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17/04/09

Eu já não tenho cabeça!

O Sr. Francisco era o funcionário mais novo, tinha a nossa idade, era magro, simpático e pertencia àquela comunidade. Dava-se com todos, parecia um de nós, só que passava o tempo à entrada da porta de vidro, enquanto nós passavamos o tempo em pé ou de um lado para o outro e de vez em quanto íamos às aulas. Várias pessoas tentavam envolvê-lo noutras lutas e actividades. A sua fraqueza, dizia ele, era a matemática e apesar dos esforços ninguém conseguia convencê-lo a fazer outra coisa para além do que já fazia, ou seja, ver quem passava e dar uma palavra a todos. Um dia, um dos professores chamou-o e perguntou-lhe se ele não gostaria de continuar a estudar. A Universidade ajudava e quem sabe ele um dia ali estaria como aluno. O primeiro passo foi arranjar uma secretária e a respectiva cadeira para ele se sentar e estar mais confortável. Continuava no seu lugar e podia até começar a ler algum material que o professor arranjaria e todos nós lhe ensinaríamos. Em 1975 tudo nos parecia possível e nós eramos as forças dialogantes capazes de mudar tudo e todos. Porém, há pessoas e coisas que não nasceram para a mudança e o Sr. Francisco era uma delas. Que não, respondeu ele ao professor em causa, o problema dele era na verdade a matemática, mas acima de tudo havia outra questão pior, é que "Ó xenhôr dótôr, eu já não tenho cabêcha!"
O ponto é que os dois continuam no mesmo sítio. O que já não tinha cabeça continua sentado à secretária a ver quem passa, mais gordo e menos dialogante. E o professor também, se bem que em espaços diferentes. E matemática passou a ser 2+2=5 , igual à lógica da batata e a maioria de nós "já não tem cabeça"!