30/11/09

Raul Indipwo

27/11/09

Emigrantes por defeito ou opção?

Quanto mais tempo estamos no nosso cubículo mais chatos nos tornamos. Seja em casa junto da família, no emprego junto dos colegas, na paragem do autocarro junto dos outros utentes, na carruagem do metro, na pastelaria da esquina que frequentamos diariamente e onde esboçamos um sorriso forçado. Todos nos parecem uns aborrecidos idiotas e nós uns ilustres sábios continuamos a massacrar quem temos por perto. Os políticos e os programas de televisão não fogem à regra e até já nem nos blogues nos livramos de aborrecer quem nos lê. Olhamos para o nosso umbigo, dentro do cubículo que se tornou o nosso dia a dia e a porta do nosso país continua fechada a pessoas com outras características e talvez, quem sabe, capazes de trazer outra cor, outros motivos e outras histórias mais alegres, soltas, e de maior dimensão e está cada vez mais ampla e aberta a todos os que decidem encontrar lugar , emprego ou alegria noutro espaço. Tudo nos parece pequeno, tudo é grande aos olhos de quem é pequeno e tudo vai continuando conforme o nosso pedaço de humor. Sei que não é fácil ultrapassar esta tarefa, que à portuguesa herdamos e onde sempre tropeçamos. A saudade do que já foi, o que é e podia ter sido, que não nos larga e consome por tudo e por nada. Pergunto, para que servem as entrevistas a pessoas que não nos esclarecem, as reportagens de assuntos já ressequidos e que tresandam a esturro, mesmo que pelo meio esteja a senhora que perdeu o dinheiro numa instituição e que agora se senta ao relento numa avenida da cidade, greve de fome, diz ela, Quimonda fala ela, enganada e desempregada, expectativas frustradas acrescenta. Mas pergunto eu, ainda alguém liga a estas acções de voluntarismo sem jeito? E o resto que continua, agora é face oculta , amanhã cara alegre, e todos continuam à procura do "ninguém" que tem razão. Pobre país o meu que continua à procura de quem lhe diga onde se encontra o paraíso e só procura emigrar!

25/11/09

Leite Derramado

"Ao passo que o tempo futuro se estreita, as pessoas mais novas têm de se amontoar de qualquer jeito num canto da minha cabeça. Já para o passado tenho um salão cada vez mais mais espaçoso, onde cabem com folga meus pais, avós, primos distantes e colegas da faculdade que já tinha esquecido, com os respectivos salões cheios de parentes e contraparentes e penetras com suas amantes, mais as reminiscências dessa gente toda, até ao tempo de Napoleão"
(Chico Buarque, in Leite Derramado, pp21)

23/11/09

Prevenção e controlo do Dengue em Cabo Verde

Cabo Verde vive uma situação difícil. O dengue, inexistente até há pouco tempo no país, dificultou a identificação da doença na sua fase inicial e tomou proporções fora de controlo. A ajuda, inclusive de médicos portugueses que se têm deslocado para os principais centros de infecção e o pedido de medicamentos tem sido uma realidade. Nesse sentido, publico um email que recebi, através de familiares caboverdianos.
Hoje, o João Branco publica no seu blog este texto , que merece, igualmente, cuidada reflexão.
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"Saudações amigas
Na verdade tem sido muitos os pedidos de apoio em medicamentos para a luta contra a epidemia do dengue que não pára de causar vítimas. E agora está a surgir o pior que é a associação desta doença com a Gripe sazonal e vários casos já detectados de Gripe A. Tudo isso devido à mudança de clima e de temperatura que se faz sentir nestes dias....Desde que aqui na nossa Paróquia organizamos uma equipa de apoio às pessoas mais carenciadas e a necessitar de apoio medicamentoso....os pedidos não tem parado....estamos a atender em média por dia cerca de 25 pessoas....
Assim, vimos reforçar o pedido em nos ajudarem no envio de medicamentos mais urgentes para estes casos:- paracetamol- Vitamina C- Amox- Vibrocil. E como prevenção repelentes e redes mosquiteiros.
Os mosquiteiros e outras coisas em maiores quantidades poderão ser enviados no próximo contentor a ser carregado a 28 deste mês.
Agradecemos, mais uma vez, toda a vossa colaboração e ajuda para esta doença que tem alarmado Cabo Verde.
Um abraço amigo
Pe. Nuno"
PS: (O endereço do Padre Nuno será divulgado por email a quem o requisitar)

Good Madness à segunda - feira!


