05/01/09

Haiti (II)

A chegada ao Aeroporto Internacional de Port-au-Prince teve o impacto do calor, do caos e da transpiração que eu iria viver durante os próximos tempos. Parte das malas não chegaram e até aqui nada de novo para quem viaja, a novidade estava reservada para dois ou três dias depois quando feita a viagem de ida e volta com a mala em meu poder, o militar de serviço me sugeriu que o dinheiro lhe daria jeito... Nestas coisas temos o visitante e a mala dum lado, o oficial e a arma do outro, vence o segundo! Esta foi a primeira lição do que percebi ser um nível de corrupção que eu não conhecia. Na época, o Haiti tinha no poder Jean- Pierre Duvalier "Baby Doc", filho de "Papa Doc" anterior Presidente.

O Palácio Presidencial branco e imponente estava munido de arcas frigoríficas para conservar os casacos de pele da primeira dama. A visita ao Palácio era feita de forma a mostrar a grandiosidade dos seus governantes e o luxo das desigualdades. Durante todo o período tive ao meu dispor um segurança que hoje sei que foi fundamental e que na altura me parecia uma extravagância da entidade universitária. Chamava-se Dernier BonHomme e tinha este nome por ter sido o último filho daquele pai. Ele próprio tinha vários filhos e transportava a minha como se fosse um objecto de ouro. Todas as manhãs estava à porta do Hotel para me acompanhar ou apenas, para ficar à minha disposição para o que desse e viesse. Como ainda não estava habituada aos rituais africanos eu achava que era uma imposição tola, mas a seu tempo voltei a conhecer a gentileza e a subtileza do meu acompanhante, ele nunca se intrometia.

No mercado ia à frente abrindo fileiras, olhava à distância com aquele olhar africano que, sem darmos conta, nos observa e protege. Certificava-se que o preço era correcto, se não me aborreciam os vendedores, se as duas estávamos em segurança.
O preço correcto é um eufemismo que não tem significado num país onde gastei mais dinheiro em gorjetas do que em compras ou serviços. Um país que vivia do turismo e que estava "às moscas" porque deles corria o boato que eram os responsáveis pela Sida.
As condições de trabalho eram razoáveis e até havia ao fundo da sala uns "senhores de fato" que de facto apenas ouviam e observavam o que ali se dizia. Duvido que fosse para aprender conceitos de gestão ou economia!

(continua)

5 comentários:

Mike disse...

Ena, eu tenho que ler este texto com calma, saboreá-los, e como estou sem tempo, voltarei cá depois, pode ser GJ? :D

Lina Arroja (GJ) disse...

Claro que sim, tem todo o tempo do mundo! :-)

Mike disse...

Agora sim. E vou ser breve apesar da leitura atenta a que me impus. Gostei desta, vou chamar-lhe crónica, e esperar ansiosamente pela continuação. :D
Haiti... surpreendente esta crónica com que nos brinda. ;D

ana v. disse...

Bela crónica, GJ. Queremos mais, agora... a continuação prometida!
Beijinho

Lina Arroja (GJ) disse...

Alguém sabe onde anda o tempo livre?...:)