Os vinte anos do Jornal Público são iguais aos últimos vinte anos de quem o lê. Naquela época Portugal vivia um período de estabilidade política, económica e financeira, o impossível não existia, a juventude dos projectos iniciados na década de oitenta estavam no ar e começavam a ter vida, as empresas tinham lucros e as equipas tinham dinâmica de trabalho, o país estava num estado de graça que o Cavaquismo, quer se goste ou não, tinha trazido. Quando o jornal saiu, cheio de vigor, de compromisso com a nova comunicação, com a viragem de página e novos jornalistas, com o primeiros jornalistas especialistas em assuntos, coisa até aí rara, com colunistas desejosos de expor a sua opinião e de alterar mentalidades, os mais cépticos não lhe atribuíam mais de um ano e são os mesmos que, tal como hoje, não atribuem mais de um ano à democracia nacional. Aqueles que não acreditam no projecto são os mesmos que hoje andam em jornais, que querem ajudar a derrubar não o
status quo mas a edificar uma lei da selva em que a mentira, a provocação e a maldicência são o pão nosso de cada dia. A sociedade portuguesa vive momentos difíceis, mas a lei da liberdade de imprensa é o motor para que a confiança continue a vigorar junto da opinião pública. Informar e esclarecer continua a ser o mote da liberdade e deixar que quem lê forme opinião e julgue, caso se justifique, também. O público precisa do jornal Público e de todos aqueles que têm por principio a honestidade e o serviço mesmo que o projecto seja propriedade de privados. E é por isso, que apesar das línguas no passado terem invocado a falta de experiência do empresário de marcas para gerir jornais como um dos factores para o insucesso do mesmo, não têm tido razão. Um empresário com visão espera que o projecto se rentabilize acreditando que dele consegue fazer uma marca diferenciada. Neste caso, o jornal Público tem ao longo destes vinte anos conseguido transformar-se exactamente nisso - uma marca. Para ser rentável ela ainda tem de continuar caminho para se diferenciar. E este é provavelmente o momento certo. E tal como o jornal também o público que o lê tem a sua oportunidade para expressar o que quer fazer deste país, em quem acredita, no que acredita e deixar que a maturidade ande lado a lado com a democracia, com a liberdade e com a visão estratégica. Já não basta fazer diferente, o que é preciso é fazer com tenacidade, frescura e vontade renovada mesmo que a idade nos diga que já não vale a pena.
6 comentários:
Tudo vale a pena, se alma não é pequena, dizia Fernando Pessoa.
E só se é velho quando se renuncia a ser novo. Gostei do seu post. Bom fds.
Hesitei em comentar este (belíssimo) texto sobre os 20 anos do Público, pegando no facto da Colega afirmar (e bem) que estamos em presença de uma marca com histórico e reputação. Não sei explicar porquê, mas gosto do tema. ;D
Mas não, GJ. Hoje não me apetece dedicar-me à costura. E assim me fico pelo "já não basta fazer diferente, o que é preciso é fazer com tenacidade, frescura e vontade renovada mesmo que a idade nos diga que já não vale a pena", sem mais nada acrescentar a não ser, gostei!! :)
Bom domingo, Dreamer. :-)
De vez em quando damos uns alinhavos, Colega ;D
GJ
Só leio 2 jornais: o Público e o Expresso. Que não nos tirem a liberdade de expressão e que não "anulem" jornalistas que sabem exercer a sua profissão.
Beijo
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