A visita deste Papa ou dos seus antecessores a Países africanos ou da América latina tem sempre como ponto de honra, o discurso sobre a questão dos preservativos ou da abstinência sexual. Para a Igreja Católica faz todo o sentido que o discurso se faça do ponto de vista dos princípios e valores que não me interessa aqui debater. O que me parece pertinente é continuar a apelar-se à renúncia de métodos que, por um lado, as equipas de saúde tentam por em pratica diariamente, com ajuda humanitária, com a sensibilização de ONG, com o apelo à contribuição de fundos comunitários e a todos os meios disponíveis para melhorar a educação e a aprendizagem de cuidados básicos, e por outro, continuar-se a deixar nascer, morrer e infectar pessoas. Este é o tipo de discurso que não queremos ver no mais alto comissário de Deus. Ninguém no seu perfeito juízo dirá que o Papa quer que as pessoas morram ou sejam infectadas com a Sida. Já os nascimentos sabemos que é para isso que os Evangelhos nos dizem que viemos ao mundo, mesmo sabendo os actuais representantes do ensinamento da fé, que as taxas de natalidade e mortalidade infantil estão desesperadamente desequilibradas naqueles países. Promover a continuidade das tradições e da família africana como foi dito nos Camarões, merece todo o meu respeito. Promover o desenvolvimento económico dos povos também, mas querer que o Continente africano continue na era da pedra, não me parece que leve outros povos e outras culturas à aventura de ali se instalarem e praticarem o bem comum de ajudar o próximo a saber ser independente e livre.
Pouco se falou, até à data na imprensa, sobre a escravatura humana e trafico de mulheres e crianças. E este, foi o ponto que me pareceu mais interessante no discurso do Papa nesta sua visita a África, tanto mais, que a utilização de preservativos diminuiria nascimentos e doenças, para além de contribuir para o aumento de qualidade de vida, controlando também este problema social.
O número de mulheres que são vendidas como gado, e as crianças que levam o mesmo caminho é uma questão mal formulada porque pertence a vários continentes e deve ser reposta nos discursos sobre Direitos Humanos. Neste processo de comprador, vendedor e diferentes intermediários, o menos culpado, talvez seja, o consumidor final que já nem sabe, nem lhe interessa onde se iniciou a cadeia de valor do produto que dá pelo nome de raça de gente sem escrúpulos!
Hoje celebra-se o Dia do Pai e em nome de todos os filhos e filhas que nascem todos os dias, era bom que a Igreja Católica se lembrasse que é a Mãe de todos nós e que o Pai se o quisermos conhecer temos de ter muita fé e acreditar que um dia teremos a recompensa da nossa passagem pela Terra.
17 anos
Há 5 meses
10 comentários:
Gostei de a ler, Grande Jóia. Também compreendo que o discurso da Igreja tenha de ser coerente com os princípios, mas penso, igualmente, que a dimensão do problema recomenda uma abordagem menos rígida, e que a Igreja, na defesa dos seus valores, não deve entrar em contradição expressa com orientações profilácticas da ciência. Julgo saber que a Igreja Católica entende que este é o tempo da sua travessia do deserto. Mas se não tem, ela própria, alguns cuidados preventivos, se não reconhece a realidade do terreno que pisa, pode não sobreviver à travessia. O que seria lamentável. E, porque se trata – na minha opinião – de uma Igreja muito aberta (a mais próxima do politeísmo, escrevia, alguém, em tempos), tolerante, conciliadora e benfazeja, tremendamente injusto.
Luísa, essa questão muito pertinente. Seria uma lástima deixar que uma Igreja muito aberta e conciliadora se transformasse numa travessia permanente no deserto.
E só o conhecimento diminui males conhecidos, a começar pelas mulheres que seriam as primeiras a captar e a transmitir.
Por cá, felizmente ninguém o leva a sério, tirando meia dúzia de beatos. Ir a África dizer barbaridades destas, é criminoso.
Excelente! Gostei de a ler, GJ.
Pois é, RAA, mas os beatos são ouvidos em muitos sítios. E o pior são aqueles que nem religiosos são e que falam barbaridades a troco não sei o quê.
Não dá para ficarmos calados,Mike.
Querida GJ, este é um tema que me tem feito entrar em confronto aberto com gente que respeito e admiro. Concordo consigo, e não compreendo como pode a Igreja Católica ignorar olimpicamente o que se passa à sua volta, em nome de uma tradição completamente desajustada da realidade. Diz a Luísa, e muito bem, que a IC é por natureza aberta e quase politeísta (eu diria que é mesmo, mas noutro sentido: o que são os "santos" se não deuses menores e mais próximos?), mas o que eu vejo é que está a comprometer toda a sua excelente acção com uma teimosia que, para mim, não faz qualquer sentido. Eu diria mais, e sei que estou a ser radical neste ponto: todo o magnífico trabalho de uma vida duríssima e exemplar de João Paulo II está a ser posto em causa por este Papa, infelizmente. Como se diz agora, parece ter sido um tremendo "erro de casting" de Roma. Mas, como o Vaticano não dá ponto sem nó nem faz as coisas inocentemente, pergunto-me o que estará por detrás desta nomeação...
Este é um assunto que dizem os mais entendidos em teologia que tinha de ser feito para recolocar os princípios da Igreja Católica. Este Papa não foi escolhido para ser popular como o anterior, mas sim por ser um refazedor dos principios mais dogmáticos do Cristianismo. É um intelectual dizem,profundo conhecedor da doutrina e que como sabe que não lhe restará muito tempo, não está muito interessado em ser ecuménico como João Paulo II.
É pena, então, se isso é assim. O ecumenismo foi a mais espantosa obra de João Paulo II, e levou-lhe uma vida inteira a construir.
Vai levar muito tempo esta travessia, como diz a Luisa. Mas eu nao sou uma conhecedora de teologia. Quem sabe se estamos enganados?
Sou de adesões espontâneas, GJ. E a Ratzinger não adiro... nada feito. Tudo o que ele tem feito e dito me diz que não estou enganada, infelizmente. E gostava de estar.
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