Maria Gadú - Lounge

21/11/09

Amazonas


Blog Instigante

A Austeriana atribuiu-me este selo de reconhecimento. Considerar que nesta casa se aprende sempre alguma coisa é mais do que eu poderia esperar. De vez em quando eu já acharia bom. Fico muito sensibilizada e tenho de admitir que já estou inchada de peneiras. Muito obrigada!
Como este prémio visa distinguir e passo a citar os «Blogs que, além da assiduidade das postagens e do esmero com que são feitos, nos provocam a necessidade de reflectir, questionar, aprender e – sobretudo – que instigam almas e mentes à procura de conhecimento e sabedoria.», vou passar aos que fazem parte do meu percurso blogueiro, aqueles onde tenho aprendido a reflectir e a partilhar e que são sempre instigantes.

Bicho-Carpinteiro (Aust), Nocturno (Luísa), Ares da Minha Graça (Patti), Catharsis (Ana Paula)
De si para si (Si), Delito de Opinião (Pedro Correia e al), Crónicas do Rochedo (Carlos)
Outros Lugares (Ricardo AA), Blog Experimental (Vasco), Porta do Vento ( Ana e al)
Desconversa (Mike), Esconderijo (Fugidia), Cronicas da Teresa (Teresa)
Sabor de Maboque (Dulce), Cantinho da Luzcia (Luz), Inquietações (Lisa),
A Barbearia do Senhor (Luís), Ma-Schamba (JPT).

20/11/09

O teste da barata

Natalia Colection

Andam para aí umas pessoas com trolhas emprestados e com pronúncia do norte , mais aqueles que apresentam descaradas campanhas de marketing. Assim não dá! Proponho com este teste da barata, que me digam o que devo fazer.

Just perfect

Obrigada ao RAA que me considera "just perfect". E eu toda vaidosa renomeio quem me nomeou, e devolvo aos amigos que me têm proporcionado momentos vip e de grande calibre. Obrigada a todos e porque eles sabem quem são, deixo aqui o convite para passarem a corrente.

16/11/09

Entre custo e investimento

Hoje perguntaram-me porque é que as nossas ideias nunca funcionam, enquanto outros as implementam. Regressada do Brasil eu tenho a resposta. Não funcionam porque não vamos aos lugares conhecer o local. Integrados numa politica de globalização acreditamos que as ideias se colocam da mesma forma em todos os lugares e que se copiam a papel químico. Não é verdade, eu própria já ensinei muita gente a acreditar comigo que os produtos se podem vender transversalmente em qualquer lado desde que sejam ao mesmo segmento. A ideia de adaptar localmente ou de utilizar outsourcing para realizar tarefas ou funções que do outro lado do atlântico funcionam de forma diferente é uma realidade necessária. O que leva muitas empresas pequenas a não internacionalizar não é a sua dimensão, mas sim a dimensão das ideias dos responsáveis e dirigentes que as administram. Uma, duas, três, e as necessárias visitas a um potencial mercado ou parceiro não é um custo, é investimento. O mal da maioria das empresas portuguesas é que os custos se tornaram de tal forma o motivo do dia a dia, que tudo é considerado um esbanjamento de recursos. Podemos dar toda a formação a dirigentes, funcionários, colaboradores, alunos e outros, mas ela nunca sairá do papel se apenas o fizermos na sala de aula. Podemos convidar milhões de palestrantes mas se não conhecermos a realidade local não funcionará. Podemos chamar muita música e governante mas a fanfarra só fica no ouvido se compreendermos a letra da canção e o motivo que a gerou. Cantarolar todos o podemos fazer, agora explicar a letra da canção é que é mais complicado se não falarmos a mesma língua. Assim, pelo menos uma vez na vida talvez fosse bom pensar no investimento, deixar a contenção de custos de lado e olhar para o velho Canfield que apesar de ser de uma área paralela, foi motor e incentivo para muita equipa de venda de ideias e conceitos logo a seguir à crise financeira dos anos 30.

