Lembram-se quando a tarefa de ler o jornal era um acto de informação? Ora aí está mais uma coisa que desapareceu do nosso dia a dia. Já tivemos o tempo da desinformação, mas isso era no tempo do PREC. Agora estamos no tempo da falta de tudo. É a crise total!
Se até há bem pouco tempo não passava nada neste meu país, de repente foi assim um ar que lhe deu, uma lufada de vento, eu sei lá, terá sido a crise? Não tarda que estejamos todos cheios da crise e ninguém olhe à crise. Não tarda que a crise esteja uma crise e lá vamos nós ter de encontrar novos encontros imediatos do terceiro grau para descobrir à laia de Orson Welles novas fitas.
Segunda feira, recém saídos do fim de semana e depois de toda a leitura dos jornais semanais, apenas ficou um tema ou um cronista: Vasco Pulido Valente e a crónica sobre os professores. Eu sei que o tema é importante, mas será que VPV é o único com fala neste país? Um pouco de humor faz falta para animar a malta, não acham?
Terça feira a leitura do Jornal Público tem assim num repente títulos e títulos de desanimo. "Rendimento nacional: riqueza que fica em Portugal em queda há nove meses": imagino que só agora tivemos acesso a estatísticas!
"Renault de Cacia e Autoeuropa param produção": um tema mais do previsto e já
aqui falado!
"Idosos após os 50, restam entre 9 e 24 anos de vida saudável": porreiro pá!, dado que já passei os ditos, espero que no meu caso sejam os 24 anos que me tocam!
"Fraudes fiscais correspondem a mais de um terço do total da criminalidade económica": pelo menos levou o governo a inverter o regime de liquidação...
"Crise leva famílias a retirarem idosos dos lares": assunto chato e incómodo este!
"Produtora acusa Paulo Branco de roubar ideia do festival de cinema no Estoril": nem o cinema escapa!
"Notários acreditam que Simplex põe em causa segurança jurídica!: passamos ao complex!
"Siza Vieira recebe prémio nacional de arquitectura pela Biblioteca de Viana": dado o estado da crise já não se é bom ou mau!
E finalmente, no caderno P2 ontem e na última página hoje, uma nota de bons ares não do jornal mas dos cronistas Desidério Murcho e Miguel Gaspar.
O primeiro, com o cerne da questão educativa universitária: a solidez da formação cientifica do professor na qualidade e ensino; a relação do professor com a comunidade escolar, o reconhecimento das carências culturais e educativas do estudante; os exames nacionais rigorosos como forma de avaliar escolas, professores e alunos, e finalmente a exigência de "...professores e responsáveis educativos um domínio cientifico sólido das matérias e uma forte sensibilidade social e didáctica".
O segundo, sobre o papel dos grandes e dos pequenos avaliadores e avaliados. E mais uma vez um ponto fundamental no debate educativo:os pais e os alunos. E só quem não passa há muito tempo pelas escolas é que se esquece deste grande pormenor. É que está tudo invertido no que respeita a ditar regras e quem decide dentro das escolas não é o maior mas sim o menor. Aqui e à laia do cronista é o pequeno (alunos e pais) que dá pontapés no grande (professores).
Miguel Gaspar diz que "o Ministério da Educação tem muito a aprender com o Leixões" e eu, que não percebo nada de futebol, dá-me ideia que ele tem razão e olhem: Acho bem!