Hoje saí do hospital, tenho um bocado a menos de corpo e um bocadão a mais de esperança. O próximo ano será difícil, não o planeei assim, vou ter de levar o dia a dia conforme conseguir sem saber o que me espera, apesar de saber o que me vão fazer. O ano que termina foi intenso, cheio de coisas dentro da agenda, com a possibilidade de ter todo o tempo do mundo à minha disposição. O casamento dum filho, uma neta a festejar o seu primeiro aniversário e a dar os primeiros passos, uma fantástica viagem pelo Brasil, projectos a dois e um sem número de outras frivolidades apaziguadoras. Termina de forma não encomendada e não merece a pena perguntar porquê, foi! Teve de ser como tinha de acontecer, o cancro aparece quando menos o desejamos, nunca o desejamos, mas ele existe para todos e desta vez fui seleccionada. A intervenção foi feita e o regresso a casa e aos meus em vésperas natalícias. Este ano a árvore ainda a fiz, o peru e o bacalhau será feito por quem me os viu fazer nos anos anteriores. Os doces serão por mim orientados e a mesa continuará a meu cargo com a ajuda de quem já a fazia. A mesa estará maior porque a família cresceu e é assim que deve ser. O ano termina de forma desajeitada mas não triste. O ano que vem será diferente e quando o cabelo me começar a cair não sei o que sentirei. Neste momento sei que vou adiar os meus planos por uns meses, que outras coisas estão primeiro, sei que vou lutar com toda a força que tenho e sei igualmente que por aqui continuarei não da mesma forma, não com a mesma assiduidade mas com alguma regularidade. Duma coisa estou certa, só o amor pelos outros e pela vida nos dá resistência para ultrapassar todos os lados negativos que porventura a vida nos apresenta. E é nestes momentos difíceis, em que nada faria prever o que nos atormenta, que desejamos intensamente que o hoje tivesse sido ontem para podermos dar todo o tempo que não temos a todos os que dele necessitam. Viver em esperança, acreditar e deixar que a medicina nos ajude tal como a seiva que alimenta a árvore da vida.
17 anos
Há 5 meses
14 comentários:
Minha querida GJ,
um beijo.
Amanhã ligo.lhe.
Valha-me Deus. Tanta força, minha amiga.
não escrevo mais
Minha querida GJ, fico desejando que tudo corra o melhor possível, e que, em 2010, não haja viagem ao Brasil que impossibilite a nossa reunião no desde há muito combinado jantar de amigos que, por esta via «epistolar», já somos.
Um beijo. :-)
GJ, senti a sua ausência, mas não esperava esta. Você, que é uma mulher determinada, vai dar luta. É você que o exige e os seus que o reclamam. Quanto à queda do cabelo, deixe lá isso! Para mim, que tenho convivido muito de perto com essa doença que tem atingido a parte feminina da minha família, há dois momentos especiais na vida das mulheres em que elas se tornam particularmente belas, mesmo quando a natureza as não privilegiou nesse particular: quando estão grávidas e quando lutam com toda a garra contra a doença. Sei do que falo e é mesmo assim.
E agora, Feliz Natal :)
GJ,
Eu não sou bom nisto. Eu sei que não sou, nunca fui. Nisto de ter a palavra certa no momento certo, nestas circunstâncias. Ah como invejo quem tem e sabe usá-la. Resta-me desconversar e só o faço por ser a GJ a quem me dirijo. Sabe uma coisa colega? já praguejei (palavras feias, daquelas que não posso escrever aqui, palavrões que nem imagina, que a colega é uma senhora), já amaldiçoei o mundo todo, já fiquei triste, muito triste... Mas hoje pensei, caraças Mike (ops, esta escapou-me) lê lá outra vez o que a GJ escreveu, lê, vá lê lá, começa pelo título... diz o quê o título? Vá continua, lê lá o texto todo outra vez. Achas que esta Jóia é só grande? (calma Mike, que ainda te escapa outro impropério). Tive vontade de discordar de algumas coisas que a colega escreveu, mas estão escritas na primeira pessoa do singular e era preciso muita lata da minha parte. E sabe, colega, não sou latoeiro por isso encolho-me. Mas quando estiver consigo, sim, porque está em dívida para com mouros cá de baixo, como bem lembrou a Luísa... dizia eu, quando estiver consigo vai-se-me soltar a língua. Hum... hã?... devo ser publicitário eu... estou para aqui a escrever e tenho a ligeira sensação que não escrevi nada de jeito (risos nervosos). Olhe colega, eu devia era ter escrito este comentário como pensei de início. Sabe como era? pois como haveria de saber se eu não lhe disse... (caraças que isto vai de mal a pior... ops, e vão duas)... Era assim: GJ, estou pronto para largar a prancha e o fato de surf e calçar as botas de montanha e meter uma mochila às costas. Quando é que recomeça as escaladas? Um Feliz Natal, um Ano Novo cheio de esperança e um beijo.
Outro para si, Fugidia. Será que posso encomendar um camisolão para o início do ano?;D
Isabel, um grande abraço. Desculpe a insónia. :-)
Luísa, está combinado. Na próxima reunião de amigos o jantar será marcado antes da viagem.