Sabor de Maboque

Acabei de ler o "Sabor de Maboque" da Dulce Braga. A "cria" como ela lhe chama é o resultado de um tempo fora do tempo e da época em que tudo estava de pernas para o ar. Havia vários graus de pernas para o ar, mas o que é certo, é que no dia seguinte apesar da reordem estava tudo outra vez de pernas para o ar. Os dias passam a ser vividos um a um e este é o relato duma vida que a guerra amadureceu antes do tempo. O maboqueiro tem um fruto que eu desconheço, mas que este livro me ensina no seu cheiro. O detalhe da escrita da Dulce é um dos seus pontos fortes, bem como a urgência que transmite ao leitores. O ritmo do livro, também, por ser vivido hora após hora, permite interiorizar os sentimentos da adolescente, dos seus sonhos e até de alguma infantilidade posterior. A autora inicia o seu relato, recuando no passado até onde podia lembrar-se. A necessidade de passar ao leitor factos assinalados e reconhecidos contribui para uma melhor compreensão da narrativa. Transmite, no entanto, rapidamente para o visitante que entra na sua alma uma sensação de reconforto e irmandade. As experiências vividas naquele período da história de Portugal e suas ex-colónias, tem de ser compreendida e reposta aos olhos de todos nós. "Sabor de Maboque" consegue criar um sentimento de insegurança e desespero em que a rapidez do anoitecer é igual à necessidade de ter o amanhã de volta para outro dia ultrapassar. Se no início dos capítulos encontramos uma autora completamente brasileira, com o decorrer do tempo memorizado, o português assume a sua forma tradicional em frases e estilos da escrita. Voltando a ser sabiamente intercalado com o presente, este é um livro que só podia ser escrito pela Dulce Braga e nunca pela Dulce Tavares. A primeira vive hoje em paz e foi nos Braga que encontrou os momentos de tranquilidade para pegar no passado. A pequena Dulce que se preocupava com o Pedro Dias não tinha maturidade para o fazer. A pessoa transformada pela alegria de uma sociedade aberta e cheia de luz, fez dela uma mulher a par do seu tempo e refeita dos seus males escondidos. Esta é a autobiografia de um tempo não perdido mas achado. Parabéns Dulce!

Good Madness a segunda - feira!


Claudio Roditi - Bossa Pra Donato

15/11/09

Pela BR101 (Rio de Janeiro - Santos)

E foi assim que o caminho de regresso se iniciou. Depois de um roadshow de economia, mercados financeiros e gestão de empresas familiares ficaram “as Curvas da Estrada de Santos”. Contrariando quem nos diz que é arriscado viajar de carro no Brasil, parti do Rio de Janeiro para São Paulo pela BR101, percorrendo a famosa estrada de Santos e as curvas da canção. Para melhorar o andamento comprei o CD “Elas cantam Roberto Carlos” que as funcionárias e clientes das Lojas Americanas tão embevecidas ouviam e viam no écran.


(As Curvas da estrada de Santos, Paula Toller)

Primeira paragem na Praia do Frade em Angra dos Reis. Linda paisagem, tempo a condizer e condução apurada. Uma visita a Paraty para beber a cultura local, a cachaça que a acompanha a música e a literatura que a envolve. Uma bonita cidade colonial num dia em que até quem lá mora reclama o calor que se faz sentir. Depois de cinco semanas no Brasil, eu já respondo como a carioca que conheci em Manaus, para mim está tudo jóia!

Paraty,RJ

Segunda paragem em Maresias, seguindo os conselhos de quem já lá esteve. O hotel bem localizado, simpático e perfeito para um mergulho antes da trovoada que já se adivinhava em S. Sebastião. A opção de Ilhabela e dos seus atractivos fica para outra oportunidade, desta vez eu dei um jeito e "arrumei-me" o melhor que pude, substituindo a onça-pintada e o meu acompanhante descendente primata, colocou roupa nova para jantar. A Mata Atlântica tem o senão dos mosquitos que podem dar cabo de qualquer visitante mesmo o que munido daquele aroma a Repelex se prepara para minimizar as consequências.


Surf em Maresias

Terceira paragem em Santos e a mais do que esperada visita ao Edifício da Bolsa Oficial de Café, hoje o Museu dos Cafés do Brasil. Uma bela lição da história do café, dos portugueses que o transacionavam, dos ingleses que implementaram estruturas de caminho de ferro e de negócio, dos imigrantes japoneses e escravos africanos que trabalhavam os campos e dos corretores que o valorizavam em bolsa. "A edificação da sede dos negócios do café em Santos, consolidou a região como a maior praça cafeeira do mundo", segundo reza a sua apresentação em brochura.


Santos, Museu da Bolsa de Café

Daqui até São Paulo foi um pulo, terminando uma extraordinária viagem por terras brasileiras onde a diversidade da paisagem é igual à da sua gente. No bolso trouxe um punhado de areias com tons e coloridos, nos olhos a observação e na mente a reflexão. E como dizia o meu acompanhante, é muito dificil regressar sem algumas angústias e o desejo de que a pobreza diminua ou pelo menos deixe de ser tão desigual. Até breve, Brasil!

