Todo o dia de ontem andei a remoer sobre um artigo de Alexandra Lucas Coelho (ALC), aparentemente sem grande relevância para este tema, mas que ao referir a necessidade de conhecer a realidade e a ficção mesmo num outro contexto me deixou a pensar.
A jornalista no seu artigo "Não ficção" publicado nas suas crónicas "Viagens com bolso" menciona três pontos importantes. O primeiro que "a repetição das imagens tira-lhes realidade"; o segundo que "o problema com a ficção é que a realidade existe"; o terceiro "num território esgotado por ficções há um único desenlace real: ir e ver". ALC está descrever o muro, Cisjordânia e Gaza e a forma de vida de milhões de pessoas reais que só quem não viu as ficciona. E é aqui que toda minha análise volta ao início. Será que as políticas e as pessoas se podem separar? E os erros cometidos são remediáveis com outros representantes? E neste caso as campanhas de imagem ao se repetirem tiram-lhes realidade?
Uns dias antes das eleições passadas, um amigo que ainda não tinha visto os outdoors da campanha, exclamou entusiasmado: "Gosto imenso das fotografias com a candidata do Porto. Estão fantásticas!" E eu fiquei a pensar, que na realidade ainda não tinha visto as fotografias, mas apenas a candidata, os lenços e as demais análises ao outdoor estavam filtradas pelo meu enviesamento em relação à pessoa. O meu olho clínico não estava isento e para mim tanto me fazia que fossem bonitas ou feias que não me levariam a votar em quem eu não acredito, porque olhando melhor, o meu amigo tem toda a razão, as fotografias estão fantásticas!
6 comentários:
É uma excelente análise que aqui faz, GJ. Sem dúvida que, não tendo contacto directo com a realidade, a nossa intervenção política se orienta por imagens e ideias pisadas e repisadas que bordejam a ficção. Não é fácil distinguir aquilo em que se pode acreditar. Pela minha parte, escolho em função do que observo e pressinto nas pessoas, porque, apesar de tudo, da cosmética da imagem e da preparação e ensaio do discurso, há sempre sinais que escapam num gesto, num olhar, numa hesitação, num tom de voz. Claro que se houver um historial de actos ou um currículo de suporte que não seja fabricado, melhor. De resto, desconfio de tudo, das palavras e dos vastos recursos manipulativos dos media.
Tenho de ver esses cartazes, GJ. A Elisa Ferreira tem um não sei quê que me é muito agradável.
Quanto a votos: de preferência em ideários; em partidos, a seguir. Nas autárquicas, em pessoas.
Como a minha fraqueza, como diz a GJ, são as mulheres, ao ler o comentário da Luísa (lúcido e assertivo) ao seu texto (de que gostei), fui ver fotos da ALC. O seu amigo tem toda a razão, GJ. ;D
OLá GJ tem lá um prémio no meu estaminé!!!
beijinho
Gostei imenso desta análise-reflexão, GJ! Acho esta questão muito pertinente. Muito provavelmente, a maior parte das vezes, estamos já bastante afastados da realidade-realidade (a efectiva).
Dificilmente separamos as pessoas das opções que fazemos, quando elas nos surgem "coladas" às ideias e aos programas. No entanto, julgo que é preciso fazer alguma distinção. Tal como diz o RAA, primeiro ideários, depois partidos, a seguir, as pessoas (claro, nas autárquicas).
Desejo um óptimo domingo e deixo um beijinho :)
Lady-Bird, já fui dar uma espreitadela fofa.:)
Beijinho.
Ana Paula, penso que o mais correcto é como diz o RAA. No entanto, o que a Luísa aponta sobre a manipulação das campanhas é importante, mesmo nas autárquicas não tenho a certeza que seja fácil votar. A máquina interna é muito pesada e quem ganha herda os dossiers e um conjunto de pessoas de vários partidos e opções, sentadas em lugares estratégicos.
Tentei encontrar os cartazes para colocar aqui em observação, mas não encontrei. RAA, tem de vir ao Porto mesmo não gostando de viajar.;)
Mike, veio á minha aldeia só para ver os cartazes ou também tinha um jantar especial? (risos)
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