Beijo. :-)
RAA, foi com um grande sorriso nos lábios que li a sua mensagem. Só um homem atento poderia deixar feliz uma bela mulher sem graça.É verdade que todas nos tornamos radiosas com a gravidez. Vou acreditar que a minha garra me transformará numa beldade.:)
Feliz Natal e um forte abraço.
Mike, o que é que eu posso dizer a um colega que escreve, escreve, escreve, continua a teclar e ...escreve tantas palavras sensatas. Só posso dizer, obrigada Colega cá estarei à sua espera em 2010 para novas escaladas à maneira:)
Feliz Natal, grande abraço.
Querida, querida GJ,
Com essa garra, com essa esperança e com essa sensatez, SÓ PODE CORRER TUDO BEM! Sei do que falo, sei-o bem. A notícia vem sempre quando menos se espera (mas também nunca se espera, essa é que é a verdade) e deixa-nos abananadas. Escrevi um dia sobre isso, quando finalmente consegui escrever sobre isso, e fez-me bem. Saíu-me isto (desculpe o testamento, mas não sei pôr links nas caixas de comentários):
Há sempre aquele momento. Aquele terrífico e intimidante momento de abrir os envelopes. Olho-os a medo, tentando estabelecer com o exterior, civilizado e inócuo, um pacto de não agressão. É inútil. A desproporção de forças é total, nada a fazer. De que forma poderia eu vingar-me? A ideia absurda deixa-me, pelo menos, um sorriso. Volto a olhá-los, tentando agora outra abordagem: a do optimismo que sempre me salvou, em todas as situações difíceis por que passei na vida. Mas não é fácil, como o foi em tempos, antes daquela vez. Daquela vez em que tudo mudou, em que nem o meu mais delirante optimismo podia iludir o que o Abre-te Sésamo revelava. Nada de tesouros, nada de pérolas e ânforas de ouro. Só uma desolada frase, composta de cinco palavras letais. Todas elas, uma por uma. As palavras também podem ser letais, mesmo sendo feitas com as mesmas letras com que se escreve uma declaração de amor. Nem o pobre "de" parecia inofensivo, no meio delas. Palavras compridas, complicadas, ameaçadoras, fúnebres. Um Requiem em cinco andamentos. Conhecia-as, não me enganaram. Sou filha de médicos, a terminologia arrevezada e áspera não tem grandes segredos para mim. Palavras bastardas de um latim que gerou outras tão bonitas, tão doces. Mas também pariu estas, afinal. Há os bons e os maus em todas as famílias. Aquelas palavras eram as ovelhas negras do latim. Abro sempre os envelopes, eu mesma. Se é de mim que falam, é a mim que têm que dar explicações primeiro. E faço-o sem testemunhas. Não quero que me vejam nos olhos o medo ou a euforia, ambos demasiado íntimos para subirem ao palco. Daquela vez, os envelopes apanharam-me desprevenida. O que traziam dentro era um violento murro no estômago, no meu estômago que não esperava murros. Foi desde aí que nunca mais abri os envelopes com a mesma souplesse, essa alegre certeza de que estava tudo bem. Ficaram-me na memória, gravadas a ferro e fogo, as cinco palavras que eram uma condenação explícita. Sem enfeites, sem disfarces, sem bálsamos. Só a sentença de morte, nua e crua. Mas afinal ganhei eu. Nessa altura não o sabia ainda, mas o meu optimismo salvou-me, uma vez mais. Ganhei eu, em todas as frentes. Venci as palavras, venci os envelopes mensageiros da escuridão. Passaram dez anos. Venci os envelopes, sim, mas eles rogaram-me uma praga, como vingança: a de ter que abri-los, para o resto dos meus dias, com um misto de medo e de esperança, mas nunca mais com a confiança que tinha antes. Há dez anos que os abro, há dez anos que ganho eu. Hoje foi dia de abrir envelopes, e uma vez mais me intimidaram. Mas hoje, uma vez mais, a caverna de Ali Babá só tinha pérolas e ânforas de ouro para mim.
Não deixe nunca de aparecer por aqui para esta cavaqueira de amigos, porque todos queremos saber sempre de si. Eu quero, ouviu? Livre-se de desaparecer por muito tempo! E vá-se preparando para o jantarinho da praxe, que o Natal atrapalhou mas não está esquecido.
Um grande beijo, um Bom Natal e um ano novo cheio de esperança redobrada, que o resto vem por acréscimo.
Ana, os nossos caminhos cruzam-se por mil e uma razões. Neste caso é mais do que empatia. É sintonia:)
Prometo que andarei por aqui porque me fará bem a cavaqueira e mesmo nos dias mais caprichosos tentarei bater às outras portas.
Um grande abraço e um Feliz Natal.
GJ, tocaram-me tanto as suas palavras...
Aqui também estarão sempre os amigos, como eu, que prezam a sua alegria e espírito positivo. Acima de tudo, que a prezam tout court.
Como disse o RAA, vai ficar linda com a sua garra. Mais do que já é.
Um grande abraço.
Um grande abraço, Ana Paula.
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