29/01/11

Terapias

Como rotina semanal, e para além, dos outros afazeres, tenho logo pela manhã a sessão de fisioterapia. É mais ou menos como ir ao ginásio antes de começar o dia. O meu terapeuta, que podia ser meu filho, mantém a boa disposição e o ambiente aprazível com humor e voz decisiva para que o Sr. Mário tenha força nas pernas ou a D. Vitória mantenha, aos seus 85 anos, mãos que lhe permitam melhorar o seu dia-a dia. Há de tudo um pouco, a maioria são pessoas acima dos 60 anos, os homens com queixas motoras, as mulheres com problemas que se advinham consequências de osteoporose ou de muitas horas em tarefas repetitivas. Aquela sala é para a maioria uma forma de convívio onde vão contando estórias do antigamente, misturadas pela realidade actual, mas acima de tudo é um espaço onde não há lugar a lamurias, porque cada um tem o seu mal e onde cada um quer mostrar o seu melhor. Assim, o amigo que já fez quilómetros de estrada, fruto da sua profissão, é "um louco por paisagens" e também "ama o seu país, apesar de não conhecer outro". Palavras que não teriam sentido se a descontracção do ambiente não o favorecesse e aquele senhor entre os sessenta e os setenta teria dificuldade em utilizar de forma tão solta o verbo amar e auto intitular-se um louco por alguma coisa. As questões da política e do estado social também são discutidas e para aqueles que se deslocam diariamente em ambulância pública, para uma clínica fisiátrica privada, com acordos com o Estado, a aceitação do pagamento do serviço a partir de em breve, não é fácil. Os bombeiros que fazem o transporte dizem que não é rentável, mas o que é certo é que também há casos em que não se justifica. Pois tal como comentava o meu colega nas roldanas há dias, "se é para eu pagar, então mais vale comprar o passe!" Pois, é meu caro, para que alguns possam ter acesso aos bombeiros é mesmo necessário que aqueles que podem com as pernas, abram os cordões à bolsa. E também que se encontre meios para continuar a prestar os serviços daqueles que não têm nem pernas nem bolsa e que  necessitam do tal espaço em que a fisioterapia lhes proporciona uma esperança de melhorar as pernas, os braços e a mente.

Sem comentários: