02/01/09

Nós, os parodiantes!

Somos um país de parodiantes. A diferença entre um parodiante e um comediante é que o primeiro não tem escola, a piada vem-lhe ao sabor da ocasião e o mote da piada é que consegue ser piadético do nada. As rábulas não têm história e tentam ser nonsense. Por outro lado, um comediante sabe pegar num texto e interpretar o autor ou dar-lhe uma interpretação com estilo e figura. Enquanto os parodiantes são uns "faz figuras" os comediantes têm figura. O comediante fica para a história do humor e da comédia, enquanto o parodiante fica para a história do esquecimento passado o tempo da paródia.
Nós, portugueses, gostamos de paródia e por isso, dá que pensar como é que um povo que gosta tanto de rir, ri tão mal. E ri sem saber do que ri e chora em vez de rir e tem o fado na alma sem ter a alma do fado. De todos os temas sabemos fazer graças, mas não temos a graça de ter um país de actores conhecidos e reconhecidos nos lugares certos. No nosso tempo e num século de graça não há graça que nos deixe ficar na memória uma comédia de comediantes. Não há escolas de teatro e de comédia que consigam vingar num país que tanta graça tem, mas que não sabe rir de si próprio. A comédia é difícil e a graça está na subtileza do actor e do guionista. Nos últimos anos têm aparecido jovens que tentam e, alguns até podiam, ter sucesso se fossem ensinados a fazer e a ter graça. Como em tudo na vida a comédia tem de ser estudada, o actor ensinado, o escritor aprender a escrever, o ensaísta saber ensaiar e o teatro aprender a captar plateias de gente mais fina no conhecimento e na degustação.
Os países que sempre tiveram gosto pelo ensino das artes e fomentam o seu desempenho, têm actores e continuam a interpretar de forma passada ou presente coisas de todas as épocas e de todos os tempos. Um bom trabalho com conceito, como se diz hoje, não passa de moda porque tem passado, ao contrário da paródia de um trabalho que tem a moda do tempo. Por isso, não é de admirar que canais como a SIC Radical ou Antena 3 tenham orçamentos reduzidos e façam o que podem para chegar a um pequeno público.
Fernando Alvim é uma das pessoas, que num sítio e noutro tenta fazer diferente, mas ele enferma do mesmo problema: é apenas um parodiante que gosta de trazer outros parodiantes à tona. E o Alvim, que na minha opinião, tem um enorme talento, devia procurar a Escola antes de querer fazer escola. É que vai acabar como o outro ídolo do humor português, que está a fazer o que a roda da sorte lhe deu e que esgotada a febre não o deixou nem actor, nem cantor, nem produtor, nem provavelmente rico.
O caso mais recente do Bruno Aleixo é disso exemplo. São jovens que fizeram outras coisas, licenciaram-se noutros assuntos e a "ocasião fez o ladrão". Deu-lhes para fazer uns sketches, colocar uns trechos na net, conhecer o Alvim e ter direito a entrevista no Público. Apesar de tudo, o sucesso vai aparecer mais alargado mas a sorte terá memória curta. É que eles estão a fazer, por acaso, o que pensam ser nonsense, mas isso já o Herman tentou olhando para alguns exemplos, como os Monty Python que construíram "a escola" de nível internacional.
Um país que não sabe rir de si próprio não pode fazer nonsense por acaso, e é pena que os mais novos não procurem ser ensinados por profissionais da comédia.

3 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Excelente post. Talvez por isso, o Solnado, um comediante, seja o único que se mantém à tona ao longo de todos estes anos.

Lina Arroja (GJ) disse...

Exactamente e ficará na história com ou sem "a guerra de 1908".

Mike disse...

A pena que temos de nós próprios impede-nos de saber rir.
Magnífico texto, GJ.