O fim da primeira parte da minha estadia em São Paulo, começa aqui. A Estação da Luz, a 25 de Março e o Mercadão, símbolos duma cidade em que todos têm um lugar.
Apesar de ser fora do Museu que o idioma essencialmente se fala, é dentro dele que a língua se mistura com a sua origem cultural se ensina e se renova. Tem por objectivo dinamizar a importância do português no Brasil e orientar jovens, estudantes, professores e interessados em geral, na leituras de textos e de autores da lusofonia. Diversas exposições centradas no português têm lugar na antiga Estação da Luz que, neste momento, assinala em exposição os 120 anos do nascimento e obra da escritora Cora Coralina.
Algumas vozes mais conservadoras não consideram aquele espaço um Museu, mas apenas uma exposição. Para mim, foi o que eu estava à espera, ou seja, um espaço falante e interactivo entre o português de Portugal, o português do Brasil e o português Africano. Um Museu de português, com sotaques distintos e sem necessidade de acordos ortográficos para todos se entenderem. E como todos os espaços que não parecem museus, tinha gente e pessoas interessadas pelo que se lhes apresentava e que mais não era do que o respirar lusófono.
Quem vai para aquela zona da cidade, segue o trilho da 25 de Março. Aquele caos no meio da rua, num sábado de manhã, foi puro entusiasmo turístico e não me impressionou em particular. A segurança é, no entanto, quase total devido ao policiamento bem marcado. O aglomerado de gente a vender cuecas, meias, e diversos artigos de "marca" não é diferente das nossas feiras a não ser na dimensão. Nas lojas ou galerias de cada lado da rua podemos comprar por um terço do preço e com atendimento personalizado, mas mesmo aí, temos de ter muito tempo para escolher bem. E nesse caso, encontramos de forma mais confortável na Av. Paulista, algumas galerias de "marca" ao preço da chuva e sem tantos apertos ou perdigotos. Na verdade, tudo se repete como se estivessemos numa qualquer grande cidade em que as marcas se encontram no quarteirão seguinte, caso o comprador não a tenha visto no primeiro momento ou queira repetir a dose. A diferença é o tal do intangível valor intrínseco. O diabólico e glorioso empenho seria conseguir levar um dia, este público ao Museu sem artes ou artimanhas.
O Mercadão mostra o tamanho do bolso de cada um. Entre frutas exóticas, carnes, peixes e bacalhau "do Porto", queijos e linguiças, milho, frutos secos, azeites e temperos diversos, as lanchonetes do pão com mortadela, o bolinho e o pastel de bacalhau, o sushi da moda e o choupe da ordem, fazem deste lugar um espaço onde todos podem saborear o tradicional e o desejável a preços democráticos. Do ponto de vista humano, é um lugar de mistura de sabores e de tradição étnica segundo a origem de cada um.
Enquanto esperava um lugar para me sentar as "moças" ouviram a minha voz e afirmaram. "Ela é portuguesa. Conheço o sotaque!". A conversa estava estabelecida e o lugar para me sentar garantido. "É só um instantinho e você se senta aqui. Tá bom assim?"
Claro que estava mais do que bom, no fim de contas, estavamos as três em casa e eu ia comer e beber o mesmo. Fiquei a saber que uma tinha família a trabalhar em Portugal, outra tinha enviado um filho para estudar. Vidas comuns de gente igual e com eco na fala.
Nota: Fotografias tiradas da Net
6 comentários:
(eu salivando de inveja...)
:-D
Gostava de conhecer o Museu...
Eu estarei em silêncio, deliciado com as suas crónicas de Sampa. :)
Bem vinda, GJ.
Também gostava de conhecer o Museu e S.Paulo.
Obrigada, GJ :)
Conheço muito mal S. Paulo. Só para nós, (que o Mike não nos está a ouvir) não gostei muito. Mas esse museu também ficou aqui a bailar. bem, para não falar na sandocha da fotografia...vou ali lanchar e já volto!
Bela crónica, GJ. E fez-me fome... vou jantar. :-)
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