sobre o calção de banho e o eterno chapéu. Andava com elegância no seu corpo esguio, mantendo o porte desenvolto pela sua excelente condição física.
No Verão a seguir à declaração da doença não deixou de aparecer mesmo que não pudesse andar com os netos na água e referia-se "a esta chatice do cancro que me apareceu" com a naturalidade de quem não permite que a doença se instale. Durante anos, desceu a rampa da rua dos cafés bem depois das onze da noite, com a Isabel pelo braço fazendo a pose de quem sabe que está bem e é admirado. A nossa conversa era de circunstância, uma opinião aqui e outra ali, sobre economia, sobre o país, mas sobretudo sobre a praia e o sol, mais recentemente quando me tornei avó, sobre os netos e S. Martinho de que tanto gostamos.
Este ano, fui eu que não o encontrei, não pude dizer-lhe "olá, mais um ano" e acrescentar, desta vez coube-me a mim ter esta chatice do cancro.
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abraço
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