18/02/08

O Legado de Maria Antónia

Regra geral as pessoas não esperam legados e heranças antes de alguma idade, porventura avançada. A excepção atinge aqueles que muito cedo os recebem. Ser chamado a tomar conta das tradições, dos valores, das passagens do tempo é exercício de difícil aceitação. A indolência instala-se, rejeitamos mas não podemos.
Somos a geração seguinte! A jóia mais querida do recém-nascido partiu. E, se durante anos, as lutas de palavras ajudaram a alimentar exercícios de poder e de emancipação, é na passagem do legado que o desamparo do ventre se reinstala.
Maria Antónia deixou muitas coisas e entre elas as belas jóias. Outrora admirados, pedidos e fantasiados, estão agora guardados e raramente usados, os anéis e as pulseiras, os fios e os brincos, as esmeraldas e os diamantes. O património aumentou mas o sabor diminuiu. O perú e as rabanadas também. Levaram anos até ficarem semelhantes.
A cobiça das jóias voltou a instalar-se naqueles que um dia terão o legado, e que - espero eu - também tenham de aprender a elaborar a Ceia de Natal.

Sem comentários: