05/03/09

O género do casamento

Depois de uma vigília a favor da causa, continua hoje nos EUA o debate sobre a revisão da decisão do Tribunal Supremo da Califórnia sobre a aprovação do casamento homossexual. Este é um debate que tem dividido vários países, incluindo o nosso, e que muitos apontam como uma questão cultural, incluindo os Estados Unidos. Esta questão que para alguns gera polémica incendiada e para outros não tem sequer lugar a dúvidas por ser um assunto de liberdade e igualdade, merece que lhe dedique mais atenção. Por hoje, terá direito a destaque de um comentário feito e lido nas notícias internacionais.
“Let homosexuals get married. Big deal. Plus, why should only men and women go through the misery of divorce. Let a couple of alternatives go through it. After a while they will ban marriage themselves.”
Independentemente da opinião de cada um e de cada qual, a igualdade do casamento tem também este lado das competências, e provavelmente o comentador tem razão no que diz. Assim que tivermos todos os mesmos direitos e deveres independentemente da natureza do género, vêm igualmente a seguir e da forma mais tradicional possível, todas as consequências do acto. E aí poderíamos ver se o número de divórcios aumentaria, se os casais com filhos adoptados ou não seriam mais conservadores, se as maleitas tradicionalmente associadas ao casamento surgiriam com maior ou menor frequência, se a adopção é o assunto mais importante nesta discussão ou apenas mais um direito que faz parte do pacote a que se tem direito, se o número de casais homo crescia de forma tendencialmente superior que o dos casais hetero, se os filhos tinham ou não diferenças na aprendizagem, se a questão cultural é a natureza do desgaste. Ou seja, na verdade, poderíamos analisar se o conceito de família se destruía ou pelo contrário repunha princípios esquecidos e quais são os valores que determinam a natureza dos seres. Mesmo sabendo que a dimensão da amostra teria de ser significativa para podermos comparar, "e outras coisas sendo iguais", eu gostaria de poder fazer esta análise em tempo de vida.

6 comentários:

Mike disse...

Eu tenho que confessar, apesar de não ser politicamente correcto, que o assunto "casamento homosexual" nunca despertou em mim curiosidade em aprofundar o tema, ou requereu mais tempo de reflexão que o que tem requerido, ou seja, pouco ou nenhum. Já a análise que gostaria de fazer em tempo de vida parece-me bem mais interessante, apesar de, preguiçosamente, preferir que alguém a faça por mim, mesmo que não seja em (meu) tempo de vida. Não sou um bom cidadão, GJ.

Lina Arroja (GJ) disse...

Apesar de ser difícil no meu ou no seu tempo, Mike. E não é uma questão de ser bom cidadão, apenas a conclusão de um processo. Antropólogos e sociólogos por cá ficarão a analisar para os filhos e os netos destas gerações contarem como foi.

Luísa A. disse...

Para lhe ser franca, GJ, não sou realmente contra nada. O casamento civil é, para mim, um mero contrato, que pode adaptar-se àquilo que se queira. E sobre a questão da adopção, poderia ter mais reservas, se não fosse preferir uma criança adoptada por homossexuais do que uma criança abandonada. O que realmente me exalta nestas questões é o excesso de visibilidade que lhes é dado, num mundo em que há coisas infinitamente mais graves e urgentes; é o exibicionismo frequentemente chocante dessa gente que se nos quer impor, a todo o custo, como regra geral e não como excepção que é. É o mau gosto de tudo isto. De resto, também acharia muito interessante essa sua análise.

Lina Arroja (GJ) disse...

Estou de acordo, Luísa. Eu também não sou contra nada e o casamento civil é um contrato como diz. A questão da adopção é que é o ponto nevrálgico e para as pessoas solteiras em geral. Daí tanta questão à volta do tema. Andar à volta da palavra matrimónio ou casamento é apenas um fait-divers para a maioria dos intervenientes.
A minha opinião é que as excepções têm de ser tratadas como tal, independentemente dos direitos e deveres adquiridos.

ana v. disse...

Estou 100% de acordo com a Luísa e consigo, GJ. Não entendo o barulho que se tem feito em volta disto, a não ser atribuindo-o a uma manipulação política do assunto, muito conveniente para criar cortinas de fumo em tempos difíceis e para arregimentar exércitos em fileiras bem definidas. Tudo isto - e o mau gosto de tudo isto - me dá enjoo. Não vejo por que não hão-de os homosexuais casar-se e chamarem casamento àquilo que o é, de facto (o tal contrato civil), nem vejo por que tem a Igreja de pronunciar-se sobre um acto que não lhe diz respeito. A Igreja pode dizer que não admite no seu seio o casamento homosexual (religioso) - está no seu pleno direito e é lógico que o faça - mas não tem de ser consultada sobre o casamento civil.
Acho que este comentário vai passar a post, porque ainda tenho muito para dizer e não quero entupir-lhe a caixa de comentários... :-)

(Curiosidade: a palavra que me tocou na verificação de palavras é "reatio". Giro.)

Lina Arroja (GJ) disse...

As Igrejas têm todo o direito de aceitar ou não o casamento entre seres do mesmo sexo, tal como aceitamos diferentes confissões religiosas e não temos de as frequentar. Como muito bem dizia, José Vitor Malheiros na sua crónica do dia 3, no Público, é que "a sociedade aceita sem problemas o homo mas continua a ter dificuldade com o sexual".