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Gil Vicente - Auto da Barca do Inferno |
A geração não é parva, escolheu foi o curso errado ou pelo menos a universidade sem futuro. Nos finais da década de oitenta, com um número de estudantes a rondar mais ou menos o mesmo da época anterior ao 25 de Abril, surgiu um boom de universidades privadas
em Portugal. Ninguém se questionou, na altura, o que iriam fazer todos os licenciados que a um prazo de 30 anos procurariam emprego. Apenas foram pensados os que sairiam daí a dez e, confiantes nos fundos comunitários, assim se foram organizando cursos, mestrados e doutoramentos. Pelo caminho, também fomos abrindo o mercado a estudantes estrangeiros que, uma vez formados em Portugal, não quereriam regressar aos seus países, nomeadamente, os da lusofonia. Portugal, passou a gerir a formação universitária da mesma forma que a formação profissional, ou seja, procurando os cursos que o ministério aprovaria através das verbas em curso e menos pelas necessidades do país. Os estudantes foram surgindo gradualmente, com a certeza de que uma vez não tendo médias no sistema público, tal não seria problema para escolher um curso junto duma instituição privada. Para além das faculdades surgiam igualmente os institutos superiores que rapidamente ofereceram licenciaturas e finalmente com o acesso a Bolonha, os licenciados passaram a ter um mestrado integrado numa área do saber cada vez menos aperfeiçoada. No entretanto, o mercado de trabalho foi estagnando, as importações foram aumentando, a globalização promoveu a deslocalização de empresas para outros mercados, o preço da mão de obra foi ficando cada vez menos competitivo e eis que os primeiros desempregados licenciados aparecem nas listas dos centros de emprego. Se no início, a retoma era fácil, à medida que outros licenciados foram saindo das universidades, as listas de jovens à procura de emprego foram engrossando, passando estes candidatos a desempregados de longa duração, a prazo não muito longínquo. Para muitos, a solução foi continuar os estudos, passando a integrar novos cursos de pós-graduação, alimentados pelos subsídios comunitários, concorrendo também para isso, os estudantes das universidades públicas, que entretanto, também aumentaram em número. Para os pais, estes jovens passaram a representar um custo acrescido, e que não tinha sido previsto, passando agora não a contribuir para minimizar as despesas domésticas, mas pelo contrário a contribuir para o desemprego dos mais velhos. Os pais tiveram de encontrar empregos a dobrar tirando o emprego aos seus e aos filhos do alheio. Ironia das ironias, os jovens que se dizem parvos ditaram regras aos pais que os fizeram nascer, tiveram de os educar, pagaram escolas e universidades, sustentaram-nos até idade tardia e ainda tiveram de se reformar antecipadamente para lhes dar o emprego precário, que é pago por subsídios ao emprego. Quem é parvo não sei, ingénuos suspeito, mas que andamos a fazer figura de parvos não tenho dúvida.