12/11/09

“Homem Tijolo” (PP)

(Clicar sobre para ampliar)
O arquitecto dá sempre jeito para fazer arquitectura diz ele, rindo-se de si próprio. A arquitectura é feita de experiências e experimentações e o resultado possível depende da combinação de muitos factores, a começar pela imaginação de quem faz arquitectura e o engenho de quem a executa. Um dia cruzaram-se junto ao elevador do prédio que ambos habitavam. Coincidia a hora da saída de um e a hora de entrada do outro. Era o passeio higiénico e o regresso do atelier. Entre o boa noite e o até amanhã foi o início de uma apresentação agora e uma conversa depois. Um dia estava o condomínio a fazer obras de reparação e benfeitorias do interior, quando o arquitecto e a economista entraram no elevador conversando sobre a cor adoptada para pintar as escadas e a entrada do prédio. E já agora, que tal o vão do elevador e o interior das portas sugeriu um, concordou o outro.
Nas obras nada pior que “o já agora”, é esta frase que dá origem a muitos desvios orçamentais e a grandes dores de cabeça. E este não foi um caso diferente. Ainda hoje quem lá vive pergunta onde se terá inspirado o arquitecto naquela combinação tijolo e azul anilado. O arquitecto e a economista riem da sua primeira obra conjunta, à cor do vestido juntou-se o tijolo da obra, dando início à representação daquela perfeita harmonia de humor.
O Arquitecto PP apresenta agora a sua exposição em que o tijolo é a sua própria cabeça e a obra passa a ser vista como arte. O arquitecto ensinou a economista a procurar outros vultos nas cores e segundo ele, a interessada aprende depressa. O convite para sem pressa apreciar a mostra de trabalhos fica aqui. Por mim, sei que na impossibilidade de estar na inauguração, terei o privilégio duma visita guiada e anilada.

11/11/09

Às escuras no Brasil

Pane em Itaipu causa apagão em nove Estados

09/11/09

Outros sons, outros compassos!

Berlim 1989

Nove de Novembro de 1989, o dia em que Ampelmann atravessou a rua para o lado ocidental. Uma data que muitos não gravaram na memória, como recorda RAA e que o jornalista Pedro Bial, correspondente da TV Globo na Europa na década de 80, considera mais importante que Maio de 68. Uma data que passados vinte anos e de acordo com um estudo da revista Stern, 15% dos alemães ocidentais questionam, reclamam e desejariam o retorno ao passado.

Em Maresias a economia soube a pouco

Com o final da tarde veio o vento e mais tarde a trovoada e a chuva. Esta manhã em Maresias o tempo estava sombrio e a chuva fininha não convidava a praia nem antecipava sol. Da minha varanda vejo o céu a querer abrir, dizem -me que amanhã ou depois teremos outra vez sol. Nessa altura estarei a meio caminho do regresso a Portugal. Terei passado Santos, chegado a São Paulo e passado pela última conferência. E logo logo, o avião que me entregará aos céus do oceano e me levará de regresso a casa. A minha aldeia estará à espera e a chuva miudinha alternada por uns raios de sol e frio será o meu porto de abrigo durante os próximos meses.
Esta manhã, ao olhar pela minha janela sem surfistas e com as ondas a crescerem rumo à areia, pensei que terrível seria podermos tomar conta do mundo, do céu e dos mares e termos a capacidade de controlar o tempo físico, misturando o temporal com o intemporal. E debrucei o meu pensamento sobre o conceito de liberdade e desse bem precioso e escasso. Um bem que não sabemos usar e reutilizar sem querer captar o que não nos pertence. O mesmo bem que é nosso e deixa de o ser e as barreiras que nos limitam o passo e a perna. E a divagação num lugar onde o local tem de se sentir e os pertences pertencem aos locais confundindo poder público com poder político, com utilização dos bens públicos com bens privados, um direito que é e já não é, enquanto houver gente que não sabe. Um bem escasso num país que, frequentemente esquece a escassez dos bens públicos, não os cuidando, não lhes atribuindo valor e onde o poder local é uma usurpação do que é de todos e com direitos e deveres iguais a outros bens económicos. Palavras que são elas próprias escassas para passar palavras de democratização e logo a seguir não confundir economia social com lamechices. Lugares onde a emoção não poderia tomar conta da razão mas onde por vezes não deixamos de o fazer. O menino que vende o que a mãe produz e que, mesmo sabendo, que estamos a alimentar um ciclo de economia paralela é muito difícil dizer não. O homem que partilha sentimentos de compaixão e que com a idade parece ficar mais brando e a querer esquecer a economia de mercado. Pessoas que nunca tiveram opção de escolha e outras que nem sabem do que estamos a falar. Economia e política em paralelo, numa tradição de anos de um e de outro sozinhos, em conjunto num só e onde é difícil explicar as leis de mercado que funcionam com ditadura e não funcionam em democracia e vice-versa. Economia que hoje está em alta tornando um país às avessas do resto do mundo, em expansão em momento de crise, para logo aparecer a pergunta do porquê do país em queda com o mundo em expansão. E as respostas da Europa e da América e da crise financeira e logo a seguir a falta de compreensão das perguntas sem resposta da corrupção. Foi há vinte anos e a Europa fez o que tinha de ser feito, reunificando aquilo que o Muro tinha separado. Para mim, é tempo de voltar ao meu tempo e pensar o meu país, a nossa liberdade, os bens do pensamento, a escrita e o que ainda é necessário para celebrar.