O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor. O preto formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo como a imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo."
(Herberto Helder, "Os Passos em Volta", Assírio & Alvim, 2001, pgs 23,24)
3 comentários:
Não conhecia e gostei.
(amarelo ou laranja: duas belíssimas cores, aliás)
:-)
Hum... gostei deste post, GJ. Fiquei a pensar que para haver uma lei da metamorfose é que necessário que a metamorfose exista. ;)
Pois é verdade, já a Luísa dizia e em poema.
Mas verificou-se, pois o laranja virou amarelo. ;)
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