10/06/08

Viver a dois

Existem duas alturas na vida em que o viver a dois se revela uma tarefa de aprendizagem. A primeira surge quando duas pessoas decidem viver juntas. A partilha do espaço, a concessão de direitos e deveres, a inter-ajuda em tarefas mal assumidas e de difícil aceitação e muita rejeição à perda de liberdade.
O jovem casal tem de aprender a ceder e a gostar de dar prazer e não é líquido que gostem os dois da mesma música ou que queiram ver o mesmo filme. O mais certo é que queiram sentar-se no mesmo sítio do mesmo sofá, que um queira ver o futebol e o outro um documentário qualquer, para além da divisão das tarefas domésticas não ser situação pacífica.
Os dois jovens que até aqui faziam como bem entendiam, cada um tinha o seu canto com os seus hábitos e particularidades, partem para a relação a dois com o mesmo espírito. Os dois passam muitas vezes de amantes a gladiadores. O bom senso levará o navio a bom porto, se os dois quiserem.
A segunda fase de aprendizagem a dois, surge quando os filhos saem de casa. O casal que se habituou a ter as actividades distribuídas volta agora a ter de partilhar tempo, coisas e espaços. O tempo é fácil e pacífico, mas o espaço e as coisas é pior. É que tudo volta ao princípio. As mulheres que passaram a vida a partilhar tudo o que tinham com os filhos e com o marido estão iguais, só que com menos alvos alternativos. Os homens que também se habituaram a ser dependentes da mulher para umas coisas e a não dar informações para outras, acham estranho serem questionados sobre os seus assuntos. E o ambiente volta a ser de concessão e de perda de liberdade.
Por outro lado, os que conseguiram criar uma identidade própria, manter a sua independência e não caíram no erro de querer modificar o outro, conseguem voltar a bom porto. O único problema é que não querer modificar o outro, é sabedoria que só se adquire com a idade e muitas vezes, já é tarde para perceberem os dois, que o pior que pode acontecer ao casal é querer ser uma só pessoa.

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