Ter espaço próprio e um pouco de paz não tem nada que se critique a pais que trabalham dentro e fora de casa. Procurar meios para entreter filhos para conseguir esse sossego é tarefa que todos os pais modernos ou antigos sempre tiveram pela frente. Independentemente da idade, todo o progenitor necessita descanso porque uma criança cansa e até aqui nada de especial a comentar.
O rapazinho que acorda às seis da manhã, chora porque tem fome, a lindeza que acorda a meio da noite tem cólicas, aborrece o adulto que dorme e desperta toda a vizinhança. É uma das situações inerentes à condição de ser pai ou mãe.
A questão está na dificuldade em ultrapassar as implicações da maternidade e da paternidade.
E numa altura em que se debate a aplicação de penas pesadas para os incumpridores dos deveres para com o cônjuge que tem a custódia dos filhos em caso de divórcio, este tema volta a ser importante discutir, tanto mais que os homens reivindicam cada vez mais o seu direito ao aumento do tempo com os filhos, face à sua nova atitude perante a paternidade. Passando mais tempo com os filhos os pais têm iniciativas e aperfeiçoam a técnica do entretenimento. Como já disse anteriormente e volto a relembrar quem regressa a casa não é o "bebé Nenuco".
Assim, o pai que coloca o plasma no tecto do quarto do filho é apenas um pai habituado ao mundo virtual. Antigamente o pai tinha de esperar pela idade em que podia jogar à bola com o filho ou ir ao cinema com a filha para ser útil e feliz e situar-se na tarefa que lhe estava destinada - ser pai.
Hoje, o novo pai, ensina o que sabe. E o mundo dele são as consolas de jogos, os vídeos, o computador, e ele mais não faz do que iniciar o seu sentimento de utilidade paterna logo que pode. Com os comandos que potencialmente terá em casa este pai, e estes pais que mal os seis meses chegam passam o rebento para quarto alheio, são os pais que me asseguram que agora há todos os meios para vigiar à distância.
Eu que até não sou muito antiga e já vi destas coisas há 30 anos, lá longe no país do frio, não fico espantada. São exemplos da modernidade dos tempos em Portugal e dos pais que descobriram o conceito do grande espaço virtual. Os pais da globalização falam pela mesma cartilha e aprendem com os mesmos filmes e não necessitam das nossas antigas empregadas - criadas para nos ajudarem - ou dos familiares para nos falarem com a sua experiência.
Os pais ficam tranquilos porque sabem que com o auxílio da domótica podem controlar se o bebé chora, respira, tosse, mexe a perna ou o pé. Juntando a isto o livro da interpretação dos choros - se quer arrotar, se quer comer, se tem a fralda encharcada até ao pescoço - os pais nem necessitam de ter o bebé dentro de casa.
Não tardará o dia em que a casota do cão será o espaço do bebé. Aquilo que no passado se destinava a arrumos de bicicletas e brinquedos de praia, passará a ser o habitat infantil quando alguém disso se lembrar.
É mais ou menos o equivalente aos lares para idosos em versão júnior. E à distância, com os seus comandos, os seus visores, os seus computadores e as suas câmaras, os pais poderão estar descansados e continuar a sua vida tranquilamente. É claro que tal como nos lares não faltará comida nem faltará agasalho. Faltará o mais importante - os sons e os afectos - o carinho e o amor do familiar.
E as mães? Bom essas, como querem ter mais paz e sossego porque trabalham e não querem perder nada do adquirido, estão felizes e tudo lhes parece bem. Faltará a voz, o comando para situações diversas, o acompanhamento e acima de tudo a partilha do tempo com os seres que supostamente se desejaram. Olhem é o que se pode e como diz o outro, contra argumentos destes não há palavras.
17 anos
Há 4 meses
2 comentários:
Quem disse que não havia palavras? Há sim senhora, e bem escritas. :)
A paz deste guerreiro e dos que lhe dão guerra (risos) é na areia do mar depois dos corpos cansados de tanta onda apanharem (todos, que até o mais pequeno já se iniciou nas lides). Ah, mas quem dispensa um jogo na PS2? (mais risos)
São baldes e pás de castelos de areia, seguidas de ondas umas maiores outras mais pequenas. Vida de guerreiro...
Enviar um comentário