Naquela noite de 23 de Dezembro, não interessa o ano, o terminal de chegadas do Aeroporto Sá Carneiro no Porto estava repleto de gente. No écran principal, informação sobre os voos previstos ou que haviam aterrado. Num outro mais pequeno, os minutos das malas até à passadeira rolante. Várias famílias aguardavam com ansiedade os seus filhos, os entes queridos e os amigos que já não viam desde o Natal passado, ou talvez mais. Estavam agarrados ao gradeamento, que separa e divide o corredor de chegada e o fiscal que não permite que os corpos invadam a saída. Com sorrisos, gritos, lágrimas e abraços conversavam uns com os outros sobre os familiares, que se adivinhavam do outro lado do fiscal. Reparei numa mulher que se chegou a mim com uma criança pela mão. A criança teria três anos, a mãe trinta e muitos. Sorri, dando-lhe oportunidade para encetar conversa.
Estou à espera do avião de Angola, disse-me. Estou nervosa e espero que o menino ainda sorria para o pai. Faz dois anos, que estamos dois cá e outro lá. O meu companheiro teve de aceitar este emprego, foi o que a empresa onde ele trabalha lhe propôs. Era Luanda com um bom salário ou nada e tivemos de optar. Eu fiquei com o menino, ele partiu e os dois ficámos de lágrima no olho, o menino não percebeu nada. Este vai ser o primeiro Natal em que, juntos, fazemos a árvore e a ceia. Seremos uma família de pessoas felizes, adiantou.
Sorrimos, desejei-lhe Bom Natal. No écran o voo proveniente de Luanda havia aterrado. Mulher e filho voaram para o gradeamento que separa o fiscal do corredor humano, levando o menino ao encontro do pai. Enquanto eu também espiava a chegada da minha filha, vivi com aquela mulher o reencontro saudoso duma pequena família separada pelas circunstâncias económicas, arrastando os corpos mas voando nas almas.
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