10/02/09

O ímpeto do fio de cetim em Guimarães

O Avelino Queirós esfregou as mãos de contente quando o Martins, seu vizinho, faliu. O Martins tinha 80 trabalhadoras e Queirós precisava de 10. Mas o Martins não conseguiu nenhuma e a razão está, segundo ele, no valor do subsídio de desemprego. O Queirós tem razão, pelo mesmo valor ou quase não vale a pena sair de casa. "Não encontrei quem quisesse trabalhar, minha senhora!"dizia o Avelino à Fátima Campos Ferreira.
"E o senhor já pensou em pagar mais às suas trabalhadoras?" perguntou a Fátima ao que o Queirós respondeu indignado "Mas ó minha senhora, julga que eu sou o Pai Natal?... então eu estou à beira da falência, já expliquei que se não encontrar as 10 empregadas, não consigo entregar os pares de calças e fecho no final do mês, e acha que posso pagar mais?".
Ora bem, depois dos aplausos da plateia ao empresário corajoso da Fio de Cetim, falou Alberto Figueiredo o empresário de sucesso da Impetus. Com um discurso totalmente diferente mostrando que "uma parte da crise é psicológica" e que os empresários têm de estar nalguns lugares mesmo que isso não dê ganho imediato, procurou dizer que a estratégia de entrada em novos mercados implica riscos e custos.
Estamos todos de acordo com esta visão, só que o problema é que o Avelino Queirós representa a grande fasquia dos empresários do têxtil, que apenas utilizou, se é que o fez, os subsídios comunitários para comprar máquinas, mas continua a ter encomendas a feitio. As mulheres que anteriormente recebiam moldes e apenas coziam, continuam a fazer o mesmo apenas em máquinas mais sofisticadas.
O empresário se não tiver o número de trabalhadores que necessita não dá conta à encomenda das calças, ou camisas, ou saias e não cumprindo os prazos de entrega não há mais encomendas. E o empresário também não pode pagar mais às suas trabalhadoras porque não terá preços competitivos para o cliente. O empresário típico de Guimarães, Paços de Ferreira, ou outro qualquer lugar do Norte de Portugal, não pode fazer mais. E o mais grave é exactamente o que o Avelino Queirós dizia "há subsídios e cursos para cabeleireiras, nós agora vamos exportar caracóis".
Claro que o Avelino é bom homem e não é tão tosco como fazia parecer, porque sabe que os últimos dinheiros do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) estão prioritariamente vocacionados para os Programas Potencial Humano que na prática quer dizer formar e subsidiar pessoas e as mulheres em primeiro lugar, a criar o seu próprio emprego. Ora, um cabeleireiro elas podem fazer num quartinho lá de casa, agora comprar maquinaria e fazer como o Alberto Figueiredo da Impetus é que é pouco provável.
E o pior é que o Avelino, o Martins, o Figueiredo e muitos outros também sabem juntamente com o Presidente da Autarquia, com os Centros de Emprego, com os Ministros e muitos mais, que todos estes programas são apenas umas migalhas e que só quem tem estrutura montada e é de sucesso é que pode aceder e receber as tais linhas de financiamento.

3 comentários:

Mike disse...

Hum... pela foto, acho que o Avelino podia vislumbrar uma oportunidade... gastando menos tecido e sem precisar de tanta mão de obra. ;)

Lina Arroja (GJ) disse...

Mas tinha de ter o ímpeto;-)

Anónimo disse...

lol :)