27/02/10

Dá trabalho a engolir

Eu sei que sou muito chata e não me calo enquanto tenho a espinha entalada. Neste caso continua a ser o descalabro pelo que se está a passar na Madeira, associado às verbas que terão de ser alocadas não apenas por causas naturais mas por, e essencialmente, mau planeamento territorial. A primeira vez que visitei a ilha foi em 1976. A última vez foi em Julho de 2009. As diferenças entre os dois momentos são abismais para positivo, diria eu há uns meses atrás. Mas hoje não posso dizê-lo. Porque o desenvolvimento das estradas, do comércio, do turismo, da zona baixa da cidade do Funchal, das zonas de acesso a locais onde no passado dificilmente se ia não foi feito adequadamente. Se hoje um navio de recreio pode acostar ao porto e os turistas fazerem aquilo que os cruzeiros fazem - em duas ou três horas ver a ilha de relâmpago e partir passadas umas horas deixando gastos em terra, tem sido à custa do facilitismo urbanístico e da irresponsabilidade sem dono. Vivendo a Madeira do turismo claro que estas são vantagens acrescidas, vivendo Portugal de toda a boa imagem possível esta é também uma cara lavada que nos orgulha mostrar. Agora, o que me entala é saber que se gastou em fez de investir porque o que agora vamos fazer é pagar prejuízos que poderiam ter sido evitados com um plano director municipal, com urbanistas e arquitectos e com materiais de construção à altura das exigências técnicas. A pressa em utilizar os dinheiros comunitários foi um faz figura que agora nos deixa em muito mau estado. Tivéssemos feito bem e agora estaríamos a usar as contas regionais para outros fins. E é isto que me dá trabalho a engolir.

12 comentários:

Luísa A. disse...

Espera-se que os madeirenses aprendam a lição, GJ. E espera-se, ardentemente, que os continentais também.

Lina Arroja (GJ) disse...

A Luísa na altura do Haiti falou do mesmo tema. Oxalá nos oiçam. :-)

Mike disse...

Haja quem não se cale quando tem uma espinha entalada. Principalmente quando o momento, à nossa boa maneira, é de quietude, compreensão e ampla propensão para o esquecimento. Que a solidariedade não esteja para a responsabilidade como o apagador está para a ardósia. Experimente comer miolo de pão e beba água, Colega. ;)

Mike disse...

Luísa e GJ, ninguém vai aprender com nada! É o costume. (Safa, que eu hoje estou "incarrapacível")...

ana v. disse...

É bem verdade, GJ. Também lá estive agora e louvei o pregresso em relação a 20 anos de ausência. Mas com isto, e sabendo o que sabemos...

Lina Arroja (GJ) disse...

Há outros que vão falando, a crónica de hoje do Rui Tavares no Público, por exemplo.

Bacouca disse...

GJ
Realmente eu não tenho falado da Madeira porque ainda não a consegui engolir e mesmo que use a receita do Mike (bolinha de pão e água)acho que não se resolve nada. Alguém tem dado ouvidos ao Arq. Ribeiro Telles? Não GJ o que interessa é o dito progresso feito sem regras caso seja mais rápido.

A disse...

GJ,
Planeamento territorial? Com um homem daquela espécie à frente? É mesmo «jamais»!E ainda vai recandidatar-se; E, com a pipa de massa que vai entretanto conseguir, vai ser reeleito!

Anónimo disse...

Como escrevi no CR logo no dia da tragédia, espero que se tirem ilações de tudo isto.
Se a reconstrução não for feita com um correcto ordenamento e se negligenciarem os princípios do turismo sustentável, que é o modlo de turismo de futuro ( e não o turismo de massas que estava ser seguido na Madeira e aqui em Portugal), daqui a uns anos (poucos) estaremos novamente a lamentar o infotúnio e as mortes subsequentes- Acredita que AJJ vai pensar nisso, GJ?

Lina Arroja (GJ) disse...

Austeriana, acrdito que tenha razão. E desta vez o Alberto João vai ajudar o Sócrates a reabilitar a sua notoriedade.

Lina Arroja (GJ) disse...

Bacouca, infelizmente as "regras" impostas para fazer ver são as que vingam entre os políticos. O resultado vê-se mais tarde ou mais cedo e muitas vezes com tragédias.

Lina Arroja (GJ) disse...

Carlos, apesar da tarefa ser árdua vamos torcer para que alguma coisa mude neste país.