Há dias em que nos vestimos melhor e gostamos mais do que vemos, outros em que se não fosse a superstição partíamos os espelhos que dão valor à imagem. Uma coisa sabemos, uma vez dentro, sair é difícil porque os amigos ou a comunidade não deixa, porque nos sentimos obrigados a cumprir uma missão, porque temos gozo no que fazemos. E, sempre no mesmo lugar, vamos dizendo olá, refazemos as histórias e a história, criamos amores e desamores, levamos e trazemos pequenos ódios e raivas de estimação, voltando no dia seguinte, para fazer as pazes com o dono da loja ou com a vizinha que, por um instante, nos estragou o estaminé com um anúncio publicitário. Respondemos com um teaser com o objectivo de manter a clientela e angariar novos curiosos.
Como os espaços e as cidades não vivem sem a alma das gentes, temos de agradecer a todos os que nos visitam e nos ajudam a manter as lojas com artigos interessantes, as galerias com exposições para visitar e pessoas para encontrar. Entre vidros e espelhos, entram visitantes de muitas cores que deixam e levam lembranças pertencentes a muitos lugares.
A minha loja não teria passado de anteprojecto, se a minha amiga Miss Pearls não a tivesse visitado logo no dia da pré-inauguração. É que ainda os preparativos estavam no ar e já a ela se afirmava adepta do espaço, confiante na dona da loja e desejosa de a recomendar aos amigos. Sabendo-me pessoa curiosa, pouco dada a reconhecimentos públicos e com pouco a acrescentar a algo que já outros tivessem dito, achou por bem "obrigar-me a continuar". Longe dos olhares e dos ouvidos dos mais próximos, por serem eles os nossos maiores críticos, mas também por ser deles que esperamos o reconhecimento e a apreciação do que fazemos, o anteprojecto passou a projecto, a inauguração foi feita, até porque no fim de contas, os vidros partem-se, segredos leva-os o vento e os espelhos não roubam a alma.
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