17/02/09

"Escuta, Zé ninguém!"

Se as coisas nos chegam às mãos por alguma razão é. A minha atenção foi desviada do propósito inicial que já não sei qual era e o meu olhar caiu no livrinho de capa amarela. Está na minha biblioteca pessoal desde Agosto de 1976, foi comprado na Livraria do Diário de Notícias, no Rossio, em Lisboa e custou 60 escudos. Classificação numérica de entrada:752!
Wilhelm Reich, 6ª edição, colecção Viragem, publicado pela Dom Quixote com tradução de Maria de Fátima Bivar.

"Chamam-te “Zé Ninguém!” “Homem Comum” e, ao que dizem, começou a tua era, a “Era do Homem Comum”. Mas não és tu que o dizes, Zé Ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.
Tu és herdeiro de um passado terrível. A tua herança queima-te as mãos, e sou eu que to digo. A verdade é que todo o médico, sapateiro, mecânico ou educador que queira trabalhar e ganhar o seu pão deve conhecer as suas limitações. Há algumas décadas, tu, Zé Ninguém, começaste a penetrar no governo da Terra. O futuro da raça humana depende, a partir de agora, da maneira como pensas e ages. Porém, nem os teus mestres nem os teus senhores te dizem como realmente pensas e és, ninguém ousa dirigir-te a única critica que te podia tornar apto a ser inabalável senhor dos teus destinos. És “livre” apenas num sentido: livre da educação que te permitiria conduzires a tua vida como te aprouvesse, acima da autocrítica..."

(excerto, da obra citada)

3 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Oar aí está um livro que sempre tive debaixo de olho e nunca me calhou ler :(

Mike disse...

Nunca li. Importante esse tal de Zé Ninguém, hein? ;)

Lina Arroja (GJ) disse...

RAA, este é outra vez o momento para reflectir. Merece procurá-lo e ler. Por outro lado, Reich vai voltar à ordem do dia. Estou certa disso.

Mike, O manuscrito não era para ser publicado porque se resume a um desabafo de Reich perante a intolerância e perseguição ao seu trabalho, tanto da direita como da esquerda. Por isso ele é especialmente importante, agora.
Tenho a certeza que os trabalhos de Reich, no campo da sexualidade, vão voltar a ser alvo de interesse e de debate.