15/07/10

Silêncios

Cada vez aprecio mais o silêncio. Da casa, das ruas, do mar, dos rios, do mundo poluído de sons. Só não gosto do silêncio das pessoas e dos povos. Estaremos todos adormecidos ou é coisa de Verão?

Silêncio

Já o silêncio não é de oiro: é de cristal;
redoma de cristal este silêncio imposto.
Que lívido museu! Velado, sepulcral.
Ai de quem se atrever a mostrar bem o rosto!

Um hálito de medo embaciando o vidrado
dá-nos um estranho ar de fantasmas ou fetos.
Na silente armadura, e sobre si fechado,
ninguém sonha sequer sonhar sonhos completos.

Tão mal consegue o luar insinuar-se em nós
que a própria voz do mar segue o risco de um disco...
Não cessa de tocar; não cessa a sua voz.
Mas já ninguém pretende exp'rimentar-lhe o risco!

(David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão)

7 comentários:

Dreamer disse...

Que bom ter postado um poema de um dos meus melhores professores! Obrigada.
:-)))

Bacouca disse...

GJ
Lindo poema. Concordo consigo quanto ao silêncio das pessoas. Será como aquela música cantada pelo Chico ou pela Maria Betânea: "o amor tem mais perigo quando é calmaria..." Infelizmente não se trata de amor mas de incertezas, insegurança, falta de sonhos e projectos (julgo eu).
Beijo

JdB disse...

Sabe, GJ, eu temo que o silêncio seja viciante. E o mesmo tempo seja algo de proscrito, porque nã há jantar onde se vá, loja onde se entre, festa para a qual se seja convidado que não tenha uma música aos gritos. Às pessoas apavora-lhes o silêncio, porque lhes apavora a sensação do aparente nada, da conversa consigo próprias quando já não se querem talvez ouvir.
Somos da geração da eficácia, da eficiência, da não perca de tempo.
Olhe, sei lá eu...

Lina Arroja (GJ) disse...

A conversa connosco próprios, João, não é fácil porque nos mete medo. É verdade o que diz, e é tão necessário fazê-lo, a maioria não gosta da sua própria companhia e é por isso que se cometem tantas calamidades. Todas por falta de reflexão interior.
Obrigada, pelas suas palvras que são sempre repletas dela.

Lina Arroja (GJ) disse...

Dreamer, sua sortuda.:)))
Eu tenho esta paixão recalcada da adolescência pelo DMF. Adorava ouvi-lo na tv e ficava literalmente embasbacada, ele conhecia bem as mulheres.

Lina Arroja (GJ) disse...

Bacouca, falta de projectos diz bem, e como diz o João medo de se fazerem ouvir por falta de tempo interior.

Luísa A. disse...

Não sou grande amiga do silêncio, GJ, mas há nuances simpáticas entre o silêncio e o ruído ou a gritaria. Eu vou por essas doces nuances. ;-D